Os livros para as férias

As escolhas da Redação

Os livros para as férias

Se ainda não sabe que livros levar na mala para as férias, nós damos uma ajuda com as sugestões da redação da Agenda Cultural de Lisboa. São nove propostas que vão de "clássicos", como Ramalho Ortigão e Carlo Collodi, a contemporâneos consagrados, como o Nobel da Literatura Kazuo Ishiguro ou o sempre controverso Michel Houllebecq.

Sándor Márai
A Irmã

Livro intenso que aborda grandes questões existenciais como a vida, a morte, o sofrimento ou o amor. A obra centra-se na vida de Z., pianista de renome internacional, que um dia é convidado a dar um concerto em Florença. Durante a viagem de comboio até Itália, o músico sente-se mal, acabando por ser internado no final do espetáculo. É-lhe diagnosticada uma doença viral que lhe provoca dores inimagináveis e que o afastará dos palcos. Durante o longo processo de recuperação, fazemos uma viagem profunda pela sua mente, por vezes presa no delírio provocado pela morfina. Uma voz feminina, que sussurra ao longe, pede-lhe que não morra. Será esta a sua tábua de salvação, que o levará a colocar tudo em causa e que mudará o rumo da sua vida. [Filipa Santos] D. Quixote

João Tordo
Felicidade

Em 1973, quando a Europa se libertava das suas ditaduras e Portugal vivia a promessa da liberdade, um rapaz de 17 anos, filho de um pai conservador e de uma mãe liberal, apaixona-se por Felicidade, uma colega de escola. Felicidade Kopejka é uma de três irmãs gémeas idênticas que são a grande atração do liceu: bonitas, seguras e determinadas, são fonte de desejos e fantasias inalcançáveis. A primeira noite de amor com Felicidade acaba de forma trágica e o jovem cai na rede das manas Kopejka. João Tordo aborda os temas do amor e da morte num romance repleto de ironia e humor e que lhe valeu, em 2021, o Prémio Literário Fernando Namora. [Cristina Engrácia] Companhia das Letras

Édouard Louis
Para acabar de vez com Eddy Bellegueule

Romance autobiográfico de 2014, Para acabar de vez com Eddy Bellegueule revelava ao mundo Édouard Louis, um jovem autor de 19 anos que expunha, numa linguagem desarmante e repleta de verdade, o modo como, durante a infância e o início da adolescência, sobreviveu à violência intrínseca da França rural, na sua Picardia natal. Ao olhar para o jovem Eddy, a criança que não é igual às demais, aquela que fala de uma maneira diferente e que tem um comportamento demasiado feminal aos olhos das gentes da terra, Louis partilha o sofrimento do menino dilacerado pelas constantes humilhações que o levam, muitas vezes, a odiar a pessoa que é. Para além de libelo anti-homofóbico, o romance é um retrato chocante de uma outra França, onde a pobreza e a escassez de oportunidades geram focos de intolerância e preconceito, responsáveis nos últimos anos por alimentar o extremismo de direita. [Frederico Bernardino] Elsinore

Carlo Collodi
Histórias Alegres

Coletânea de oito contos publicados originalmente entre 1883 e 1887, Histórias Alegres revela o apurado sentido de humor de Carlo Collodi, célebre autor de Pinóquio. Estas pequenas obras-primas repletas de mordacidade e imaginação, que aparentam ser escritas para crianças, são, na verdade, lições ou provocações para leitores de todas as idades. Aqueles que gostam de ver o mundo do avesso, os que não se conformam em viver sem rir de si próprios e sem desafiar as imposições sociais vão, decerto, identificar-se com as divertidas personagens imaginadas pelo autor italiano. Os textos de Collodi, que nunca deixou que a infância lhe fugisse, confrontam o universo da meninice com o mundo adulto, numa forma de definir a essência do ser humano com todas as suas forças e fraquezas. [Ana Rita Vaz] E-Primatur

Hans Rosling, Anna Rosling Rönnlund e Ola Rosling
FACTFULNESS / FACTUALIDADES

Se as férias são um bom momento para tranquilamente refletir sobre si próprio e sobre a sua visão do mundo, este livro de Hans Rosling, especialista de saúde internacional e de estatística, pode ser o amigo de que precisa. Há anos que este professor sueco e os seus colaboradores de longa data, Anna e Ola Rosling, se dedicam a combater os preconceitos de que a maioria de nós padece quando pensa na situação do mundo e no futuro da sociedade humana. Através de factos comprovados, bem organizados e explicados de um modo didático e com toques de humor, Rosling tornou-se popular nas suas célebres intervenções nas TED Talks, mostrando-nos como somos muito mais pessimistas e suscetíveis a toldar o nosso raciocínio e senso comum, quando tratamos de opinar e generalizar sobre factos essenciais da vida. [Tomás Collares Pereira] Temas e Debates

