Os filmes do IndieLisboa 2020

Obras selecionadas da 17.ª edição

Os filmes do IndieLisboa 2020

Os efeitos da pandemia levaram o IndieLisboa a ser remarcado para as semanas entre 25 de agosto e 5 de setembro. A programação, quase completa, foi agora anunciada. Filmes portugueses e do mundo, onde estão pela primeira vez representados a Nigéria e o Senegal, são exibidos nas salas habituais. Uma programação transversal, que aborda temas atuais e históricos e homenageia cineastas consagrados e jovens realizadores.

A edição de 2020 do IndieLisboa deveria começar hoje, 30 de abril, mas não foi possível. Por isso a direção do festival decidiu apresentar simbolicamente, no dia em que aconteceria a cerimónia de abertura, grande parte da programação. O programa anunciado está quase completo, à excepção dos filmes portugueses que compõem as secções Competição Nacional, Novíssimos e Sessões Especiais.

Na Competição Internacional –  longas e curtas metragens finalizadas em 2020 ou 2019 – é pela primeira vez exibido cinema produzido na Nigéria e no Senegal. Aqui, de destacar o filme Baamum Nafi, do senegalês Mamadou Dia. O realizador trabalhou como vídeo jornalista, durante mais de oito anos no continente africano, o que  influenciou a sua obra cinematográfica. Uma obra onde a fronteira entre ficção e documentário é difícil de definir. Da Nigéria, chega Eyimofe, dos irmãos Arie e Chuko Esiri. Filmado em Lagos, dá a conhecer a dinâmica da maior cidade da Nigéria e acompanha a vontade dos protagonistas de saírem do país, em busca de uma vida melhor.

“Eyimofe” de Chuko Esiri, Arie Esiri

 

Na secção Silvestre – obras de jovens cineastas e autores consagrados –  destaque para Rizi, filme minimalista, sem legendas e onde não há praticamente diálogos, do cineasta Tsai Ming-Liang. A obra do consagrado realizador de Taiwan (que nasceu na Malásia) narra histórias de vida, centrando-se na solidão, alienação, memória e espiritualidade. Planos longos e fixos, cores fortes, silêncios que contrastam com uma riqueza sonora, são características do seu trabalho. Também de salientar a primeira realização conjunta entre Marco Dutra e Caetano Gotardo, Todos os Mortos, um retrato dos traumas não superados pelo Brasil e do racismo ainda hoje presente. O filme narra a história de duas famílias, onze anos após abolição da escravatura no Brasil. A secção Silvestre tem este ano o foco na realizadora franco-senegalesa Mati Diop, que competiu com a sua primeira longa metragem Atlantique, no Festival de Cannes. Esta obra é exibida, assim como várias curtas metragens, entre as quais Mille Soleills, que venceu em 2013 a competição internacional de curtas, uma homenagem ao filme Touki Bouki, do seu tio Djibril Diop Mambéty, reconhecido cineasta senegalês.

 

“Rizi” de Tsai Ming-Liang

 

Nesta edição são ainda apresentadas duas retrospetivas: uma dedicada à obra integral de Ousmane Sembène, pai do cinema africano. Um percurso de trabalho marcado pelo feminismo e luta de classes, contra a europeização da cultura do Senegal e a brutalidade do colonialismo; outra sobre os 50 Anos da Berlinale, que oferece um olhar sobre o passado do cinema.

Na secção IndieMusic – ligação entre o cinema e a música – a música improvisada portuguesa é homenageada no documentário Caos e Afinidades, de Pedro Gonçalves. Ainda nesta secção, destaque para Billie, de James Erskin, sobre Billie Holiday, e Le Regarde de Charles, de Marc di Domenico, sobre Charles Aznavour.

“Billie” de James Erskine

 

No Director’s Cut – filmes novos que mergulham na memória do cinema como sua principal inspiração – o realizador americano, independente e underground, Mark Rappaport apresenta Conrad Veidt – My Life, um documentário sobre o ator alemão,  Conrad Veidt, que teve uma carreira de sucesso no cinema mudo, na Alemanha. Casado com uma judia, deixou o país em 1933 devido ao regime nazi. Nesta secção são ainda apresentadas a versão restaurada de La dialectique peut-elle casser des briques? (1973), de René Viénet e El tango del viudo y su espejo deformante, filme inacabado de Raúl Ruiz, em 1967 e que foi concluído pela sua viúva, Valeria Sarmiento.

“El tango del viudo y su espejo deformante” de Valeria Sarmiento, Raúl Ruiz

 

A Boca do Inferno – obras que rasgam fronteiras de registo e temas, sem tabus – traz ao festival Vivarium, de Lorcan Finnegan, um filme de suspense e ficção científica, que acompanha um casal que procura a casa perfeita e acaba num bairro/labirinto de casas idênticas, do qual não consegue sair. Outra das obras exibidas é Spalovač mrtvol (1969), passado na 2.ª Guerra Mundial, onde um homem acredita que a cremação é a salvação do mundo e por isso resolve “por mãos à obra”.

“Vivarium” de Lorcan Finnegan

 

O Indie apresenta ainda sessões especiais, em parceria com o novo festival literário da cidade de Lisboa 5L, promovido pela Câmara Municipal de Lisboa e consagrado às cinco dimensões culturais que dão título à iniciativa: língua, literatura, livros, livrarias e leitura. Neste ciclo, são exibidos e comentados cinco filmes em que o cinema adapta, interpreta, transforma ou documenta cada uma destas cinco dimensões.

Destaque para Francisca (1981), de Manoel de Oliveira e L’ Enfant Sauvage (1970), de François Truffaut.

“Francisca” de Manoel de Oliveira

 

O festival não podia deixar de fora os mais novos, desta forma o IndieJúnior convida crianças e jovens a descobrir filmes e a explorar a arte do cinema através de outras atividades pensadas para toda a família.

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