Os dias de Jorge Jácome

As sugestões do realizador para esta semana

Os dias de Jorge Jácome

É no lounge do Teatro Variedades que podemos ver, já a partir desta quarta-feira, dia 9, o mais recente trabalho de Jorge Jácome, Cosmic Sans. O cineasta recomenda um espetáculo, um festival, uma exposição e um livro que se cruzam, em diferentes formas, com este seu novo projeto.

“Como repensar o teatro à luz do algoritmo? Como criar espaço para o humano dentro de estruturas tecnológicas digitais?” Foi sobre estas duas questões que Jorge Jácome refletiu quando recebeu o convite do Teatro Nacional D. Maria II e da sua parceira de inovação, a empresa de consultoria tecnológica NTT DATA, para fazer uma nova criação. O filme mostra-se agora, de 9 a 27 de julho, no lounge do Teatro Variedades, com entrada gratuita. Cosmic Sans pode ser lido como “um diálogo, ou talvez uma tensão, entre dois mundos: um, ligado ao digital, que pensa em produtividade, inovação e futuro; outro, enraizado na memória ancestral do gesto, do corpo presente, da palavra dita”, explica o cineasta.

O título, um jogo de palavras com uma das fontes lançadas pela Microsoft, inclui também “a ideia de estar ‘sem cosmos’ – deslocado, sem orientação, à deriva”, revela Jorge Jácome. E esclarece: “O nome evoca, simultaneamente, a vastidão do universo (cosmic) e uma ausência ou recusa de sentido (sans). A referência à tipografia Comic Sans não é apenas uma provocação visual: é um convite a repensar o que consideramos ‘sério’, ‘belo’ ou ‘aceitável’ na linguagem e na forma como comunicamos.” Na tela, um homem em Bangkok assiste ao pôr do sol sobre a cidade – mas contar mais do que isto seria tirar o prazer da descoberta de Cosmic Sans. “Numa era dominada por dispositivos, quis apropriar-me dos gestos, dos dedos — como quem tenta lembrar que o corpo ainda está aqui. Que há algo de háptico, de tátil, que não só resiste ao ecrã como também o habita”, afirma o realizador.

Sobre as quatro sugestões culturais que nos deixa para esta semana, diz ainda: “São propostas que acho que ninguém deve perder, mas mais do que isso, são obras de pessoas que estão a explorar muitos dos temas e dimensões que também atravessam Cosmic Sans. São, para mim, ecos e extensões de questões que me têm ocupado: o tempo, o corpo, a linguagem e a forma como inventamos maneiras de existir juntos”.

Audição, de Teatro Praga

11 a 20 julho
Sala Estúdio Valentim de Barros, Jardins do Bombarda

Estreia-se na sexta-feira, 11, o espetáculo que celebra os 30 anos do Teatro Praga, Audição. Para Jorge Jácome, “a Praga é a companhia de teatro mais estimulante em Portugal – irreverentes, inteligentes, capazes de rir de tudo (incluindo deles próprios) enquanto reinventam o palco como espaço crítico e sensorial”. E continua: “Não é por acaso que convidei o André e. Teodósio, um dos membros, para escrever comigo o texto deste Cosmic Sans”. Sobre Audição, que se apresenta na Sala Estúdio Valentim de Barros, outrora o armazém onde a companhia ensaiou durante anos, o realizador considera ser “uma oportunidade para testemunhar como a Praga continua, três décadas depois, a desafiar as linguagens cénicas e o pensamento dominante sobre o que é teatro hoje”.

Ou.kupa

Até 13 julho
Teatro do Bairro Alto e Casa Independente

Bailarina, coreógrafa, performer, Piny faz a curadoria do festival Ou.kupa, que celebra as culturas de dança urbanas – do street ao clubbing e ballroom. Jorge Jácome recomenda esta segunda edição, que começou a 29 de junho e se estende até ao final desta semana. “No TBA há novas criações, uma exposição, sessões de treino com DJ sets e conversas, além do Ball Conto Preto na Casa Independente, dedicado à cultura ballroom”, destaca nesta programação que passou também pelo Jardim de Verão da Gulbenkian. “É um festival-celebração que expande o entendimento da festa e do que significa dançar em comunidade. Uma afirmação de linguagens e de modos de existir.”

Pizza Space-Time, de João Marçal

Até 6 setembro
Galeria Zé dos Bois

À exposição de João Marçal na ZDB, com curadoria de Natxo Checa e patente desde final de fevereiro, o realizador não poupa elogios: “Gosto muito da pintura do João porque consegue, com aparente simplicidade, criar pinturas que abrem janelas para outras dimensões. Vale a pena visitar esta exposição para ver como a pintura pode ser divertida, rigorosa e profundamente misteriosa ao mesmo tempo.”

A Campa de Marx, de Isadora Neves Marques

Não Edições

O novo livro de poesia de Isadora Neves Marques, lançado no final de abril, é a última sugestão de Jorge Jácome. “Conhecida pelo seu trabalho híbrido entre arte, cinema, literatura e pensamento crítico, Isadora escreve de forma clara e sensível sobre temas complexos como o desejo e o sexo, as relações interpessoais, o tempo e a perda. Este livro traz uma dessas reflexões que nos inquietam, abrindo espaço para repensar como vivemos, com quem nos relacionamos e o que resta de nós depois de cada encontro ou despedida.”