O coala dorminhoco

Há uma nova cria no Jardim Zoológico

O coala dorminhoco

Nasceu em agosto com menos de 20 milímetros e um grama de peso. Agora, quase com 10 meses de idade, Kilupi, o novo coala do Jardim Zoológico de Lisboa, já se vai aventurando fora das costas e do colo da mãe.

Quando chegamos ao Jardim Zoológico, perto do final da manhã, é abraçada à barriga da mãe que descobrimos a nova cria de coala. Atrás do vidro, em cima de um tronco de árvore, dormem os dois, o pequeno macho de olhos fechados e orelhas para baixo, completamente aninhado naquele colo. Há de explicar Ingrid Evaristo, tratadora dos marsupiais, que os coalas são capazes de descansar quase um dia inteiro (entre 19 a 22 horas!). Por isso, quem quiser vê-los despertos deve planear a visita para perto da uma ou duas da tarde, altura em que é feito o maneio dos animais, limpo o seu espaço e trocadas as folhas de eucalipto que têm para comer.

Façamos, então, as apresentações: Kilupi, que significa “Deus do Eucalipto”, nome que ganhou na votação do público, veio ao mundo a 10 de agosto de 2024, ali no Jardim Zoológico, filho da fêmea Goolara e do macho Gowi. Só em maio, já com 9 meses, se começou a mostrar aos visitantes – porque, como costuma acontecer com os coalas, depois da fecundação e de uma gestação de cerca de 30 dias, nasceu com menos de 20 milímetros e 1 grama de peso. Sem ajuda, migrou instantaneamente para a bolsa marsupial da mãe, procurou um mamilo para se alimentar e foi ali que ficou até começar a fazer alguns movimentos visíveis, ao fim de três ou quatro meses. Aos seis ou sete, deu sinais de querer conhecer o mundo, pondo uma mão, um pé ou a cabeça fora da bolsa. Nessa altura, alimentou-se também de uma papa produzida pela mãe, carregada de bactérias que o prepararam para a toxicidade das folhas de eucalipto.

Hoje, anda nas costas da mãe e quase não procura a bolsa marsupial. Mesmo podendo beber leite materno até aos 12 meses, já se vai satisfazendo com as folhas de eucalipto (são muitas as variedades que o Zoo de Lisboa lhe oferece, todas de origem nacional, para que possa escolher as suas preferidas). “À noite vai saindo do colo da mãe e dá uns pequenos saltos ali à volta, mas sempre próximo dela”, conta Ingrid.

Proteger os coalas

Há dois anos que a tratadora trabalha no Jardim Zoológico de Lisboa, o primeiro na Europa a acolher coalas, há mais de três décadas, e um dos que aposta na conservação desta espécie classificada como vulnerável. Por causa das alterações climáticas e da destruição do seu habitat, o coala foi dado como estando em risco de extinção, uma vez que se alimenta exclusivamente de folhas de eucalipto (é delas que extrai a água que necessita para viver) e existem cada vez menos árvores destas – há que dizer que é também por este ser o seu único alimento que dormem ou descansam tanto, procurando economizar energia. “É uma espécie ameaçada, por isso, sinto como um privilégio este contacto tão íntimo que tenho com eles. A nova geração precisa de perceber a importância de os proteger a eles e ao meio-ambiente”, defende a tratadora.

Kilupi há de ficar por aqui até perto dos dois anos, idade com que atingirá a maturidade sexual e terá de ser separado da mãe. O seu destino será decidido pela rede internacional de jardins zoológicos que acompanha a vida de todos os coalas protegidos e que faz recomendações de transferências entre zoos e de reprodução destes animais, de forma a manter populações saudáveis, com variabilidade genética. Foi assim, aliás, que o macho Gowi veio de França para procriar com a fêmea Goolara, que já aqui vivia. Tirando a fase do acasalamento (previamente estudada e preparada), os dois vivem em zonas separadas no Jardim Zoológico, uma vez que a convivência entre coalas pode tornar-se bastante agressiva.

Por agora, o pequeno macho vai crescendo saudável e já se habituou à interação com os tratadores. “Nem por isso os tratamos como animais domésticos, porque não o são. São animais selvagens e temos de os respeitar como tal e não forçar nada. É preciso sensibilidade para interagir com eles e encarar cada animal como um indivíduo. Revela-se um trabalho minucioso, mas muito gratificante”, afirma Ingrid. Os visitantes ficam do lado de cá do vidro e, mesmo que Kilupi continue indiferente a quem o olha, vale a pena ir dizer-lhe um “olá”.