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No Bairro de São Miguel com Sérgio Condeço
O ilustrador leva-nos pelos arredores do seu ateliê Cebola

No ateliê Cebola tudo pode acontecer. Há histórias contadas para quem quiser ouvir, oficinas de ilustração e o que mais couber nesta pequena sala colorida. Fomos falar com o ilustrador Sérgio Condeço, à frente deste lugar de “arte descascada”, e saber quais os sítios de cultura por onde gosta de andar ali em volta – sempre a pé, diz, numa extensão que vai de Alvalade às Avenidas Novas.
Licenciou-se em design têxtil e ainda trabalhou mais de uma década na área, até perceber que era ilustração o que mais gostava de fazer. Desde então, Sérgio Condeço tem desenhado muitas coisas diferentes, mas talvez o mais visível sejam os livros infantis. O primeiro, Porque não dormem os gatos, foi editado em 2019; o último, O Urso Papão, saiu há três meses – hoje já soma 16 títulos. Depois de vários espaços partilhados, escolheu ter o seu próprio ateliê e abriu-o ao público, criando o Cebola.
Cebola – um espaço fluido
Numa parede, serigrafias e cartazes, na outra, livros infantis. Por todo o lado, muita cor. No ateliê e loja Cebola, no Bairro de São Miguel, a paleta de tonalidades é tão variada como diversos se querem os que ali entram. Tenham os anos que tiverem, são todos bem-vindos.
“É como me vejo. Continuamos a ser as pessoas que somos, vamos amadurecendo, mas não sei bem onde se deixa de ser criança. Sou esta pessoa colorida, que gosta de desenhos e de histórias e que mistura o trabalho com outras coisas. Quero que este seja um espaço de liberdade, diversidade e respeito pelo outro, que seja fluido. Estamos cá como seres humanos”, resume o ilustrador Sérgio Condeço, que há dois anos montou aqui o seu ateliê, convidando também outros artistas a expor e vender as suas obras.
Cebola ganhou o nome de um dos apelidos da sua família materna. “Eram pessoas bastante ativistas durante o fascismo e achei que seria uma homenagem bonita”, explica, apontando para o símbolo que desenhou, como uma impressão digital.
Todas as quartas-feiras, às 17h45 em ponto, Sérgio abre um dos livros e lê-o em voz alta. “Gosto muito de contar histórias e isso ajuda-me como ilustrador, porque vejo as reações e percebo melhor o que funciona. A escolha do que leio depende da minha disposição, também é o meu momento de terapia. De entrada livre, são 15 a 20 minutos em que entramos numa espécie de espaço paralelo”, descreve, acrescentando que tem visto o Cebola encher-se todas as semanas. “Gostava de começar a contar histórias para adultos.”
Por vezes, acontecem no ateliê outras atividades e oficinas de ilustração. Em qualquer dos dias, quem ali entra pode sempre espreitar o estirador de Sérgio Condeço – depois, é esperar que saia o livro.
Oficina de ilustração, 26 de julho, das 14h30 às 17h. P/ maiores de 6 anos.
Pelos arredores do Bairro de São Miguel
Good Company Books
Av. Visconde de Valmor, 2
Um lugar que inspira e delicia – assim se define este café-livraria, aberto em 2004 pela brasileira Giovanna Centeno e o americano Samuel Miller. Com títulos em inglês, por vezes, organizam-se ali apresentações de livros, sempre acompanhadas por um copo de vinho. “Um lugar muito bonito, que até ganhou um prémio da [revista] Monocle. Tem um ambiente de anos 50/60. Está-se muito bem ali.”
Author Talk: Carceral Apartheid: Unveiling the Hidden Truths of Social Control, com Brittany Friedman, 24 de julho
Teatro Maria Matos
Av. Frei Miguel Contreiras, 52 / 213 621 648
É o teatro mais perto de casa e do trabalho, por isso Sérgio Condeço não perde uma oportunidade para ir ver o que está em cartaz. À Primeira Vista, com Margarida Vila-Nova, foi a última peça a que assistiu ali. “A Margarida está incrível, duas horas sozinha em palco não é fácil!”, elogia o ilustrador.
À Primeira Vista, até 31 de julho
Deixem o Pimba Em Paz, até 16 de julho
3 Palmas na Mão, 22 e 23 de julho
Culturgest
Rua Arco do Cego, 50 / 217 905 155
Seja para ver uma exposição ou um espetáculo, Sérgio Condeço vai com frequência à Culturgest, já perto do Campo Pequeno. “Gosto muito de ir a pé. É um luxo sair de lá, vir a pé para casa e usufruir de 15 minutos de cidade. Tenho a noção do meu privilégio”, afirma, acrescentando que, várias vezes, faz a “dupla” de jantar fora seguido de programa cultural.
PACAP, 8, 17 a 19 julho
Rascunhos Teimosos___Ficções Ardentes, até 28 de setembro
A Colónia, 10 a 13 de julho
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100 / 214 221 030
Sérgio Condeço confessa que não é o maior dos cinéfilos: “Só vou ver filmes que já sei à partida que vou gostar, não sou muito aventureiro nas idas ao cinema”. Ainda assim, quando vai, escolhe o Cinema City Alvalade, por ser “muito calminho”. “E sempre aproveitamos a caminhada até lá”, acrescenta.
Biblioteca Palácio Galveias
Campo Pequeno / 218 173 090
“Gosto muito de ir a esta biblioteca, nem que seja só para me sentar e ficar ali. Tem umas salas lindas e é um espaço amplo e luminoso. Por vezes, aconselho os meus amigos estrangeiros, que precisam de um espaço para trabalharem um bocadinho, a irem lá. Acho que fico orgulhoso por existir um espaço público assim”, diz Sérgio Condeço, que já ali apresentou livros ilustrados por si.
Porgy and Bess + Miles Ahead, 11 de julho
Ateliês Municipais dos Coruchéus
Rua Alberto de Oliveira / 218 170 900
Foi criado em 1970 e hoje o edifício dos Ateliês Municipais dos Coruchéus tem a funcionar 50 espaços de trabalho de artistas das áreas da pintura, cerâmica, artes visuais e cinema. “Gosto muito daquele lugar, alguns amigos têm lá ateliês e costumo ir quando há inaugurações e apresentações”, conta Sérgio Condeço. “Agrada-me o ar informal e a envolvência, com o jardim.”