Arte contemporânea em Lisboa

Manter viva a produção artística na cidade

Arte contemporânea em Lisboa

A arte contemporânea tem uma forte presença em Lisboa, muito graças aos espaços que se dedicam a mostrá-la e que contribuem para a vida cultural da cidade. Galerias, fundações, associações e outras instituições asseguram que os artistas, sejam portugueses ou estrangeiros, emergentes ou consagrados, encontram um lugar onde expor os seus trabalhos para se darem a ver e a conhecer, garantindo, assim, que a produção artística continua viva.

A Agenda Cultural de Lisboa esteve à conversa com responsáveis por cinco galerias – das mais clássicas às mais alternativas -, por uma associação e por uma instituição, que nos falam dos seus espaços e da relação que estabelecem com os artistas que promovem.

Galeria de São Mamede: Rua da Escola Politécnica, 167 | 213 973 255 | www.saomamede.com | Segunda a sexta-feira, das 11h às 20h, sábado, das 11h às 19h

Francisco Pereira Coutinho

Galeria de São Mamede

A Galeria de São Mamede abriu portas há 53 anos, pela mão de Francisco Pereira Coutinho (pai). Por ali passaram, entretanto, praticamente todos os nomes da pintura moderna e, sobretudo, contemporânea portuguesa, como Maria Helena Vieira da Silva, tendo também contado com exposições pontuais de artistas estrangeiros, como o grupo COBRA.

Atualmente, o responsável pela galeria é Francisco Pereira Coutinho (filho), que considera o serviço destes espaços como “fundamental para levar a arte contemporânea às pessoas. É, sobretudo, nas galerias que se podem ver coisas novas, trabalhos interessantes que vão aparecendo. E elas servem também para ajudar a lançar novos artistas, para quem é muito difícil chegar a um museu”, acrescenta.

“Aqui na São Mamede expomos obras de artistas históricos, que sempre trabalharam com a galeria, como o Nadir Afonso ou o Cruzeiro Seixas, por exemplo, mas também expomos artistas novos, que temos procurado lançar e acompanhar”, diz o galerista. “Além disso, a par da pintura, também apostamos muito na escultura. Devemos ser a galeria de Lisboa com mais escultura. Penso que, dentro do modernismo e da contemporaneidade, somos uma galeria mais clássica, sediada num espaço de grande beleza que impressiona todos os que a visitam”.

Galeria 111: Rua Dr. João Soares, 5B | 217 977 418 | www.111.pt | Terça a sábado, das 10h às 19h

Arlete Silva

Galeria 111

Fundada em 1963 por Manuel de Brito, começou a sua atividade como uma livraria onde se realizavam encontros regulares com artistas emergentes. Arlete Silva, que ficou responsável pela Galeria após o falecimento do marido, em 2005, recorda que “aqueles eram tempos muito duros, onde se vivia uma grande repressão salazarista, mas, ainda assim, muito estimulantes”.

A Galeria 111 foi, na altura, “uma lufada de ar fresco, pois não havia mais nenhuma de portas abertas na cidade”, recorda. “No início, apesar de a Galeria não vender nada, tornou-se um foco de interesse para a comunidade. Era um local de encontros, tanto de artistas como de críticos de arte. Além disso, acabava por ser responsável pela formação de públicos ligados à universidade”, adianta Arlete Silva.

“Também desde cedo tivemos a preocupação de apoiar jovens artistas. Mas, a grande mais-valia da 111 é o facto de não ser apenas uma galeria. Temos uma grande coleção, é certo, mas temos também um arquivo inacreditável, não só dos artistas que passaram por aqui, mas também com as assinaturas dos jornais e revistas que fomos fazendo ao longo do tempo e que tem servido de base documental a várias teses académicas”, salienta Arlete, para quem a 111 é uma galeria “um bocadinho fora do baralho”.