Kazuo Ishiguro
Nunca Me Deixes

Uma história de amor e amizade, vivida numa realidade distópica é narrada pela escrita cristalina e inteligente de Kazuo Ishiguro, Prémio Nobel da Literatura em 2017. Considerada uma das suas melhores obras, segue a vida de três jovens amigos, Kathy, Ruth e Tommy, que cresceram juntos num colégio interno, algures na província inglesa. A infância e juventude idílicas no colégio, onde viveram isolados do mundo exterior e se sentem especiais, são o pronúncio de um futuro que desconhecem. Já adulta, Kathy revela finalmente o propósito da educação e proteção que lhes foi concedida. É pela sua voz que conhecemos esta história perturbadora e bela, onde Ishiguro nos comove ao retratar a fragilidade humana. [Ana Figueiredo] Gradiva

Michel Houllebecq
Aniquilação

Nenhuma citação pode resumir uma obra de 640 páginas, mas escolhemos uma que dá ideia precisa de parte do livro e do seu autor: “O Beaujolais era um exemplo da situação, tornada excecional, de uma vida de província ativa, com lojas de pequeno comércio, médicos, táxis, enfermeiras ao domicílio. Devia ser a isto que se assemelhava o mundo de antigamente. Nas últimas décadas, a França transformara-se numa justaposição aleatória de áreas metropolitanas e de desertos rurais, era a mesma coisa um pouco por todo o mundo, com a diferença de que, nos países pobres, as áreas metropolitanas eram megalópoles, e os subúrbios, bairros de lata.” O mundo de antigamente é irrecuperável, e isto constitui uma das aniquilações de que nos fala Houellebecq. A outra é de ordem biológica e tem por resultados a doença e a morte. Mas não se trata de um livro pessimista e muito menos cínico. O amor e a generosidade, que têm aqui os rostos de três mulheres (Prudence, Madeleine e Cécile) redimem a vida na medida do possível. Um livro grande e um grande livro. [Ricardo Gross] Alfaguara

  

Ramalho Ortigão
As praias de Portugal – guia do banhista e do viajante

Publicado pela primeira vez em 1876, As praias de Portugal é um clássico da literatura de viagem em Portugal, com Ramalho Ortigão a apresentar-nos o mais interessante mapa da época balnear do final do século XIX. Ao longo da costa portuguesa, o autor explora as características das praias e zonas envolventes, fazendo um retrato da vida e sociedade de então, num misto de elegância e humor. Da Foz, residência da sua infância, a Leça e Matosinhos, Póvoa de Varzim, Espinho, Ericeira, Nazaré ou Figueira, não podiam faltar as praias do Tejo, como Pedrouços, “mansão oficial da vilegiatura burocrática de Lisboa”. “A praia, como todas as da grande baía do Tejo, é lisa, plana, de areia fina. O mar é tranquilo, sereno como um lago, o melhor dos banhos, na maré enchente, para as crianças fraquinhas, para as mulheres débeis, fatigadas”. Além destas, Ortigão apresenta ainda uma lista de praias obscuras, igualmente adequadas à instalação duma família em uso de banhos. Como diz Francisco Mário Viegas no prefácio, “Em 150 anos mudou tudo, menos o génio patife de Ramalho.” A obra faz parte da coleção Terra Incognita, que, mais do que livros de viagens com um formato especial, reúne títulos e autores que fazem da viagem um modo de conhecimento. [Sara Simões] Quetzal

 

Cesare Pavese
O Belo Verão

O Verão, como sugestão de liberdade e de descoberta, ambienta a passagem da adolescência à idade adulta de Ginia que tem 16 anos, vive com o irmão, e com as amigas anseia pelo amor. Nesse tempo, que “era sempre uma festa”, Ginia aproxima-se de uma jovem mais velha e muito diferente das suas companhias de sempre. Amelia é solitária, sofisticada e posa para pintores com quem se envolve. A curiosidade e o desejo de aventura arrastam Ginia para um mundo novo, onde nem sempre se sente confortável, mas onde experimenta as alegrias e torturas do primeiro amor. Escrito em 1940, este belíssimo romance de Cesare Pavese, foi distinguido, 10 anos depois, com o Prémio Strega, o mais importante galardão literário italiano. [Paula Teixeira] Livros do Brasil