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A pedra de Drummond
'Biografia de um poema' no Teatro do Bairro
Em 1928, Carlos Drummond de Andrade escreveu No meio do caminho, um poema que haveria de fazer correr muita tinta e dar azo a intermináveis discussões. Anos depois, o próprio poeta haveria de coligir tudo o que se disse e escreveu sobre “uma pedra no meio do caminho” e lançou Biografia de um poema. António Pires decidiu mergulhar nesse livro tão singular e criou um espetáculo de teatro que vai estar em cena, no Teatro do Bairro, até 8 de outubro.
Quando Carlos Drummond de Andrade fez publicar, na Revista de Antropofagia, o poema No meio do caminho, estaria longe de imaginar que, décadas depois, haveria de sentir a necessidade de fazer a Biografia desse mesmo poema. Em causa, estavam dez versos, contendo 61 palavras, nas quais apenas dez não se repetem, e uma polémica sem paralelo.
Se houve quem enalteceu – como o escritor português Arnaldo Saraiva, que viu no poema um instrumento para “travar o conservadorismo ignorante, contra a inércia burguesa, contra a estupidez instituída” -, muitos atacaram com desdém (os que apelidavam de “poema da pedrinha”), ou em modo anedótico (como aquele que sugeria a Drummond que fosse até à sua cidade visitar as muitas obras públicas em curso e encontrar um sem-número de pedras no caminho). Certo é que, No meio do caminho é o mais simbólico poema do modernismo brasileiro, e eternizou Carlos Drummond de Andrade.
É todo um manancial de histórias, pareceres, comentários e variações do próprio poema que António Pires transporta para este novo espetáculo. Em palco, o encenador reúne à atriz Rita Loureiro, os atores brasileiros Cassiano Carneiro e Chico Diaz, e constrói uma irresistível comédia, repleta de ironia e provocação que faz pensar “como a arte pode mexer com a vida das pessoas.”