Carlos Carvalho Arte Contemporânea: Rua Joly Braga Santos, Lote F – r/c | 217 261 831 | www.carloscarvalho-ac.com | Segunda a sexta, das 10h às 19h30, sábado, das 12h às 19h30

Carlos Carvalho

Carlos Carvalho Arte Contemporânea

“Ser galerista é uma atividade comercial e cultural. Nunca podemos deixar de vincar que tem essas duas vertentes”, começa Carlos Carvalho, diretor da Carlos Carvalho Arte Contemporânea que, ao longo de 15 anos, tem focado o seu trabalho no apoio e divulgação, não apenas de uma bem-sucedida geração de jovens artistas, mas também de artistas já consagrados.

“Contribuir para a cidade e para o país com grandes exposições, apresentando novos artistas e trazendo artistas internacionais a Lisboa é o nosso principal objetivo como galeria”, acrescenta. “Gostamos muito de trabalhar com artistas de várias nacionalidades, assim como também gostamos muito de descobrir novos valores e apoiá-los; mas apoiá-los de maneira substantiva, não só apresentando exposições individuais dos seus trabalhos, mas também publicando livros de artista, e levando-os a feiras internacionais, porque é nesse fórum internacional que podemos ver os nossos artistas em confronto com outros”, adianta.

“Importa salientar que a vertente comercial também é de extrema importância para uma galeria, uma vez que, sem ela, não poderíamos subsistir. Mas também é importante frisar que o nosso trabalho não é apenas uma troca de dinheiros: há muito mais em jogo, nomeadamente a relação que temos com os artistas com quem trabalhamos”, conclui.

Galeria Vera Cortês: Rua João Saraiva, 16, 1º | 213 950 177 | www.veracortes.com | Terça a sexta, das 14h às 19h, sábado, das 10h às 13h e
das 14h às 19h

Vera Cortês

Galeria Vera Cortês

A Galeria Vera Cortês abriu há exatamente 18 anos, pela mão de Vera Cortês. Tendo começado por ser uma agência dedicada a projetos específicos de artistas emergentes, Vera decidiu expandir o programa e criar uma galeria de forma a estabelecer uma colaboração duradoura e contínua com cada artista.

Até porque, como a galerista faz questão de sublinhar, “os artistas são, de facto, o mais importante nesta equação. Sem eles, não haveria galerias. Aqui na Vera Cortês acreditamos que pomos à disposição da cidade, do público e do mundo – quando vamos para fora -, uma oferta cultural que é, na minha opinião, uma visão de olhar para o mundo, para coisas tão básicas como a vida, a morte, a cidade, a geometria ou a paisagem,
porque é isso que os artistas fazem. E eu quero acreditar que a nossa galeria teve a sua quota-parte na divulgação da arte contemporânea portuguesa no mundo. Pelo menos eu esforcei-me para isso e, por isso, desde o início, sempre tivemos a ideia da internacionalização, de fazer feiras no estrangeiro”, acrescenta.

Sem nunca descurar a importância da relação que se desenvolve com o artista, Vera Cortês considera que a sua galeria tem “um grupo muito estável de artistas”. “Há artistas que trabalham comigo desde o dia 1. Por isso digo que é importante criar essa relação. Quando assim é, há sempre uma compreensão e uma tentativa de ver o que se pode fazer melhor”, conclui.

Underdogs Gallery: Rua Fernando Palha, Armazém 56 | 218 680 462 | www.under-dogs.net | Terça a sábado, das 14h às 19h

Pauline Foessel

Underdogs Gallery

A Underdogs é uma plataforma cultural fundada por Alexandre Farto e Pauline Foessel que trabalha com um leque diversificado de artistas portugueses e internacionais ligados ao universo da arte contemporânea de inspiração urbana, fomentando o desenvolvimento de relações estreitas entre os criadores, o público e a cidade.

