Até dezembro, D. Maria ainda faz festa no Rossio

Programação que antecede o encerramento do Nacional apresentada por Pedro Penim

Até dezembro, D. Maria ainda faz festa no Rossio

Durante todo o ano de 2023, o Teatro Nacional D. Maria II vai estar encerrado ao público devido a obras de renovação e reabilitação do edifício. Até lá, e porque a partir de janeiro começa uma "Odisseia Nacional", ainda será no Rossio que se faz a grande festa do teatro, com espetáculos de Joël Pommerat, Rosana Cade & Ivor MacAskill, Marco Paiva, Romain Beltrão Teule ou do diretor artístico Pedro Penim, que dá o pontapé de saída para a nova temporada com Casa Portuguesa.

Porque, como o próprio faz questão de sublinhar, um diretor artístico não deixa de ser um artista, o espetáculo que abre a Temporada 2022/2023 do Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II) é escrito e encenado por Pedro Penim. Chama-se Casa Portuguesa e traz consigo a habitual marca biográfica que o autor emprega às suas criações.

Desta feita, Penim mergulha no diário de guerra colonial que o pai, Joaquim Penim, escreveu para ser lido por si e pelo irmão e junta-lhe “aquele fado pobre e alegre” que Amália celebrizou, e que dá título ao espetáculo (precisamente, Uma Casa Portuguesa), apologia de um “certo saudosismo estereotipado de uma ideia de país muito ao gosto do salazarismo”. A isto, Penim junta ainda o olhar do filosofo italiano Emanuelle Coccia sobre a “casa” como “espaço ancestral de injustiças, opressões e desigualdades.”

Com estreia marcada para 22 de setembro, Casa Portuguesa conta com interpretações de Carla Maciel, João Lagarto, Sandra Feliciano e a dupla Fado Bicha, que volta a trabalhar com Penim, três anos depois do espetáculo que o Teatro Praga concebeu para os 125 anos do Teatro São Luiz.

O final de semana de reabertura do TNDM II é ainda marcado pelo ciclo Antecipar o Futuro, um programa que dá enfase à “pesquisa e investigação como base de inovação e renovação artística”. Entre instalações, workshops, palestras e concertos, destacam-se dois projetos performativos: Cosmic Phase/Stage, de Ana Libório, Bruno José Silva, Carlos Cardoso e João Estevens (23 de setembro) e Atlântico (título provisório) de Odete (25 de setembro).

“Ça Ira (1) Fin de Louis” de Joël Pommerat ©Elisabeth Carecchio

Em outubro, Marco Paiva parte de uma das peças referenciais de Edward Albee e dirige dois intérpretes surdos (Marta Sales e Tony Weaver) que representam o texto em língua gestual portuguesa. Zoo Story é um espetáculo inclusivo, legendado em Português e com audiodescrição em todas as récitas.

O mês tem ainda como grande protagonista o teatro brasileiro, com um ciclo de leituras encenadas de alguns grandes textos dramatúrgicos da autoria de autores referenciais da língua portuguesa do século XX: Nélson Rodrigues, Adriano Suassuna, Newton Moreno e Leilah Assumpção. A dirigir estas leituras estão Keli Freitas, Carla Bolito, Álvaro Correia e Pedro Penim.

Já em novembro, a portuense Raquel S. estreia a sua mais recente criação, Cadernos de, com a atriz Maria Jorge (de 3 a 13), e o artista franco-brasileiro, radicado em Lisboa, Romain Beltrão Teule volta a apresentar Dobra (dias 26 e 27). Espetáculo em destaque no Festival Temps d’Images, em 2021, Dobra é uma palestra-performance que procura dissecar a palavra “dobrar” em incontáveis contextos.

No último mês do ano, a Companhia Capa Torta, de Filipe Abreu e Miguel Maia, leva ao TNDM II o festim de leituras de textos de teatro Esta Noite Grita-se, com o anuncio, lançamento do livro e sessões de leitura do texto vencedor do concurso literário Prémio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina de 2022 (3 e 4 de dezembro). Na Sala Estúdio, a partir de 8 de dezembro, Paula Diogo apresenta a sua mais recente criação, decorrente de uma residência artística na Islândia, Espelhos e Monstros.

A programação internacional e uma homenagem histórica

Nome incontornável do teatro europeu, com recorrentes passagens pelo Festival de Almada onde apresentou espetáculos absolutamente marcantes, como A reunificação das duas Coreias e Pinocchio, Joël Pommerat volta a Lisboa com um espetáculo histórico: Ça Ira (1) Fin de Louis. Reflexão avassaladora sobre a Revolução Francesa e a marca que deixou na história da luta pela democracia, a peça tem corrido mundo desde 2015 e fará, entre 28 e 30 de outubro, a sua última apresentação, precisamente na Sala Garrett.

Em novembro, há Alkantara Festival e pelo TNDM II, passam dois espetáculos: The Making of Pinocchio, “um espetáculo teatral e cinemático” sobre a ideia de identidade trans da autoria da dupla Cade & MacAskill; e Mascarades, um solo da coreógrafa e bailarina Betty Tchomanga, construído com a simbiose entre a música eletrónica e os ritmos tradicionais africanos.

A 28 de novembro, o TNDM II presta homenagem a uma das suas figuras históricas por ocasião das comemorações dos 80 anos de carreira. O ator Ruy de Carvalho estreou-se em 1942 e, cinco anos depois, subiu pela primeira vez ao palco do TNDM II, integrado na Companhia Rey Colaço/Robles Monteiro. Até 2000, seria ator residente da casa. Por tudo isto, como lembra Pedro Penim, “a celebração da data tem de ser feita aqui, no D. Maria, que será sempre a sua casa.”

Como já fora previamente anunciado, o edifício do Rossio encerra no final do ano para obras de renovação e requalificação ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Enquanto isso, e durante todo o ano de 2023, o TNDM II vai percorrer o país, continente e ilhas,  com a chamada “Odisseia Nacional”. Trata-se, esclarece Penim, “não de uma embaixada lisboeta a percorrer Portugal continental e ilhas”, mas de uma operação que envolve “mais de 90 municípios e as comunidades locais”. Os pormenores de programação serão anunciados em novembro.