agenda
Os dias de PZ
As sugestões do músico e produtor para esta semana

No próximo dia 30, PZ vai ao Lux Frágil celebrar duas décadas de música com os fãs alfacinhas. Na ocasião, irá também estrear, em palco, o seu alter ego Joe Zé, que lançou recentemente o álbum Apocalypse Later. Para já, partilha como vai ser a sua semana cultural.
Foi em 2005 que PZ (nome artístico do músico e produtor Paulo Zé Pimenta) editou o seu primeiro disco, Anticorpos. Ao longo destes 20 anos de carreira, o artista do Porto construiu um universo musical com uma linguagem muito própria, que oscila entre o existencial e o absurdo, o íntimo e o irónico. Canções como Croquetes, Cara de Chewbacca, Neura ou, mais recentemente, Pu, são marcadas por uma sonoridade funk, dando destaque à spoken word, à crítica social e ao devaneio doméstico.
O músico lançou ainda os álbuns Rude Sofisticado (2012), Mensagens da Nave-Mãe (2015), Império Auto-Mano (2017), Do Outro Lado (2019), Selfie-Destruction (2021), Vampiro Submarino (2022) (em parceria com os Small Trio), O Fim do Mundo em Cuecas (2023), e o mais recente Apocalypse Later (2024), onde introduz o seu alter ego americano Joe Zé.
PZ fundou também e editora independente Meifumado, onde editou os seus próprios discos, mas também os de artistas como Mind da Gap, Orelha Negra, Conjunto Corona ou We Trust.
Doclisboa – Festival Internacional de Cinema
Até 26 de outubro
Vários locais
“Esta semana recomendo o Doclisboa – um festival de cinema dedicado à vertente documental, que está a decorrer até 26 de outubro, com sessões espalhadas por várias salas da cidade. É uma oportunidade única para explorar o documentário enquanto género – cada vez mais fulcral para percebermos o mundo que nos rodeia, conhecermos o desconhecido e sermos transportados, através de imagens reais, para outras realidades. Muitas vezes, os documentários comprovam a velha máxima onde a realidade supera a ficção.”
O Padrinho (Partes I e II)
De Francis Ford Coppola (1972, 1974)
“Há pouco tempo voltei a ver O Padrinho e O Padrinho Parte II, logo de seguida. E, cada vez que os revejo, gosto cada vez mais. Hoje em dia é muito raro fazerem-se filmes com uma história tão bem contada, com atores perfeitamente escolhidos, uma fotografia incrível, e aquela tensão psicológica entre o bem e o mal. A obra-prima de Francis Ford Copolla. É interessante a nossa ligação com este Padrinho. Mesmo sabendo que ele é um chefe da máfia que elimina sem hesitar quem se atravessa no caminho, nós revemo-nos na sua busca pela identidade através de um código de honra onde a família ocupa sempre o primeiro lugar. Também me fascina o percurso que ele tenta para a sua família — quer sair da Cosa Nostra e infiltrar-se no Senado, limpar o sangue e o nome, mas é sempre puxado pela teia do passado que começou a ser desenhada por Don Corleone na Sicília. Recomendo vivamente rever estes dois clássicos.”
Bitches Brew, de Miles Davis
“Já não ouço há algum tempo, mas sempre que volto, fico arrepiado. Bitches Brew é, para mim, o disco mais fascinante de Miles Davis — uma verdadeira revolução sonora. Lançado em 1970, é um mergulho profundo em explorações psicadélicas que rompem com os standards do jazz tradicional. Além da genialidade de Miles, o disco destaca-se pelo uso de guitarras elétricas e ambientes exóticos que criam uma experiência alucinante. É jazz, mas também é rock, funk, caos controlado — tudo ao mesmo tempo. Um álbum que não se ouve ao longe: entra-se nele. Para quem ainda não conhece, é um dos grandes portais para o jazz mais livre e experimental do século XX.”
A Infantilização da Mente Moderna, de Greg Lukianoff e Jonathan Haidt
Guerra e Paz
“O último livro que li nas férias foi A Infantilização da Mente Moderna, e fiquei completamente agarrado. Escrito por Greg Lukianoff e Jonathan Haidt, é um ensaio provocador sobre como a sociedade – especialmente nos EUA – se tornou excessivamente protetora das crianças e dos jovens, sobretudo no ambiente universitário. Um exemplo marcante é o caso das escolas que começaram a banir frutos secos por completo, mesmo sem saber se os alunos tinham alergias. Estudos mostram que, por não serem expostas, as crianças acabaram por se tornar mais vulneráveis – criando-se, literalmente, uma geração menos resistente. O livro mostra como esta lógica se estende às ideias: para ‘proteger’ os estudantes, muitas universidades passaram a cancelar palestras ou a evitar temas considerados sensíveis, impedindo o confronto saudável entre visões opostas. Isto pode gerar jovens mais frágeis, menos preparados para o mundo real, e contribui para uma polarização cada vez mais extrema. É uma leitura essencial para perceber como o excesso de zelo pode, a longo prazo, prejudicar o próprio desenvolvimento emocional e intelectual de uma geração.”
Monster: The Ed Gein Story
Netflix
“Entre tantas séries que andam por aí nos netflix da vida, destaco uma que me surpreendeu bastante: Monster: The Ed Gein Story. É baseada na história real de um dos serial killers mais perturbadores da história dos EUA — Ed Gein. A série acompanha a vida deste homem profundamente marcado pela dependência da mãe, com quem tinha uma relação doentia. Após a morte dela, começou a desenterrar cadáveres para tentar “reconstituí-la” e acabou por matar várias pessoas, incluindo o próprio irmão. A linha entre psicose e psicopatia na sua história é muito ténue – o que a torna ainda mais desconcertante. O mais interessante é perceber como esta figura inspirou ícones do cinema de terror como Psycho, de Alfred Hitchcock, cuja personagem Norman Bates tem vários paralelismos com Ed Gein. A série faz até um salto para os bastidores de Psycho, revelando o impacto psicológico que o papel teve tanto no ator Anthony Perkins como no próprio Hitchcock. Ed Gein influenciou ainda filmes como O Massacre no Texas e O Silêncio dos Inocentes – tornando-se um arquétipo do monstro. (Aviso já que tem momentos de puro terror).”