Um dia com Luis Buñuel

Programa especial no Cinefiesta

Um dia com Luis Buñuel

A 23 de novembro, no âmbito do Cinefiesta, a Cinemateca Portuguesa dedica um dia inteiro a Luis Buñuel, com a exibição de três filmes e uma conferência.

Como dizia Jean-Jacques Brochier, os filmes de Luis Buñuel (Espanha, 1900 – México, 1983) “manifestam uma unidade na diversidade notável”. Dadas as contingências de um percurso de vida acidentado – destacando-se o exílio mexicano, nacionalidade que viria a adotar –, este natural de Aragão, que estudou nos Jesuítas e acabou por se tornar num dos artistas malditos para a igreja católica, conheceu os mais diversos sistemas de produção. A sua obra, muitas vezes controversa e polémica, compreende o filme surrealista, o melodrama mexicano e “a odisseia histórica ou burguesa”. Díspar nos conteúdos, é certo, mas sempre fiel aos princípios de realização, à dedicação humanista e à “denúncia das alienações” que continuaram a ser as mesmas dos anos de 1930 até ao fim da vida.

Para homenagear este grande mestre do cinema, a Cinemateca Portuguesa dedica, no âmbito do CineFiesta, um dia inteiro (23 de novembro) a Buñuel, com três obras-primas de fases distintas do percurso do cineasta. Em complemento, o crítico de cinema e antigo diretor da Filmoteca Española e do Instituto de Cinema Espanhol, Miguel Marías, apresenta uma conferência em torno da filmografia e do percurso do realizador, que assinou mais de três dezenas de obras em países como França, Espanha, México e Estados Unidos da América.

(Re)descobrir Buñuel

A primeira proposta da Cinemateca e do CineFiesta para descobrir, ou redescobrir, o cinema de Luis Buñuel é o seu primeiro filme a solo. Sucessor de Un Chien Andalou (uma “obra capital sob todos os pontos de vista”, como considerou Jean Vigo – filme de autoria partilhada com Salvador Dáli), A Idade de Ouro (L´âge d´Or, 1930) é, como o próprio Buñuel disse, “uma película romântica executada em pleno frenesim surrealista”, onde “o instinto sexual e o sentimento da morte formam a substância do filme”. Filmado e produzido em França, a obra legou algumas das cenas mais inesquecíveis do cinema, como Lya Lys a chupar um dedo do pé de uma estátua, um angélico Jesus Cristo seguido por apóstolos libertinos atravessando a ponte de um castelo ou o pintor Max Ernst a encarnar um bandido moribundo.

´A Idade de Ouro’ (França, 1930)

 

Filmado no México, Nazarin (1960) é uma adaptação do romance de Benito Pérez Galdós e o filme onde habita “o único padre ´positivo´ na obra de Buñuel”. A história desenvolve-se em torno de um clérigo que renuncia aos bens materiais e toma a defesa dos oprimidos. A opção valer-lhe-á a humilhação, a violência e a prisão imposta pelos seus semelhantes. Uma obra polémica que dividiu opiniões, tendo sido proibida, à época, em Portugal.

Este pequeno ciclo termina com Tristana – Amor Perverso (1970), obra realizada na Europa, com Catherine Deneuve e Fernando Rey a interpretar os papéis principais. Tal como NazarinTristana adapta um romance de Benito Pérez Galdós, e narra a história de uma jovem inocente seduzida por um galanteador mais velho. O filme retrata as perversões sexuais, o desejo e as obsessões – temas muito presentes nesta fase da filmografia de Buñuel – que, aqui, conduzem a um desfecho trágico.