Em 2023, lançou o seu disco de estreia, A culpa é da lua, mas antes disso já Soraia Tavares brilhava noutros palcos. Aliando as suas duas paixões, tem feito sobretudo teatro musical, participando em peças como Chicago ou Sonho de uma Noite de Verão, ambas no Teatro da Trindade. De 4 de setembro a 28 de dezembro, volta a pisar esse palco tão familiar para vestir a pele de Alice, a personagem fascinante de Lewis Carroll, numa versão musical encenada por Marco Medeiros. Sobre esta experiência, diz-se “muito expectante”. “Estou feliz por ir fazer esta personagem porque gosto muito de grandes desafios.” O convite surgiu da parte de Diogo Infante, diretor artístico do teatro do Chiado, com quem Soraia já trabalhou noutros projetos.
A 24 deste mês, a artista vai estar no LuxFrágil, em Santa Apolónia, onde irá apresentar um concerto que conta a sua história. “Vai ser especial porque é o meu primeiro concerto em nome próprio. Escolhi o Lux porque queria um circuito mais alternativo, já que a minha música acaba também por ser mais alternativa, devido às minhas raízes cabo-verdianas e portuguesas.” O alinhamento inclui músicas do disco de estreia, mas também outras que foram surgindo, cantadas em português e crioulo. “O foco dos meus concertos é a comunicação com o público. Não sei se está relacionado com o facto de ser atriz, mas essa é a parte de que gosto mais: despertar emoções nas pessoas.”
Reparations Baby! , de Marco Mendonça
Até 27 de julho
Teatro Variedades
A primeira sugestão de Soraia é o novo trabalho de Marco Mendonça, Reparations, Baby!, uma peça sobre racismo estrutural que convida o público a refletir sobre as reparações coloniais portuguesas através do riso. “Vi o Blackface e gostei muito da abordagem do Marco sobre as questões raciais, que é um assunto que muito me toca. Ele gosta de satirizar e acaba por trazer uma comicidade muito grande. Gosto da forma como ele toca em pontos muito importantes em relação ao papel do negro na classe artística.”
Encontrar-me
Livro de Viola Davis
Cultura Editora
“Escolhi o livro que estou a ler atualmente, Finding me (na versão original), a autobiografia da atriz americana Viola Davis, uma das minhas maiores inspirações enquanto artista.” Narrado na primeira pessoa, a obra conta o percurso de Davis desde as suas origens humildes até chegar aos maiores palcos do mundo. “É uma história de resiliência. Ainda vou a meio, mas tem mexido muito comigo pelo facto de a história ser bastante violenta e, apesar disso, ela se ter tornado na mulher forte que é hoje. É um livro que inspira qualquer pessoa.”
Smurfs: o grande filme
De Matt Landon e Chris Miller
Estreia a 17 de julho
A última escolha de Soraia é uma sugestão “mais familiar e que faz parte do nosso imaginário”. Trata-se do novo filme da saga Smurfs, as adoráveis criaturas azuis, que estreia nos cinema portugueses a 17 de julho. Neste novo filme, o Grande Smurf é raptado pelos feiticeiros maléficos Razamel e Gargamel. Smurfina – cuja voz na versão portuguesa é de Soraia Tavares – vai fazer de tudo para, com a ajuda de novos amigos, libertar o seu líder e salvar o universo.
