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Os dias de João Miller Guerra
As sugestões culturais do cineasta e artista visual para a semana
O primeiro filme a solo de João Miller Guerra, Complô, estreia nos cinemas a 20 de novembro. O realizador revela neste documentário quem é o rapper crioulo e ativista político Bruno Furtado, conhecido como Ghoya. O filme acompanha a gravação do álbum de Ghoya, ao mesmo tempo que conta a sua história de vida, espelhada na dureza das suas letras. Na semana de estreia de Complô, com sessões confirmadas, em Lisboa, nos cinemas Nimas e City Alvalade, o realizador dá as suas sugestões culturais.
Realizador, montador e artista visual, com formação em Design e uma pós-graduação em Pintura, João Miller Guerra nasceu em Lisboa, cidade onde vive e trabalha. O seu percurso profissional está ligado às artes visuais. Formou-se em Design de Equipamento pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa e completou a sua formação académica em Pintura e Artes Plásticas na Ar.Co. Entre 2014 e 2021 foi sócio da produtora de cinema e televisão Uma Pedra no Sapato/Vende-se Filmes. Ao lado da realizadora e produtora, Filipa Reis, realizou mais de uma dezena de documentários. Do percurso da dupla destacam-se a primeira longa-metragem, Djon África, em 2018, e Légua, em 2023, que estreou na Quinzena dos Cineastas de Cannes.
Complô é o primeiro filme que assina a solo. O documentário dá a conhecer a experiência de vida de Ghoya, um afrodescendente português, que Miller percebeu ter a “força de um protagonista” e uma história que era urgente contar. Ghoya, MC de Rap Crioulo, é filho de imigrantes, e essa inevitabilidade fez dele também um imigrante, alguém a quem foi “negado à nascença o direito de ser e se sentir português”. O filme segue os seus passos, a sua música, a sua voz, o percurso de “(…) alguém que viveu em bairros que foram sendo consecutivamente demolidos, fruto de ‘programas especiais de requalificação’. Com um longo passado em estabelecimentos prisionais, Ghoya sabe que a prisão começa no bairro onde se nasce. Este filme e a falta de outros é prova disso.” Complô teve estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Marselha (FIDMarseille). Em outubro, deste ano, foi exibido no Doclisboa, onde recebeu uma Menção Honrosa.

Rocco e os Seus Irmãos, de Luchino Visconti
Disponível na Amazon Video
“Vi recentemente Rocco e os Seus Irmãos. É um clássico do cinema neorrealista italiano. Visconti conta a história de uma família pobre do sul da Itália que tenta sobreviver em Milão. O amor não chega. O filme é belo e brutal e ficou muito comigo essa perda de pureza dos personagens. Recomendo! É um filme sobre o que o progresso também pode trazer às pessoas.”
After Law, de Laurent de Sutter
Editora Polity
“O livro After Law, de Laurent de Sutter, (que infelizmente ainda só existe traduzido para inglês) dá-nos mesmo em que pensar. O livro parte da pergunta: ‘E se a Lei não fosse tão essencial como normalmente se pensa?’ O autor mostra-nos como diferentes culturas pensaram a convivência sem ter que dar sempre prioridade às leis – ‘Depois da Lei, há o direito; depois da Lei há aquilo que a Lei fez esquecer…’ ”
Visita à Casa do Comum no Bairro Alto
“A Casa do Comum no Bairro Alto, um bairro profundamente marcado pela pressão turística, é um espaço de resistência no centro da cidade. É mesmo um ‘refúgio’ da gentrificação galopante que se faz sentir por todo o lado. Para mim, tem uma dimensão cultural e afetiva. É uma casa que consegue manter vivo o significado de ‘comum’.”

Standing Here Wondering Which Way to Go, de Zineb Sedira
Patente até 19 de janeiro na Fundação Calouste Gulbenkian – Centro de Arte Moderna
“Lembrete para mim mesmo: Quero mesmo ir ver a exposição Standing Here Wondering Which Way to Go, da artista franco-argelina Zineb Sedira, no CAM. Através da mistura de vídeos, fotomontagens, objetos pessoais e a própria História, a exposição trata de memórias de libertação da cultura africana dos anos 60/70.”