Arte com vista para o Tejo

O eixo ocidental junto ao rio é cada vez mais o centro da arte contemporânea em Lisboa

Arte com vista para o Tejo

Entre a Junqueira e Belém, tem vindo a desenhar-se um verdadeiro eixo de arte contemporânea, marcado pela presença de espaços que oferecem uma programação cultural rica e diversificada, que promove o diálogo dos lisboetas - e dos que visitam a cidade - com a arte moderna e contemporânea.

Este ano, a zona ganhou novo fôlego com a chegada dos novíssimos MACAM, Pavilhão Julião Sarmento e o recém-inaugurado Espaço C, que se juntam ao já emblemático conjunto formado pelo MAC/CCB, MAAT e a Galeria do Torreão Nascente. De fácil acesso a partir do centro de Lisboa, sempre com o Tejo como pano de fundo, este eixo estimulante convida à descoberta de um dos núcleos culturais mais dinâmicos da cidade.

MAC/CCB – Museu de Arte Contemporânea

Inaugurado a 27 de outubro de 2023, o MAC/CCB, que sucede ao antigo Museu Coleção Berardo, quer promover o diálogo entre a arte moderna e contemporânea, a arquitetura e as artes performativas. O museu, considerado um dos principais polos culturais de Lisboa, alberga importantes coleções de arte contemporânea, como a Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), a Coleção Teixeira de Freitas, a Coleção Holma/Ellipse e a Coleção Berardo.

Com duas exposições permanentes – Uma deriva atlântica. As artes do século XX a partir da Coleção Berardo e Objeto, Corpo e Espaço. A revisão dos géneros artísticos a partir da década de 1960 –, que reúnem obras de nomes como Modigliani, Amadeo de Souza-Cardoso, Marcel Duchamp, Lourdes Castro, Piet Mondrian, Pablo Picasso, Andy Warhol, Helena Almeida, Wifredo Lam, René Magritte, Max Ernst ou Salvador Dalí, o MAC/CCB apresenta, neste momento, três exposições temporárias: Experiências do Mundo, que fala, sobretudo, da arte como experiência na sua capacidade crítica, reveladora e poética de pensar o mundo; Chantal Akerman. Travelling, que traça o percurso singular da cineasta, escritora e artista belga, e Cartazes sem Censura | 25 de Abril e a Revolução do «Verão Quente», com peças que são testemunhos visuais de um período de transformação política e social, resgatados dos muros e paredes onde foram originalmente afixados e preservados numa pasta de desenhos durante cinco décadas.

MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia

Abriu em 2016 e rapidamente se tornou uma das instituições culturais mais inovadoras de Lisboa e paragem obrigatória para quem deseja explorar as interseções entre arte, arquitetura e tecnologia. Integrando dois edifícios distintos: a histórica Central Tejo e o moderno edifício projetado pela arquiteta britânica Amanda Levete, conhecido como MAAT Gallery – caracterizado por uma fachada ondulada revestida de cerâmica branca, projetada para refletir a luz do Tejo e criar uma interação harmoniosa com a paisagem urbana -, o museu dedica-se à promoção do discurso crítico e da prática criativa.

Além de exposições temporárias e permanentes, a programação inclui ainda uma agenda diversificada de eventos, como conversas, conferências, performances e workshops, que incentivam o pensamento crítico e o diálogo internacional. A Fábrica da Eletricidade, a mostra permanente, apresenta maquinaria original através da qual se conta a história desta antiga fábrica, bem como a evolução da eletricidade até às energias renováveis. De momento, o MAAT conta com quatro exposições temporárias: Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias, 1980–2023; 15.ª edição do Prémio Novos Artistas Fundação EDP; Miriam Cahn – O que nos olha; e Lápis de pintar dias cinzentos: Obras da Coleção de Arte Fundação EDP.

Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional

Parte integrante do conjunto das Galerias Municipais de Lisboa, que reúne cinco espaços em diferentes zonas da cidade, o Torreão Nascente situa-se na histórica Cordoaria Nacional, à beira-rio, e afirma-se como um espaço de valor histórico e patrimonial, enquadrado numa das primeiras áreas industrializadas de Lisboa. Este espaço expositivo destaca-se pela arquitetura pombalina tardia e pela programação arrojada, que reflete a diversidade e a riqueza da arte contemporânea.

