Em Alcântara, com Ana Santos

A coordenadora da Biblioteca de Alcântara-José Dias Coelho guia-nos pelo bairro

Em Alcântara, com Ana Santos

Quando as bibliotecas trabalham para ser "centros culturais de proximidade" e "não apenas armazéns de livros", tudo pode acontecer. Fomos conhecer uma que leva essa missão muito a sério e descobrir, com a sua coordenadora Ana Santos, alguns dos lugares de cultura da zona de Alcântara.

Formada em Filosofia, foi como professora dessa disciplina que Ana Santos começou a sua atividade profissional. No entanto, não demorou muito a render-se às bibliotecas. Primeiro, em Oeiras, depois em Marvila e, desde 2018, como coordenadora em Alcântara. “Sempre me interessou a dinâmica comunitária de tornar as bibliotecas centros culturais de proximidade. E, aqui, também a ideia de pensar como se cria, num edifício de finais do século XIX, uma biblioteca para os dias de hoje.”

Biblioteca de Alcântara – José Dias Coelho

É quase impossível enumerar todas as atividades que acontecem nesta biblioteca municipal, entre exposições, concertos, oficinas, apresentações do grupo de teatro comunitário e do coro infantil, sessões de cinema e de poesia, residências artísticas, aulas de ioga, noites de quiz, visitas de escolas… um quase sem fim de programas que atraem residentes do bairro e não só. “Aqui, leva-se muito a sério o lema ‘as pessoas fazem a biblioteca’. Logo antes de abrir, fizemos processos de auscultação e de envolvimento da comunidade”, conta a coordenadora Ana Santos.

Instalada no antigo Palacete Burnay (Prémio Valmor, pela sua requalificação, em 2020), foi recentemente batizada como Biblioteca de Alcântara – José Dias Coelho, em tributo ao artista plástico comunista assassinado pela PIDE, em 1961, na rua que tem também o seu nome, e vem-se afirmando como uma casa de “homenagem a todos os que lutaram e ainda lutam pela democracia”.

Sublinha Ana Santos: “A ideia da Rede BLX – Bibliotecas de Lisboa é que estas sejam centros culturais de proximidade e não armazéns de livros. As pessoas precisam de espaços, não só para ler e estudar, mas para criar, viver e socializar. As bibliotecas devem ser democráticas e inclusivas. Num tempo em que o associativismo se vem perdendo, que possam ser também espaço de acolhimento”. Em Alcântara, mantém-se esse espírito num lugar onde, como aponta a sua coordenadora, existe uma equipa “muito apaixonada por aquilo que faz e muito entusiasta da missão da biblioteca pública como uma porta local de acesso à cultura e um pilar da construção de igualdade de oportunidades”.

Os locais de Alcântara

Jardim Avelar Brotero (Jardim do Alto de Santo Amaro)

Rua Filinto Elísio

Construído no início do século XX, deve o seu nome a Félix de Avelar (1744-1828), um dos mais importantes botânicos do seu tempo, que foi também diretor do Real Museu e do Jardim Botânico da Ajuda, lente da Universidade de Coimbra e deputado. “É um sítio muito bonito, onde se está muito tranquilamente. Tem um quiosque onde se pode comer, tomar um café ou ficar a ler um livro.” O jardim tem, ainda, um parque infantil e uma zona de mesas e cadeiras mesmo a pedir jogos de cartas.

Café Dias

Rua Pedro Calmon, 3B / 913 218 487

Um café de bairro que se tornou ponto de encontro obrigatório. Para tomar uma bica ou comer, mas também para muito mais do que isso: conviver, ouvir música ou poesia ou até ver um filme. “É um sítio muito especial, daqueles que, sendo muito frequentado pelas pessoas daqui, atrai gente de fora – sobretudo quem sabe que há sempre jazz às quintas-feiras e agora poesia às segundas”, descreve Ana Santos. Um “lugar de afetos”, como muitos lhes chamam, e um lugar de cultura.

Gare Marítima de Alcântara

Doca de Alcântara / 213 611 000

Diz-se que Duarte Pacheco, ministro das obras públicas de Salazar, terá descrito como “mamarrachos” os painéis de Almada Negreiros, instalados no vestíbulo central do edifício de Pardal Monteiro, aquando da sua inauguração em 1943. Hoje não há como não lhes reconhecer o valor e é por eles que Ana Santos elege esta como uma visita obrigatória. A nascente, o tríptico Quem não viu Lisboa não viu coisa boa, retrato da cidade ribeirinha; a poente, o tríptico Lá vem a Nau Catrineta que traz muito que contar; e, ainda, duas pinturas, uma delas alusiva ao Milagre de D. Fuas Roupinho.

Ler Devagar

LX Factory, R. Rodrigues de Faria, 103 – G 0.3 / 213 259 992

Considerada uma das mais bonitas livrarias do mundo, a Ler Devagar mantém-se uma resistente na LX Factory. Além do seu vasto espólio de livros novos e usados, acontecem ali lançamentos de livros, concertos, debates e muitos encontros culturais. “Continua a ser uma referência e é um espaço muito bonito também. Uma livraria especial.”

Capela de Santo Amaro

Calçada de Santo Amaro, 21

Vale a pena a subida para apreciar esta capela de 1549 – quer pela sua arquitetura de planta circular, quer pelos azulejos policromados alusivos a Santo Amaro, em tons de azul, verde, amarelo e branco, que cobrem as paredes da galilé. “É belíssima e tem uma vista magnífica sobre a cidade”, lembra a coordenadora da Biblioteca de Alcântara. Dali, consegue ver-se o rio Tejo, a ponte que o atravessa e o Cristo Rei na outra margem.

Sociedade Promotora de Educação Popular

Largo das Fontaínhas, 19 / 213 637 189

Fundada em 1904 e ainda a funcionar como escola, a Promotora teve um papel fundamental na defesa de uma “educação livre, laica e democrática”, valores que tem defendido ao longo da sua existência. “Um sítio que merece ser conhecido pela sua história e porque acaba por ser um símbolo da República aqui na cidade de Lisboa.”

Quimera Brewpub

Rua Prior do Crato, 6 / 917 070 021

“Conheci este bar de cerveja artesanal há dois anos e fiquei deslumbrada. Fica num túnel do século XVIII, que era a passagem da cavalaria real para o Palácio das Necessidades e era também onde os maçons organizavam faustosos jantares. Podemos ir lá fazer uma visita histórica, petiscar e beber um copo”, diz Ana Santos sobre este restaurante que tem, muitas vezes, música ao vivo.