Juventude em marcha

Em mês de Santos Populares fomos conhecer as marchas infantis de Lisboa

Juventude em marcha

Passados precisos 90 anos sobre o primeiro desfile das marchas populares, lisboetas dos 8 aos 80 continuam determinados a reivindicar o seu bairrismo numa acesa competição pelo título de melhor marcha. Porém, à margem do despique, em noite de Santo António, no desfile da Avenida da Liberdade, vão estar este ano duas marchas infantis: para além da habitual e histórica Marcha Infantil d'A Voz do Operário, pela primeira vez, a Câmara Municipal de Lisboa apresenta a Marcha das Escolas de Lisboa. São estes dois projetos destinados aos mais jovens marchantes da cidade que fomos descobrir, sempre guiados pela alegria estampada nos rostos de algumas das crianças que os protagonizam.

Uma noite de Santo António sem arraiais, sardinhas e marchas populares até pode ser divertida, mas jamais genuinamente alfacinha. Depois de dois anos marcados pelos constrangimentos da pandemia, com as comemorações impedidas de sair à rua, a noite mais longa do ano para os lisboetas está de volta em todo o seu esplendor e, para além dos arraiais e da sardinha assada, no regresso à Avenida da Liberdade, vão estar as marchas populares. Este ano, pela primeira vez, duas marchas infantis, simultaneamente dois projetos completamente distintos, vão desfilar no grande palco.

A Marcha Infantil das Escolas de Lisboa

Desde meados dos anos 90 do século passado que, paralelamente, às convencionais marchas populares, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) organiza, em articulação com as escolas e as juntas de freguesia de toda a cidade, as Marchas Infantis. Este ano, pela primeira vez, um par de crianças representante de cada uma dessas marchas vai formar a Marcha Infantil das Escolas de Lisboa, projeto que a EGEAC desafiou a integrar o grande desfile da noite de Santo António, na Avenida da Liberdade.

Ensaiados por Cristina Coelho, que desde a primeira edição das Marchas Infantis de Lisboa acompanha o projeto do Pelouro da Educação da CML, os jovens das escolas da cidade juntam-se agora nesta marcha conjunta que valoriza ainda mais uma participação “que os miúdos tanto adoram, porque associa toda a componente artística, a dança e a música, ao sentimento de pertença que nutrem pela sua escola ou pelo seu bairro”. Como lhe confessou outrora uma dessas crianças, “as marchas fazem-me amar a minha cidade.”

Para os coordenadores do projeto, Jorge Alves e Sónia Nunes, “mais do que o bairrismo”, as marchas infantis são uma iniciativa que contribui “para a preservação do património popular da cidade”. E não deixa de ser interessante observar como o projeto, embora tenha sido abandonado durante alguns anos, tenha deixado lastro, já que “muitos daqueles que hoje integram as marchas populares começaram, precisamente, nas marchas infantis de Lisboa”.

“Aqui lançamos a semente”, lembra Cristina Coelho ao sublinhar a importância das marchas, manifestação tão representativa “da identidade e da diversidade” de cada bairro numa cidade cosmopolita como Lisboa. Serão elas, com os seus cerca de 700 jovens oriundos das 24 freguesias, que vão encher de cor e alegria o Parque da Quinta das Conchas no desfile das Marchas Infantis de Lisboa, a 18 de junho, e entoar o tema original Somos Filhos de Lisboa, com letra de Natália Teles e música de Fernando Gomes dos Santos.

A Marcha Infantil d’A Voz do Operário

O tempo corre incessante na Voz do Operário. Dois anos depois da última vez em que a Marcha desfilou na Avenida, costureiras, figurinistas, músicos e alguns professores da escola não têm mãos a medir para o regresso triunfal dos jovens marchantes. É com um enorme entusiasmo que a ensaiadora Sofia Cruz, também ela marchante em São Vicente, explica que, embora a Marcha Infantil d’A Voz do Operário não seja obrigada a acompanhar o tema estipulado pela EGEAC para o desfile, a instituição inspirou-se “nas crianças e o Fado”, já que o desfile decorrerá sob a égide do centenário de Amália Rodrigues, temática recuperada de 2020.

À semelhança das marchas dos graúdos, na Voz do Operário tudo é levado muito a sério e todos os elementos, dos arcos aos balões, passando pelos figurinos e outros adereços, são mantidos no maior secretismo. Embora a Marcha não esteja a concurso, a surpresa faz parte da grande festa. “Os trabalhos da Marcha começam por volta de fevereiros e a três dias das férias da Páscoa iniciam-se os ensaios com as crianças”, refere Sofia.

Ao contrário daquilo que é norma desde 1988, ano em que a atividade da Marcha Infantil da Voz do Operário se iniciou, nesta edição, e ainda devido à pandemia, a Voz do Operário decidiu limitar a participação na Marcha a apenas 60 alunos da escola. “Criámos uma bolha como medida excecional, porque habitualmente a Marcha é aberta a todas as crianças da cidade. Em 2019 tivemos 92 participantes.”

Embora os principais segredos fiquem por desvendar até 3 de junho, dia em que a Marcha Infantil da Voz do Operário abre o desfile das marchas populares de Lisboa na Altice Arena, à semelhança do que sucederá, dias depois na Avenida da Liberdade, Sofia Cruz anuncia-nos que o tema musical original deste ano chama-se Oh que Fado, ser moderno, tem letra de Ricardo Dias e música de Carlos Alberto Vidal, o famoso criador do Avô Cantigas.

A Agenda Cultural de Lisboa agradece a participação nesta reportagem do Gonçalo, da Luena,  do Alexandre, da Lara, do Flávio, da  Maria Laura, da Lia, do Nélson, da Leonor e do Afonso, crianças que integram a Marcha das Escolas de Lisboa; e da Maria, da Carlota, do Manuel, do Kavin, do Rythm, do João, da Laura e da Margarida, todos jovens marchantes da Marcha Infantil da Voz do Operário.