Os livros de abril

Quatro sugestões de leitura

Os livros de abril

Em abril, águas mil, diz o ditado popular. Faça chuva ou faça sol, os livros são sempre uma excelente companhia. Conheça as nossas sugestões de leitura para este mês.

Cidadãos

Simon Schama

Assim que Simon Schama, professor de História da Arte e de História na Universidade de Colúmbia, abordou por alto com os seus editores americanos a ideia deste livro, um deles reagiu de imediato: “Mas será que o mundo necessita de outro livro sobre a Revolução Francesa?” Na verdade, Cidadãos veio contrariar a ideia geral sobre a Revolução Francesa. O autor afirma que, em certos aspetos, a força da fúria revolucionária não foi modernizadora mas contra a modernização da economia francesa durante a monarquia, que o Antigo Regime era na realidade inovador (mostrando embora uma indiferença brutal para com os desfavorecidos) e que a cultura patriótica de cidadania nasceu nas décadas que se seguiram à Guerra dos Sete Anos, apresentando-se mais como uma causa e menos como um produto da Revolução Francesa. O resultado foi uma obra polémica, objeto de críticas à esquerda e à direita, um sucesso comercial na Grã-Bretanha e nos Estado Unidos da América, mas que à data de publicação não foi traduzida para o francês. Dizem que, mais de 30 anos depois, estas páginas “ainda ferram e queimam”. O melhor elogio possível a uma obra sobre a Revolução Francesa. [Luís Almeida d’Eça] Bookbuilders

O Imoralista

André Guide

Este livro podia ter por subtítulo “a confissão de Michel” embora, em bom rigor, o relato não seja na primeira pessoa, embora corresponda ao de alguém que o escutara na origem e que o reproduz com absoluta fidelidade, e segundo uma convenção que o leitor recebe como se também lá tivesse estado para ouvir a confidência do protagonista. Michel é como que um alter-ego de André Gide (Prémio Nobel da Literatura em 1947) que o escritor usa para falar de si e manifestar o imperativo ético de alguém que buscou uma moral apenas sua, liberta de qualquer lei, dever ou conformismo. Usando de uma escrita clássica, onde a beleza e a clareza das frases iluminam as inquietações fundas de um espírito que se debatia com a rigidez de uma educação calvinista herdada da família, Gide relata o renascimento de Michel (após longa doença) e o despertar da sua sensibilidade para a beleza mais crua do mundo que existia fora do seu meio e daquilo que possuía. Um livro extraordinário, numa tradução imaculada da responsabilidade de Diogo Paiva. [Ricardo Gross] Cavalo de Ferro

Daqui a Nada

Rodrigo Guedes de Carvalho

O Presidente John Fitzgerald Kennedy é assassinado e a tragédia passa na televisão. Nesse momento, Marta está em trabalho de parto, acompanhada pela tia e pela mãe. Pedro não está com elas e Rita solta o seu primeiro berro enquanto, na televisão, um homem morre. 30 anos depois da primeira publicação, a D. Quixote volta a editar Daqui a Nada, romance de estreia do jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, que com esta obra venceu o Prémio Jovens Talentos da ONU. Tendo a praia da Apúlia e o Porto como cenários principais, esta é uma história de duas gerações marcada pela Guerra de África, mas também pelas “guerras” com as quais todos nos debatemos. Uma história de solidão, de amores desencontrados, de pais que não souberam ser pais, mas que também não souberam ser filhos, num perpetuar de dúvidas e porquês que desembocam na conclusão de que “não se deve deixar para amanhã”. Dom Quixote

Ofuscante – a asa esquerda

Mircea Cărtărescu

Era no escuro do seu quarto, enquanto da janela observava o frémito da Bucareste notívaga, que Mircea se sentia verdadeiramente ele próprio. Era também aqui que as interrogações se sucediam e ele se deixava levar “pelo continuum realidade-alucinação-sonho”. “A minha memória é a metamorfose da minha vida, o insecto adulto cuja larva é a minha vida. E sem um mergulho corajoso no abismo de leite que a envolve e esconde na crisálida da mente, nunca saberei se existi, se sou louva-a-deus voraz, aranha fantasiadora em andas intermináveis ou borboleta de beleza sobrenatural.” Primeiro livro de uma trilogia de romances de leitura autónoma de Mircea Cărtărescu, considerado o escritor romeno mais importante da atualidade, Ofuscante é um mundo de paranoia, devaneios e sonhos, que cruza histórias verídicas com outras fruto da imaginação, numa metamorfose constante, em que a cada virar de página somos surpreendidos com um novo enredo. “É possível que no âmago deste livro não haja outra coisa senão um grito amarelo, ofuscante, apocalíptico.” A descobrir! E-Primatur