Silêncio, que se vai ouvir Teatro

Na rádio e em podcast

Silêncio, que se vai ouvir Teatro

Mesmo que não se veja, o teatro pode sempre ser ouvido através da voz de quem o faz. Dos registos de teatro radiofónico às conversas com os protagonistas, a rádio e os podcasts exploram outras dimensões da arte de representar. Neste período de confinamento, fomos aos arquivos da RTP e descobrimos pequenas pérolas dos Artistas Unidos na antena da rádio, e escutámos alguns podcasts que estão a dar que falar.

Uma outra forma de ver teatro é ouvi-lo, e na plataforma RTP Play é possível encontrar inúmeros registos emitidos através da radio. Ao longo dos últimos anos, uma das presenças regulares nas emissões da rúbrica Teatro sem Fios da Antena 2 são os Artistas Unidos. De entre as dezenas de peças de teatro radiofónico apresentadas pela companhia dirigida por Jorge Silva Melo, selecionámos quatro da autoria de grandes autores contemporâneos.

O Tempo

Uma obra especialmente delicada e subtil sobre a relação entre um homem e uma mulher, separados pela classe social e pelo tempo, mas surpreendentemente unidos pela vida. Da autoria da dramaturga catalã Luisa Cunillé, Jorge Silva Melo, que a dirige, considera-a, através dos seus silêncios e diálogos prosaicos, “uma espécie de música secreta” que cabe ao espectador escutar e descobrir. Com Maria João Falcão e Américo Silva. Ouvir aqui.

Não me lembro de nada

Américo Silva e Isabel Muñoz Cardoso, dirigidos por Pedro Carraca, protagonizam esta peça curta de Arthur Miller. Numa cidade do interior dos Estados Unidos, uma viúva rica, cuja vida parece ter sido suspensa após a morte do marido, e um desenhista retirado, comunista convicto, amigo e colega de trabalho do seu marido, lamentam a passagem do tempo e a memória que se perde ao correr dos dias, e retira significado à vida. Ouvir aqui.

O Borrão/ O Consultório

Duas peças em um ato da autoria do dramaturgo português Augusto Sobral, datadas de 1961, que, segundo os Artistas Unidos, “romperam com o teatro que se fazia por cá”. Jorge Silva Melo lembra a estreia de O Borrão no Capitólio, pelo Grupo de Estudantes da Universidade de Direito, que imediatamente chamou a atenção de Amélia Rey Colaço, a poderosa diretora da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, que depressa o levou para o Teatro Nacional D. Maria II. “Um teatro irónico sobre o pesadelo da identidade e da burocracia”, aqui dirigido por António Simão. Ouvir aqui.

Ilha do Desporto/ Ilha do Futuro/ Noé

Três peças curtíssimas que revelam o teatro “surpreendente, enigmático, divertido, ligeiro, profundo, analítico, rigoroso, disfarçado de ingénuo”de Ricardo Neves-Neves. As peças sublinham o universo muito particular do autor, esse “quotidiano fantasiado e brincado, mas também aterrador”, pintado com referências pop e uma candura quase infantil. Pedro Carraca, Vânia Rodrigues e Andreia Bento interpretam; Jorge Silva Melo dirige. Ouvir aqui.

A actriz Gabriela Barros, ao lado de Diogo Infante, em “Ricardo III”

O Teatro à conversa em podcast

Duas grandes instituições teatrais da cidade, o Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II) e o Teatro da Trindade INATEL (TdT), já se renderam à moda do podcast.

Quinzenalmente, em várias plataformas de streaming (como o Spotify ou o YouTube), o TNDM II apresenta um novo episódio de Teatra, uma conversa “sem guião”, conduzida por Mariana Oliveira. O mais recente é protagonizado pela atriz, dramaturga e encenadora Teresa Coutinho, mas por lá podemos encontrar registos com atores incontornáveis do teatro português, como Rui Mendes, Miguel Guilherme, Rita Blanco ou Paula Mora; com valores seguros da nova geração, como Sara Barros Leitão e Ana Guiomar; e até mesmo com o artista plástico Alexandre Farto e a escritora Dulce Maria Cardoso.

Mais recente, o podcast (In)Equivoco, de periodicidade mensal, marca a chegada do TdT a este formato. O conceito é semelhante, com Margarida Pinto Correia a encetar uma conversa com alguns dos protagonistas dos espetáculos que passam pelo histórico teatro do Chiado. O elenco de conversas disponíveis inclui José Raposo, Marcantonio del Carlo e João Didelet, Custódia Gallego e Gabriela Barros.

Lídia Franco, Márcia Breia, Maria Emília Correia e Catarina Avelar em “Só Eu Escapei”

Depois de, em março do ano passado, ter sido uma das primeiras companhias a reagir aos efeitos da pandemia na atividade cultural, com a disponibilização de vários espetáculos online, o Teatro Aberto responde ao novo confinamento com uma mini-série de quatro episódios em vídeo e em podcast, com realização de João Lourenço e Nuno Neves, a partir de entrevistas conduzidas por Tiago Palma ao elenco de Só Eu Escapei.

Preparada para estrear em maio do ano passado, a peça, da autoria da dramaturga britânica Caryl Churchill, que esteve em cena no Teatro Aberto até à atual suspensão da atividade cultural, numa encenação de João Lourenço, juntou em palco um leque excecional de atrizes: Márcia Breia, Catarina Avelar, Lídia Franco e Maria Emília Correia. Elas que são, nas palavras de Lourenço, “a história viva do teatro português, do século XX aos nossos dias.”