A ameaça de um material ‘imprescindível’

'Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo' no MAAT

A ameaça de um material ‘imprescindível’

Se é verdade que o plástico está um pouco por toda a parte – basta olharmos à nossa volta -, não é menos verdade que se trata de um material muito pouco sustentável. Plástico: Reconstruir o Nosso Mundo, a nova exposição do MAAT- Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, mostra a ascensão inigualável dos plásticos, a sua extraordinária popularidade e a perceção crescente do seu poder destrutivo. Mas, acima de tudo, lança o apelo à ação em tempos de crise climática global.

Os plásticos foram, e continuam a ser, importantes em áreas como a alimentação, a medicina, a indústria aeroespacial e a construção. Mas, afinal, de que falamos quando falamos de plástico? Nome genérico que damos a um universo de produtos sintéticos complexos, o plástico é um material revolucionário e profundamente controverso; imprescindível, é igualmente supérfluo, letal e muito perigoso. Esta exposição, uma coprodução do MAAT com o Vitra Design Museum e o V&A Dundee, analisa este material artificial com mais de um século e meio de história, bem como a espantosa – ainda que preocupante – narrativa da sua invenção e disseminação.

Com curadoria de Jochen Eisenbrand e Anna-Mea Hoffmann, do Vitra Design Museum (Alemanha); de Charlotte Hale e Laurie Bassam, do Victoria & Albert Museum Dundee, (Escócia), e de Anniina Koivu, do MAAT, e com consultadoria de Johanna Agerman Ross e Corinna Gardner, do Victoria & Albert de Londres, a mostra reúne 400 objetos que contam a história do plástico e a sua evolução, não só traça a trajetória exponencial da importância que este material assumiu na sociedade moderna e pós-industrializada, como equaciona o papel desempenhado pelo design ao longo deste percurso.

© Joana Linda

Dividida em três secções, a exposição abre com uma instalação videográfica sobre a relação geológica entre o plástico e natureza. Aqui, mostra-se todo o ciclo deste material presente em quase todos os aspetos da nossa vida, até se transformar em microplástico e invadir as partes mais recessas do ser humano.

A segunda secção percorre a história do plástico desde a sua origem natural até à experimentação com materiais sintéticos de meados do século XIX e início do século XX, prosseguindo depois com o crescimento da indústria petroquímica, o seu impacto na escala de produção do plástico e a crescente preocupação com o planeta a partir de finais do século XX.

Alternativa a materiais naturais

Antes do aparecimento do plástico, usava-se marfim, borracha, chifres, conchas de tartarugas ou goma-laca. A questão é que era necessário abater um milhão de árvores por cada 20 quilómetros de cabo. “O plástico foi inventado e criado como alternativa a materiais naturais”, começa por esclarecer Anninna Koivu. Para a curadora, parte da solução do problema do plástico passa pelo papel do design neste círculo vicioso. “O papel do designer é extremamente importante. O designer normalmente consegue ver o panorama mais alargado porque se encontra entre a indústria, a produção e o consumidor”, diz.

Conceber objetos que sejam restauráveis, modulares e que possam ser desmantelados para serem descartados ou apenas para reparar um elemento em vez de a peça inteira são algumas das preocupações que devem ser implementadas por quem cria peças utilitárias.

© Joana Linda

Sabia que, desde 1970 até hoje, a produção anual de plástico a nível mundial aumentou oito vezes, atingindo os 400 milhões de toneladas? Estes dados são passados na terceira e última secção da exposição, que faz um balanço dos atuais esforços para repensar o plástico, desenvolver alternativas, reduzir a sua produção e consumo e promover a sua reutilização.

Ali é mostrada, através de gráficos, a nossa dependência do plástico. Ainda assim, Anniina Koivu acredita não se poder demonizar a indústria. “Ela também tem pensado em alternativas. O consumidor pode ser mais exigente, o designer pode ter mais atenção”, acrescenta.

“Plástico de qualidade continua a ser fantástico. Se o usarmos no que realmente faz sentido e onde não há alternativas melhores, como nos cuidados de saúde, é fantástico. Mas temos de ter cuidado para não o usar apenas como o caminho mais fácil para tudo”, conclui Koivu.

Apesar de reconhecer que não há uma solução imediata e única para o problema, a curadora espera que esta exposição possa pôr o visitante a pensar sobre este material tão presente no nosso quotidiano e sobre o valor que lhe damos.