Os dias de Vânia Doutel Vaz

As sugestões da bailarina e coreógrafa para esta semana

Os dias de Vânia Doutel Vaz

Um livro, um workshop, um festival, dois filmes, uma festa e três passeios. Vânia Doutel Vaz, intérprete e criadora de dança, revela-nos a sua agenda cultural desta semana.

É entre os dois lados do rio Tejo que Vânia Doutel Vaz costuma passar os dias. No final deste mês, a bailarina e coreógrafa vai estar em residência na Casa da Dança, em Almada, e abre as portas ao público do Alkantara Festival, no dia 30, para partilhar o processo de criação de violetas, o seu primeiro espetáculo de grupo que será estreado na edição do próximo ano. Neste Portas Abertas, mostra um pouco daquela que descreve como “uma peça íntima de dança onde se existe e resiste num ambiente minimalista”. Escreve: “Aqui o corpo que dança é único e suficiente. violetas – que dispensa música, cenário ou luz – joga com a expectativa e com a perceção. Instalada na penumbra, cria universos múltiplos, de maleabilidade, complexidade e subjetividade. Propõe uma reflexão sobre o que projetamos e o que pressupomos”.

 

Lançamento de Pornland, de Gail Dines

11 novembro, 19h
Livraria Travessa

A jornalista e ativista brasileira Yasmin Morais apresenta em Lisboa a edição brasileira do livro Pornland, de Gail Dines, que fala do impacto da pornografia no fortalecimento de uma cultura que normaliza a misoginia e a exploração sexual, pela forma como trata e objetifica as mulheres. Para Vânia, será uma conversa a não perder. “Não conheço a escritora nem quem vai apresentar o livro, mas este é um tema muito atual e que me interessa”, nota, acrescentando que ultimamente tem lido bastante. “Penso que é a minha fase mais ativa de leitura, mas a maior parte dos livros que tenho escolhido são em inglês, por isso sugiro este que ainda não li. Além disso, adoro a livraria Travessa, encontro lá muitas traduções para português de livros que quero ler e chegam primeiro ao Brasil.”

Caminhanti é Caminho / Caminho di caminhante

12 novembro, 10h às 17h30
Culturgest

Este é um workshop em cuja preparação Vânia começou por estar envolvida, mas de que acabou por se afastar por incompatibilidade de agenda. Organizado pela UNA – União Negra das Artes, associação da qual faz parte, leva o subtítulo de Rotas de Cuidado na Prática das Artes Performativas em Portugal. “Tem como propósito a criação de um manual antirracista, que oriente as instituições no sentido de se evitarem situações constrangedoras de discriminação e interações desconfortáveis, usando a experiência de todas as pessoas. Mais do que um lugar acusatório, queremos que seja uma tentativa de diálogo, para aprendermos com todas as pessoas e para impactarmos todas as pessoas”, explica. Dirigido a profissionais das artes performativas, requer candidatura prévia.

Festival A(r)tivismo

Festival A(r)tivismo

Até 1 dezembro
Avenidas

No mês da Consciência Negra, celebrado em novembro, Vânia destaca a programação do Avenidas – Um Teatro em Cada Bairro, que organiza a segunda edição do Festival A(r)tivismo. Exposições, filmes e documentários, concertos, conversas e debates, oficinas, leituras, um mercado e um magusto compõem uma programação que se quer dedicada “ao ativismo representado nas várias formas de expressão artística”, na promoção da igualdade e diversidade e dos direitos humanos enquanto direitos fundamentais. “Uma programação cheia.”

Estamos No Ar, de Diogo Costa Amarante

Emília Perez, de Jacques Audiard

Já em cartaz / estreia 14 novembro

São dois os filmes aconselhados por Vânia, ainda mesmo de ver qualquer um deles – certo é que os trailers a convenceram. “Fiquei com muita vontade de ver ambos. Estamos No Ar começou por me chamar a atenção porque entra o Romeu Runa, meu amigo, e pareceu-me ‘meio Almodóvar’, com crises identitárias, de género e de sexualidade, meio absurdo, sobre a essência humana de estarmos mal mas arranjarmos sempre espaço para uma reflexão sobre o que é estar vivo”, descreve. Em relação ao musical Emília Perez, que deu que falar no Festival de Cinema de Cannes pela história de uma narcotraficante transsexual, a bailarina conta: “Quando vi as imagens, aquilo pareceu-me uma dança, parecia que todos os movimentos estavam coreografados. Fui ver a ficha artística e descobri que a coreografia é de um amigo meu, Damien Jalet. Vou querer muito ver. Pareceu-me hiper-realista e gosto disso”. A bailarina acrescenta ainda uma sugestão: ir vê-los ao Cinema Ideal, a sua sala favorita em Lisboa.

Roda de Samba do Coletivo Gira

15 novembro, 20h às 24h
Casa da Gira

É um dos programas habituais de Vânia: as noites de Roda de Samba do Coletivo Gira, formado por mulheres multi-instrumentistas brasileiras que vivem em Lisboa e lutam por uma maior representatividade feminina dentro do samba, resgatando os clássicos do género musical e dando-lhes um novo olhar. “Tem sido sempre muito bom. A coisa mais linda é estar toda a gente a cantar e estarmos ali a tentar apanhar a letra, é muito forte.” A noite de 15 de novembro tem como pessoa convidada Didi, dj e artista transdisciplinar, ativista em questões relacionadas com a negritude, as comunidades LGBTQI e os movimentos anti-racistas.

Passeios African Lisbon Tour e Bairro Árabe

Qualquer dia / todas as sextas-feiras

“Nunca fiz uma nem outra, mas tenho muita curiosidade”, diz Vânia. “A African Lisbon Tour é feita de tuk tuk, na Baixa, e tem como foco a história africana da cidade, contam-se coisas que não são faladas em lugar nenhum, nem nas escolas nem nos livros. Também a existência árabe neste território me interessa muito. Fiz uma caminhada semelhante no Porto, uma vez, e gostei de ver outras coisas que não as que encontramos nos livros.” Marcações prévias aqui e aqui.

Travessia de barco Lisboa – Almada

Todos os dias

“Como orgulhosa ‘margem sulense’ que sou, recomendo uma travessia no Cacilheiro para ver Lisboa deste lado. O catamaran tem uma janela muito longa em que se consegue ver a cidade e foi ali que descobri finalmente o sentido daquela frase de que diz ‘Lisboa a flutuar’. Nunca tinha visto essa imagem até andar de catamaran. Vê-se Lisboa inteira, parece um museu quase!”