Desde 2003, a Galeria do Torreão Nascente tem sido palco de exposições de artistas consagrados e emergentes, nacionais e internacionais. A programação abrange diversas linguagens artísticas, incluindo pintura, escultura, fotografia, vídeo e instalação. Uma livraria instalada no local disponibiliza o conjunto de edições relacionadas com os projetos expositivos das Galerias Municipais de Lisboa.

MACAM – Museu de Arte Contemporâneo Armando Martins

Nascido da vontade do empresário Armando Martins de mostrar a sua coleção pessoal de arte, o MACAM junta, no mesmo espaço, um museu e um hotel de cinco estrelas, um conceito inovador e o primeiro do género, tanto em Portugal como na Europa. Instalado no histórico Palácio Condes da Ribeira Grande, que remonta ao início do século XVIII, na Rua da Junqueira, o MACAM é uma das adições mais inovadoras à cena cultural de Lisboa.

Descrito como A Casa das Coleções Privadas, o museu acolhe, além da coleção do seu fundador – uma das mais relevantes do país, iniciada em 1974 e que inclui mais de 600 obras de arte moderna e contemporânea, nacionais e internacionais, desde o final do século XIX até à atualidade -, coleções de outros colecionadores privados. A par de exposições permanentes e temporárias, o MACAM oferece também um programa cultural diversificado. Destaque para a capela restaurada, transformada em bar e palco de artes performativas, e para as obras site-specific de artistas como José Pedro Croft, Carlos Aires e Angela Bulloch.

Pavilhão Julião Sarmento

Inaugurou no mês passado aquele que é um centro de arte dedicado à coleção privada do artista e colecionador português Julião Sarmento (1948–2021), iniciada em 1967 e composta por mais de mil obras, incluindo pinturas, esculturas, vídeos, instalações e objetos. De referir que apenas cinco por cento das peças foram adquiridas; as restantes resultam de trocas ou ofertas de outros artistas e colecionadores. Localizado na Avenida da Índia, em Belém, o edifício municipal, antigo armazém de alimentos presumivelmente construído no final do século XIX, foi adaptado para servir como centro de arte contemporânea, tendo o projeto arquitetónico sido concebido pelo arquiteto João Luís Carrilho da Graça, a pedido do próprio artista.

Sob a direção artística de Isabel Carlos, o Pavilhão Julião Sarmento propõe uma programação interdisciplinar que vai além das exposições tradicionais, incorporando cinema, literatura, música, moda e outras formas de expressão artística. O objetivo é criar um centro de arte vivo, orientado para a experimentação, a produção e o cruzamento de conhecimentos artísticos, refletindo o espírito transversal que caracterizou a vida e a obra de Sarmento. O Pavilhão abriu com a exposição Take 1, em homenagem à diversidade de expressões artísticas que sempre o atraíram, sendo o cinema uma das principais.

Espaço C  – Coleção Arte Contemporânea Lisboa Cultura

Recém-inaugurado, este novo espaço vai receber diferentes exposições com base na Coleção de Arte Contemporânea da Câmara Municipal de Lisboa (CML), que já conta com mais de 200 peças e cerca de 130 artistas representados. WHO WHERE / QUEM ONDE, a primeira destas exposições temporárias em torno e a partir da coleção, apresenta cerca de 50 peças de 30 artistas, como Ângela Ferreira, António Bolota, Diogo Evangelista, Eduardo Batarda, Fernanda Fragateiro, Francisco Tropa, Gabriel Abrantes, Jorge Queiroz, Jorge Molder, Luísa Cunha, Paulo Brighenti, Rui Chafes, Rui Toscano e Vasco Araújo. Mostrando tanto as aquisições de obras de arte realizadas pelo município para a sua coleção em 2024, como as adquiridas em anos anteriores, a exposição revela a amplitude e diversidade conceptual e formal desta coleção de arte contemporânea.

O Espaço C e as obras que o irão habitar, de diferentes modos e formulações ao longo dos próximos tempos, reafirma a vontade da CML de continuar a constituir e desenvolver a sua coleção, com a perspetiva de, no futuro, integrar outros autores e ampliar a representatividade dos que a compõem. Além do apoio ao tecido artístico contemporâneo, a coleção da CML constitui-se também como um incentivo ao colecionismo. Tornar esta coleção acessível vai permitir a criação de uma memória intergeracional; contribuir para transmitir a experiência vivida por uma geração para a outra, relembrar o nosso presente, as lutas, as resistências, as liberdades, as éticas, que devem fazer parte de todos os futuros, e sobreviver.