Para Pauline, a Underdogs preocupa-se em “dar aos seus artistas os meios para poderem trabalhar. Quando se é artista emergente e se tem ideias, mas não se tem meios para dar corpo a essas ideias, nós podemos dar-lhe isso. Por vezes é apenas dinheiro, mas faz toda a diferença”, sublinha a cofundadora.

Acreditando que o papel de uma galeria “é dar o seu melhor para ajudar os artistas a vender os seus trabalhos e a encontrar a melhor forma de os mostrar”, Pauline frisa a importância de se repensar este tema: “Atualmente, com as redes sociais, muito artistas têm acesso direto ao seu público e, por isso, conseguem divulgar bem os seus trabalhos. Agora, o nosso papel é pensar em formas de continuar a valorizar o artista, tentar encontrar colaborações e novas oportunidades para eles através de instituições, por exemplo, a que os artistas não têm acesso direto”.

Mas Pauline vai ainda mais longe: “Para mim, é muito mais importante acompanhar o artista, vê-lo crescer e desenvolver-se, do que divulgar o seu trabalho ou vender as suas obras”.

Zaratan – Arte Contemporânea: Rua de São Bento 432 | 965 218 382 | www.zaratan.pt | Quinta a domingo, das 16h às 20h

José Chaves e Gemma Noris

Zaratan – Arte Contemporânea

A Zaratan, fundada há sete anos por um grupo de artistas, funciona como uma estrutura de criação, produção e disseminação da arte contemporânea em Lisboa.

“Devido à ausência de espaços na cidade para que os novos artistas pudessem iniciar a sua carreira, e de forma a dar-lhes a possibilidade de fazerem as suas primeiras exposições individuais ou coletivas, decidimos abrir a Zaratan”, explica José, um dos fundadores.

“Foi muito claro para nós, logo desde o início, que não queríamos ser apenas uma galeria, mas sim um espaço multidisciplinar. Aqui, para além das exposições, também organizamos concertos, performances, eventos multimédia e editamos publicações”, acrescenta Gemma, outra das fundadoras do espaço.

“A ideia é misturar públicos. Quem vem ver um concerto vê a exposição, e vice-versa, e, assim, estamos, de forma indireta, a educar públicos. É muito bom perceber que há pessoas que nunca entraram numa galeria a terem conversas sobre arte”, diz José.

Em relação aos artistas com quem trabalham, José adianta que não fazem representação. “Eles são livres para expor onde quiserem e nós, uma vez que o nosso intuito não é a promoção de vendas, queremos ter a máxima variedade de artistas em início de carreira, para que, depois, eles possam ser “agarrados” por galerias com poder económico”, esclarece.

Kunsthalle Lissabon: Rua José Sobral Cid 9E | 912 045 650 | www.kunsthalle-lissabon.org | Quinta a sábado, das 15h às 19h

Luís Silva

Kunsthalle Lissabon

A Kunsthalle Lissabon é uma experiência institucional que foi criada há 12 anos, por Luís Silva e João Mourão. Para Luís Silva, “interessava pensar um modelo de instituição que pudesse dar melhor resposta ao contexto artístico e crítico em que nos encontrávamos. Decidimos que queríamos fazer sobretudo exposições individuais e publicações.”

“Nas exposições queríamos dar a ver em Lisboa aquilo que de outra forma nunca seria visto. Mostrar artistas estrangeiros de outras geografias e artistas locais sem acesso a recursos institucionais para fazer exposições. A escolha dos artistas corresponde a um processo de investigação e pesquisa; viajar, ver exposições, ler, estar atento ao que se passa no mundo e em Portugal. Os livros para nós são muito importantes, são uma produção de conhecimento. As exposições desaparecem ao fim de três meses, os livros duram para sempre”, acrescenta.

“Não somos uma galeria, nunca tivemos interesse em nos relacionarmos com o objeto artístico através do seu valor económico. Não significa que esse aspeto não seja relevante. As galerias fazem bem esse trabalho, o nosso é artístico discursivo e crítico. Ambos os formatos são importantes e cumprem uma função específica”, remata.