agenda
Os dias de Rita Cortezão
A agenda cultural da cantautora

A preparar o primeiro disco, Rita Cortezão revela quais são os seus planos para esta semana: um filme, uma exposição, uma performance e talvez, também, aulas de teatro. E ainda sugere o último livro de poesia que leu.
São dois os singles de Rita Cortezão que já se podem ouvir por aí: dia após outro e lisbolha. Ambos fazem parte do álbum tudo, um pouco, que será editado depois do verão. Por enquanto, para se conhecerem mais canções, só ao vivo – e o próximo concerto da cantautora é já a 18 de junho, no Musicbox, onde fará a primeira parte para os Quase Nicolau. Aos 24 anos, Rita confessa que nunca sabe bem o que dizer quando lhe perguntam que tipo de música faz. “Estudei jazz e comecei a ter aulas de voz nesse contexto. Valorizo muito a improvisação e a sensação de navegar através de uma intuição qualquer, emocional. Uso muito essa ferramenta para compor. Gosto muito de escrever e quero que as pessoas ouçam o que estou a dizer e que tenham atenção à minha escolha de palavras, de trocadilhos e de camadas de significados. Foi a palavra que sempre me guiou”, afirma. Jazz, pop, indie, tudo se conjuga nas músicas que escreve, canta e toca, numa experimentação onde entram ainda sons que a rodeiam no dia-a-dia.
O seu primeiro álbum, adianta, há de juntar várias abordagens musicais e várias temáticas. “Algumas canções são tudo, outras canções são só um pouco”, nota, justificando o título que escolheu para este disco em que está a trabalhar há três anos. tudo, um pouco foi gravado no estúdio Louva-a-Deus e será lançado pela Discos Submarinos, editora do músico e produtor Benjamim, que tem estado a colaborar com Rita. “O álbum foi para outro nível que jamais teria conseguido alcançar sozinha. Juntaram-se estes dois mundos: eu, no meu quarto, sozinha a fazer canções, muito insegura, sem saber o que seria daquilo, e depois o Benjamim a puxar um lado meu que eu não sabia que existia: o de acreditar e querer afirmar as minhas canções de forma mais audaz.”
Atualmente a estagiar no CAM – Centro de Arte Moderna, como anfitriã de sala, Rita Cortesão Monteiro (assim se chama fora dos palcos) prepara-se agora para dar o seu quarto concerto a solo na próxima semana e garante que será diferente dos anteriores – até lá, também tem uma agenda bem recheada.
A Comédia de Deus, de João César Monteiro
9 junho, 21h
Cinemateca Portuguesa
Rita Cortezão começa por dizer que a maior parte das suas sugestões são programas que vai mesmo fazer. Logo no primeiro dia da semana, vamos encontrá-la na Cinemateca, para ver, pela primeira vez, um dos filmes mais emblemáticos de João César Monteiro, estreado em 1995. “Ainda só vi dois filmes dele – Vai e Vem e Recordações da Casa Amarela – mas arrisco dizer que, até agora, é o meu realizador português favorito”, afirma. “É muito poético e muito cómico, muitas vezes em simultâneo, o que acho raro. Gosto muito da forma como faz cinema”, elogia. “Gosto muito de assistir a estes filmes importantes na carreira de um realizador no cinema e, em especial, na Cinemateca, que também é provavelmente o meu lugar preferido em Lisboa.”
Musseque, de Fábio (Krayze) Januário
10 e 11 junho, terça às 19h30 e quarta às 22h
TBA – Teatro do Bairro Alto
Nada como conhecer pessoas bem informadas. “Foi um amigo que me recomendou e sou mensageira dessa recomendação, confio nele”, diz Rita Cortezão, que sugere Musseque, “uma performance que explora as raízes do kuduro”. Como se escreve na apresentação do espetáculo, em palco estarão quatro bailarinos que revisitam “as periferias de Luanda que são casa, os discursos que são revolução e os corpos que são resistência, no ritmo alucinante de quem continua para lá da guerra”. Acrescenta a cantautora: “O TBA é um lugar onde acontecem muitas coisas interessantes e pertinentes e que dão visibilidade a muitos artistas de vários lugares do mundo.”
Chantal Akerman. Travelling
Até 7 setembro, das 10h às 18h30
MAC/CCB
Foi também na Cinemateca que, recentemente, Rita Cortezão assistiu a dois filmes do ciclo dedicado à realizadora belga Chantal Akerman. “Gosto muito dela, já tinha visto os outros filmes que apresentaram e diria que é outra das minhas realizadoras favoritas.” Por isso, tem muita vontade de ver a exposição que está no MAC/CCB desde abril. “Já estou para ir há algum tempo. Tenho muita curiosidade, porque percorre a carreira dela do início ao fim e os vários lugares onde esteve.”
Aulas pelo Teatro do Imigrante
A partir de 9 junho
Sociedade Filarmónica Recordação d’Apolo
Fundado por seis brasileiros e um português, o Teatro do Imigrante é uma companhia nascida em Lisboa no ano passado. “Tem o intuito de dar oportunidade a pessoas imigrantes de fazerem teatro aqui em Portugal, mas é para pessoas de todos os lugares. Abriram agora inscrições para aulas de atuação, improviso, corpo, voz e produção criativa, que começam esta semana, e estou a pensar nisso. Ainda não sei, mas sempre tive vontade de experimentar aulas de teatro. Iria ajudar muito a minha persona performativa a estar em palco. Acho interessantes os exercícios que se fazem nas aulas e os desafios que têm se de enfrentar. Ajuda a perder inibições e a ser mais criativo na forma como nos expressamos e comunicamos”, nota Rita, que deixa um desafio: “de qualquer forma, convido as pessoas a conhecerem este projeto”.
Errático, de Rosa Oliveira
Tinta-da-china
É a única sugestão de Rita Cortezão que não faz parte da sua agenda desta semana, mas pode fazer da nossa. Vale a pena ouvi-la: “Foi o último livro que li e li-o ao pequeno-almoço. Gosto muito de ler poesia, mas ainda não tinha arranjado uma forma de a ler que me fizesse sentido. Descobri agora que ler ao pequeno-almoço é perfeito – ler poemas ou contos, outros livros já não funcionam para mim. Sou uma pessoa muito lenta de manhã e gosto muito de tomar o pequeno-almoço, porque é a única refeição em que bebo café – a minha bebida favorita – e gosto de aproveitar esse momento para beber lentamente e ler um poema ou vários, nesse ritmo mais lento, e deixar as coisas serem absorvidas à medida que o dia começa com calma. Gostei muito deste livro, da forma como a Rosa Oliveira escreve e dos temas que explora.”