Mark Rothko, a arte e a vida

(Re)ver “Vermelho” com o Teatro Aberto em casa

Mark Rothko, a arte e a vida

No final de 2011, João Lourenço levava a palco, na Sala Vermelha do Teatro Aberto, a peça de John Logan Vermelho. Com António Fonseca, no papel do pintor Mark Rothko, secundado por João Vicente, o espetáculo foi um enorme sucesso de público e de crítica. Para assinalar a exibição em registo videográfico a partir de 2 de abril, recuperamos o artigo publicado, à data, na newsletter Lisboa Cultural.

No final da década de 1950, o pintor expressionista Mark Rothko aceita a encomenda do Edifício Seagram, em Nova Iorque, para conceber um conjunto de murais para o luxuoso restaurante Four Seasons. Para o ajudar na obra, o conceituado artista contrata um jovem assistente, Ken, estabelecendo-se entre os dois um diálogo reflexivo, muitas vezes violento, sobre a arte, o ser artista e a vida. O crescimento intelectual do discípulo acaba por confrontar Rothko com os tempos que mudam e, simultaneamente, com a perceção que o mestre tem do próprio percurso e do seu lugar na arte.

Da autoria de John Logan, reconhecido argumentista de Hollywood, coautor dos guiões de Gladiador e O Aviador, Vermelho é uma apaixonante ficção histórica em torno de um dos mais importantes pintores do século XX. Vencedora de vários prémios de teatro referentes a 2010, a peça “é uma discussão sobre a arte com o condão de dizer respeito a artistas e criadores, mas também ao mais comum dos espectadores”, nas palavras do encenador João Lourenço.

O ator António Fonseca interpretando o pintor Mark Rothko em “Vermelho”, de John Logan.

 

Assumindo em palco a figura de Rothko, António Fonseca destaca a admiração sentida pela “personalidade egocêntrica e misantrópica” do artista, mas com “uma notável capacidade de pensar a humanidade e a relação entre a arte e o ser humano”. No permanente conflito entre mestre e discípulo vivido em palco, fica o tempo e o espaço para que também o espectador seja capaz de pensar a arte e a vida, na esperança de, como diz o pintor, nunca “o preto devorar o vermelho.”

Sobre Mark Rothko

Nascido em 1903, em Dvinsk, na Rússia, Marcus Rothkowitz  (nome de batismo de Mark Rothko) é o quarto filho de um farmacêutico judaico que emigra em 1910 para os Estados Unidos da América. Em 1913, a família junta-se a ele, estabelecendo-se em Portland, Oregon. Ao longo do seu percurso escolar, Rothko demonstra grande interesse pelo estudo da arte, do teatro e dos clássicos, garantindo uma bolsa de estudos que lhe permite entrar na Yale University, onde estuda com Max Weber. Em 1923, acabará por abandonar Yale sem ter concluído o curso.

A paixão pelo teatro leva-o a Nova Iorque onde tenta ingressar, embora sem sucesso, no American Laboratory Theater. Acaba por se matricular na New School of Design e, entre 1925 e 1928, trabalha como ilustrador gráfico. Expõe pela primeira vez, em 1928, ao lado de Milton Avery, que se tornará seu mestre e amigo. Cinco anos depois, Rothko tem a sua primeira exposição individual em Nova Iorque, na Contemporary Art Gallery. Em 1935, ao lado de Adolf Gottlieb, funda o grupo The Ten que se baseia nos princípios da pintura realista, na exploração do expressionismo e da pintura abstrata, opondo-se ao conservadorismo dos círculos artísticos da época.

Mark Rothko

Dez anos depois, Rothko é já um pintor aclamado e expõe nas mais conceituadas galerias nova-iorquinas. Em 1952, surge ao lado de Clyfford Still e Jackson Pollock na histórica exposição Fifteen Americans no MoMA. Meia dúzia de anos depois, e após alguns colegas o acusarem de “desejar obter um êxito burguês” subvertendo a sua obra, Rothko aceita uma encomenda milionária de murais para o luxuoso restaurante Four Seasons. Mais tarde, abandona o projeto e devolve a totalidade da verba recebida.

1961 é o ano em que o MoMA acolhe a primeira retrospetiva da sua obra. No ano seguinte, o pintor rescinde o contrato com a Sidney Janis Gallery em protesto contra o apoio dado por esta à pop art. Rothko sofre um aneurisma em 1968, e os médicos proíbem-no de pintar telas com mais de um metro de altura. No ano seguinte, doa à Tate Gallery de Londres nove dos murais criados para o Four Seasons, com a premissa de que lhes seja dedicada uma sala onde possam figurar em conjunto [ver video]. Suicida-se, no seu estúdio, a 25 de fevereiro de 1970, dia em que os murais chegaram a Londres.