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Na Penha de França, com Miguel Mateus
O diretor artístico da Casa Cheia guia-nos pelo bairro

Chama-se Casa Cheia – Espaço de Pesquisa Artística e tem mostrado muito do que hoje se faz nas artes. Falámos com um dos diretores artísticos e, com ele, fomos em busca de outras moradas de cultura na vizinhança.
Aos 31 anos, Miguel Mateus usa o gerúndio para se definir. “Entre ator, encenador, programador, fui estando e fui-me entusiasmando. Não consigo estar num único sítio, se bem que ator é o que me vai dando mais prazer de ser.” Fundou a companhia de teatro Casa Cheia, é codiretor artístico do espaço com o mesmo nome e tem trabalhado, sobretudo, em televisão e cinema (vimo-lo em Doce, Bem Bom, Soares é Fixe). Diz que escrever e encenar é como programar: “Tenho uma ideia e chamo artistas para a completarem”.
Casa Cheia – um lugar aberto aos outros
Neste final de manhã não se passa muito no início da Rua Lopes, aquela que liga o Alto do Varejão à Parada do Alto de São João. Já atrás da porta do número 3, onde fica a Casa Cheia – Espaço de Pesquisa Artística, há muito a acontecer. De um lado, chegam os sons soltos de um ensaio que decorre na blackbox; do outro, ouvem-se os acordes que se experimentam no estúdio de música. As salas alugam-se, por preços acessíveis, e é ali também que se vai realizando a programação desenhada por Miguel Mateus. “Fundámos a Casa Cheia em 2015, como companhia de teatro, e foi esse o nosso trabalho até virmos para a Penha de França. Em 2022 inaugurámos este espaço, mas penso que estava já na génese do projeto ter um lugar que pudéssemos abrir aos outros, com espaço de trabalho e com programação”, diz o ator e encenador.
Depois de dois anos de uma agenda intensa, com espetáculos de teatro, performances, concertos e conversas, a Casa Cheia tem feito um esforço para desacelerar e focar-se. “A nossa ideia é ser um lugar de ignição para novos trabalhos, um ponto de partida para outros lugares. E, quem sabe, criar uma rede que permita rotas de apresentação e circulação de trabalho”, conta.
Com descontos nos bilhetes para residentes e open calls para artistas da freguesia, a Casa Cheia procura dar voz ao que se passa à sua volta. “Na Penha de França vivem muitas pessoas ligadas à arte e à cultura, mas há pouca oferta cultural. E por sabermos que aqui existe uma grande comunidade artística, queremos mostrá-la. Conseguiríamos fazer uma programação o ano inteiro só com os artistas da Penha de França e seria belíssima. Se todos aceitassem, talvez fosse a melhor programação de Lisboa!”, garante. “Tenho o sonho de que a Penha de França se torne o grande lugar de arte em Lisboa.”
Os locais da Penha de França
Espaço da Penha
Travessa do Calado, 26B / 213 428 985 / 213 431 646
Depois de cinco anos de coabitação na LX Factory, desde 2014 que O Rumo do Fumo e o Forum Dança dividem uma antiga garagem na Penha de França. Com estúdios, escritórios, uma sala de formação e um centro de documentação, acolhem também outras estruturas. O Forum Dança, por ter uma missão formativa e pedagógica, organiza várias atividades abertas ao público. “Que todas as garagens ao abandono fossem recuperadas e usadas assim!”, aponta Miguel Mateus.
Workshop de criação e exploração sonora, com Rodrigo Martins, 21 de junho
Ver programação e oferta educativa em forumdanca.pt
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Penha Sco Arte Cooperativa
Rua Neves Ferreira, 10B / 912 872 999
Numa antiga fábrica têxtil, existem agora ateliês de criação, uma blackbox e uma galeria. A Penha Sco (ler “penhasco”) tornou-se um lugar multidisciplinar, com uma programação intensa de muitas artes e uma relação próxima com a comunidade. “São nossos vizinhos e é um espaço muito parecido com o nosso. As pessoas que o frequentam são as mesmas que vêm aqui”, nota Miguel Mateus, que já chegou a usar as salas de ensaio que ali existem.
Encontro de edição da Wikipédia, 17 de junho
Encontro PechaKucha, 28 de junho, das 18h30 às 22h
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Ateliers da Penha
Alto do Varejão, 10A / 963 144 355
Dinamizado pelo coletivo de arquitetura e arte Warehouse, é um espaço de cowork, com residentes e diferentes modalidades de trabalho, juntando ateliês e oficina de produção. “Há vários artistas a trabalhar ali e o coletivo Warehouse, que conheço melhor, faz um trabalho muito interessante no espaço público, de reflexão e intervenção. Além disso, às vezes, também acolhem encontros e eventos, sobretudo na área da arquitetura e do design.”
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Mono Lisboa
Rua Feio Terenas, 31A / 913 174 690
Gerido por artistas, este lugar é como uma tela em branco, pronta a receber diferentes expressões artísticas. Lá dentro, apresentam-se exposições e performances, disponibilizam-se estúdios de trabalho para artistas e mantém-se um programa internacional de residências. “Um belo espaço ao pé de Sapadores, quase no limite da Penha de França. Está mais ligado à performance e às artes plásticas, mas estive lá recentemente a ver um espetáculo de teatro.”
Exposição Rinkeli-Ränkeli, inauguração a 19 de junho
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Clube Lusitano da Penha de França
Rua Padre Sena de Freitas, 22A
“É uma associação cultural e recreativa fundada em 1953, mas que tem agora novos corpos dirigentes, malta nova que lhe trouxe uma nova vida. Tem uma forte programação cultural, desde há cerca de três anos, muito ligada ao jazz, mas também à dança e, claro, aos jogos de futebol”, diz Miguel Mateus sobre esta coletividade que tem organizado concertos, rodas de samba e de cumbia, noites de jogos e de petiscos, tardes de chá e até jantares pop-up.
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O Limbo
Rua Morais Soares, 7A / 936 622 987
“Um espaço mítico na Penha de França”. É assim que Miguel Mateus descreve o restaurante do ator Miguel Melo, mesmo em frente ao muro do Cemitério do Alto de São João. “Além de ter uns belos chefes e cozinheiros, faz um ótimo trabalho cultural e consegue ter uma oferta muito interessante, porque o Miguel chama músicos para tocarem ali, sobretudo de jazz – aliás, a Penha de França está muito ligada ao jazz. Acaba por ser também um ponto de encontro de artistas.”
Concerto Robalo no Limbo: João Pereira a solo e João Carreiro guitarra a solo, 25 de junho, às 22h
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Museu Nacional do Azulejo
Rua Madre Deus, 4 / 218 100 340
O antigo Mosteiro da Madre de Deus, fundado em 1509 pela rainha D. Leonor, mereceria, só por si, uma visita – mas este museu, com uma coleção única de azulejaria, é de visita obrigatória. “Penso que é dos mais visitados em Portugal e é importantíssimo. Fazem um excelente trabalho de curadoria e de divulgação e está sempre cheio de turistas. Acredito que trabalham para trazer mais público português e seria ótimo se isso acontecesse.”