É preciso respirar

Luís Araújo apresenta ‘Pulmões’ no Teatro São Luiz

É preciso respirar

Luís Araújo e Maria Leite interpretam uma comédia ácida, assente num pronúncio de apocalipse, escrita pelo dramaturgo britânico Duncan Macmillan. Pulmões parece uma peça especialmente talhada para millennials, mas promete tirar o ar a todas as gerações.

Durante uma ida ao IKEA, Ele (Luís Araújo) fala-lhe da hipótese de terem um bebé. Ela (Maria Leite) fica sem ar, vive um ataque de pânico e, entre a neurose e o desespero, equaciona os muitos contras de tomarem a decisão de… “fazer uma pessoa”. Afinal, eles já não têm 20 anos e até se consideram “pessoas boas”, instruídas e esclarecidas… Mas o mundo que os rodeia é tão incerto, e a pegada de carbono que implica um novo ser humano equivale ao peso da Torre Eiffel. “Eu daria à luz a Torre Eiffel!”, lamenta Ela.

“À superfície, Pulmões é um drama doméstico, porém a tensão dentro de casa, entre o casal, é um espelho de toda a tensão que existe no mundo”. É deste modo que o encenador e ator Luís Araújo caracteriza este texto rápido e frenético agora representado (em três récitas únicas) no São Luiz.

Embora Pulmões seja, afinal, uma peça sobre um grande amor nestes tempos que vivemos, a encenação privilegia sempre o pronúncio de apocalipse que paira sobre os dois protagonistas – ao longo de hora e meia de espetáculo, eles nunca se tocam, ou como diz o encenador, “tudo é dito pela passividade do que é feito” – num ambiente gélido (brilhantemente proporcionado pelo espaço cénico desenhado por António MV) onde Ele e Ela circulam como cativos. Não havendo forma de fugir, é preciso respirar.

O espetáculo está em cena, de 28 a 30 de setembro, na Sala Mário Viegas do Teatro Municipal São Luiz.