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No Beato com Gonçalo Riscado
O gestor cultural guia-nos pelo bairro

A novíssima Casa Capitão promete ser um “mini centro cultural” numa freguesia da cidade onde não abunda a programação regular. Fomos conhecer o projeto com um dos seus diretores, entusiasmado por se juntar aos outros espaços de intervenção artística que fazem a diferença nesta zona de Lisboa.
Gonçalo Riscado sempre quis trabalhar nesta área e, depois de ter tornado realidade muitas das suas ideias e de outros, criou a CTL – Cultural Trend Lisbon, cuja iniciativa mais visível foi, durante quase 19 anos, o Musicbox, no Cais do Sodré, encerrado em setembro, e também o Festival Silêncio. “A gestão e a concretização de projetos de cultura é onde me sinto bem”, diz aos 53 anos, acabado de inaugurar a Casa Capitão. “Já podia estar quieto? Sim, isto é um projeto de alto risco, mas se não o concretizasse não tinha piada nenhuma.”
Casa Capitão – lugar de encontros e revolução
Se algum dia perguntassem a Gonçalo Riscado como seria o seu espaço cultural de sonho, a resposta não deveria andar muito longe da descrição da Casa Capitão, que inaugurou recentemente no número 119 da Rua do Grilo, no Beato. “Às vezes penso que é aquela coisa um bocadinho naif de ‘adorava ter um sítio onde estão todas as coisas de que gosto e todas as pessoas de que gosto’, com música, livros, filmes e muitos encontros”. Após uma remodelação profunda da antiga casa do comandante da Manutenção Militar – onde, durante a pandemia, se fizeram concertos ao ar livre, depois de assinado o contrato de concessão com a Câmara Municipal de Lisboa – foi criado um “mini centro cultural, um sítio de estar, de comunidade, de pensamento crítico, de debate, de encontro e de oportunidades, a partir de diferentes áreas artísticas e com programação regular”, resume Gonçalo, um dos diretores, juntamente com o irmão João Riscado.
“Ao contrário do que se diz, acredito que pode existir um espaço para toda a gente – toda a gente que tem como ponto de ligação a arte e a cultura”, reforça. É esta a ideia por detrás da Casa Capitão, que leva no nome, mais do que uma homenagem, uma carta de intenções. “Viemos ocupar um edifício militar e resolvemos batizá-lo assim, porque se há algo feliz e que nos remete para liberdade e revolução são os Capitães de Abril. Será, assim, um lugar de memória e de defesa da importância de agir sobre essa memória, queremos materializar isso na programação e na intervenção.”
Com atividades de dia e de noite, a Casa Capitão divide-se pelo Rés do Chão, 1.º Andar, Pátio, Sótão e Terraço. Desde a sala de espetáculos que perpetua a herança do Musicbox ao restaurante com uma ementa de sandes em papo-secos cozidos ali e marmitas, todas as zonas se querem flexíveis para receberem concertos, clubbing, conversas, projeções de filmes e tudo o mais que a imaginação ditar, como as iniciativas do Quiosque, que têm nos livros o seu ponto de partida, da Mesa, que olha a gastronomia como prática cultural, ou do Baile, onde a dança toma conta da pista. É entrar sem cerimónias, que a casa está de portas abertas.
Os locais do Beato
Teatro Ibérico
Rua de Xabregas, 54 / T.218 682 531
Há 45 anos que a Igreja do Convento de Xabregas serve de casa ao Teatro Ibérico e ali se têm apresentado muitas peças de teatro, espetáculos de dança e concertos. “É lindíssimo como espaço e mantém um programa interessante. Penso que talvez precisasse de algum investimento na sua estrutura e na sua infraestrutura, mas é de estimar, porque tem, como poucos, uma programação regular no Beato.”
Galeria Filomena Soares
Rua da Manutenção, 80 / T.218 624 122
Inaugurada em 1999, tornou-se uma das galerias mais relevantes de Lisboa e mudou-se entretanto para o Beato. Com mil metros quadrados, mantém um trabalho contínuo com os artistas, que inclui a apresentação e a edição de diferentes projetos culturais. “É uma galeria com bastante atividade. Tem uma programação regular, com os dias de inauguração, exposições e uma série de iniciativas transdisciplinares”, descreve o gestor cultural.
Acredito em Tudo | I Believe in Everything, de Rui Chafes, até 15 de novembro
Galeria Salto
Calçada Dom Gastão, 5A
Uma galeria independente, sem fins lucrativos, “dedicada à experimentação e à promoção de diferentes expressões da arte contemporânea”, assim se define a Salto, vizinha da Casa Capitão. Gonçalo elogia a dinâmica que trouxe ao bairro, desde que ali abriu, em abril de 2022, e as exposições que tem apresentado. “Aconselho uma visita.”
Paulo Serra, exposição individual, 17 de outubro a 22 de novembro
Arroz Estúdios
Av. Infante Dom Henrique, AAFC
“É um espaço que deu uma vida interessante ao Beato, mas que está em risco de fechar por causa da pressão imobiliária. Seria uma pena se isso acontecesse”, defende Gonçalo. “Tem ateliês de artistas e organiza muitas festas de intervenção cultural, acontece ali muita coisa que vale a pena. É ir enquanto é possível”, aconselha.
Vortex
Rua Aquiles Machado, 2C / T.966 557 289
Fica quase nas Olaias, este “espaço DIY em forma de associação” que quer contrariar qualquer lógica comercial. Ali podem acontecer concertos, ensaios, gravações ou outras “atividades culturais conspirativas”, dizem. “Defendo muito os espaços alternativos e os clubes de base. Aconselho a programação do Vortex”, afirma Gonçalo.
Duro de Matar/ East Side Radio
Av. Infante Dom Henrique, 151 / T.913 593 205
Tal como a Casa Capitão, este é um restaurante que chegou ao Beato Innovation District depois do seu antecessor – o Pistola y Corazón – ter fechado no Cais Sodré. Diz Gonçalo Riscado: “É uma taqueria com uma excelente programação de DJ. A comida é boa, tem bons cocktails, uma ótima seleção musical e lá dentro funciona, ainda, a rádio East Side Radio, que emite online e faz um trabalho muito interessante”.