Para Sempre
Assia Petricelli e Sergio Riccardi
É o verdadeiro livro para as férias de verão, esta novela gráfica sobre… as férias de verão de uma adolescente. Uma história que acompanha aqueles dias na praia em que tudo acontece a uma velocidade vertiginosa e é sentido com uma intensidade desenfreada. Nestas páginas, estão as alegrias e as angústias, as paixões e as descobertas, mas também outros temas como os sonhos desfeitos e os sonhos renovados, o amor entre pessoas do mesmo sexo, o consentimento, o preconceito, a violência no namoro, a aceitação da diferença, as definições de beleza. Um livro sobre o crescimento que acontece sempre entre mergulhos no mar e noites de fogueira na praia. Fábula
Duas Almas
Inese Zandere e Anete Bajāre-Babčuka
Muito bonito e poético, este livro vindo da Letónia, tanto pelo texto, como pelas ilustrações. As férias de verão de Alma são passadas numa quinta no campo e é aí que a sua imaginação não encontra limites, seja a antecipar como será o regresso à escola (transformada numa floresta encantada), seja a perceber a vida (e o fim dela) à sua volta. A história de uma menina que se imagina invisível porque deixou de existir, mas a brilhar na memória de quem a recorda, tem abraços, conversas e muito carinho. Com naturalidade, fala-se de morte, mas também de como os dias de verão nos trazem sempre descobertas e mil e uma possibilidades. Orfeu Negro
Como chegar à lua
Nicolás Schuff e Ana Sender
Tem as cores da floresta à noite, este livro que nos conta a aventura de Vicente e do seu avô, durante as férias de verão. Num lugar onde se chega de comboio e onde as árvores parecem gigantes, o rapaz ouve histórias extraordinárias e come uma sobremesa com açúcar mascavado e maças vermelhas. É numa noite de lua cheia que o avô decide levá-lo até ela. Seguem por um caminho da floresta que há de conduzi-los, não só ao corpo celeste, mas também a uma experiência a dois que não hão de esquecer. Nuvem de Letras
Pedrinhas
Jarvis
Um livro que lembra os dias já menos quentes de final de verão, porque fala também de outros finais. As memórias das férias com o avô e dos passeios que os levavam, pelo bosque, até à Praia das Pedrinhas. “Cuidado, para não bateres com a cabeça no céu”, ouvia, sempre que trepava o muro que ficava no caminho. Um areal que era lugar de muitas brincadeiras e de alegria imensa – e onde encontravam sempre pedrinhas que pintavam em conjunto. Uma história carregada de carinho e de saudade, mas que, acima de tudo, regista a felicidade dos bons momentos com as pessoas que nos marcam. Minutos de Leitura
Pim Pam Pum
Maria Girón
Com muita cor, quase se sente o cheiro a verão neste livro. A história é uma espécie de lengalenga cheia de onomatopeias e jogos fonéticos sobre um grupo de amigos que vai aumentando ao passar das páginas, a caminho da praia. Com simplicidade e boa disposição, fala-se de amizade, de brincadeira e de liberdade. Um livro mesmo fresquinho e bem-humorado, vindo da Catalunha, e que recebeu o Prémio Compostela para Álbuns ilustrados. Kalandraka
Licenciou-se em design têxtil e ainda trabalhou mais de uma década na área, até perceber que era ilustração o que mais gostava de fazer. Desde então, Sérgio Condeço tem desenhado muitas coisas diferentes, mas talvez o mais visível sejam os livros infantis. O primeiro, Porque não dormem os gatos, foi editado em 2019; o último, O Urso Papão, saiu há três meses – hoje já soma 16 títulos. Depois de vários espaços partilhados, escolheu ter o seu próprio ateliê e abriu-o ao público, criando o Cebola.
Cebola – um espaço fluido
Numa parede, serigrafias e cartazes, na outra, livros infantis. Por todo o lado, muita cor. No ateliê e loja Cebola, no Bairro de São Miguel, a paleta de tonalidades é tão variada como diversos se querem os que ali entram. Tenham os anos que tiverem, são todos bem-vindos.
“É como me vejo. Continuamos a ser as pessoas que somos, vamos amadurecendo, mas não sei bem onde se deixa de ser criança. Sou esta pessoa colorida, que gosta de desenhos e de histórias e que mistura o trabalho com outras coisas. Quero que este seja um espaço de liberdade, diversidade e respeito pelo outro, que seja fluido. Estamos cá como seres humanos”, resume o ilustrador Sérgio Condeço, que há dois anos montou aqui o seu ateliê, convidando também outros artistas a expor e vender as suas obras.
Cebola ganhou o nome de um dos apelidos da sua família materna. “Eram pessoas bastante ativistas durante o fascismo e achei que seria uma homenagem bonita”, explica, apontando para o símbolo que desenhou, como uma impressão digital.
Todas as quartas-feiras, às 17h45 em ponto, Sérgio abre um dos livros e lê-o em voz alta. “Gosto muito de contar histórias e isso ajuda-me como ilustrador, porque vejo as reações e percebo melhor o que funciona. A escolha do que leio depende da minha disposição, também é o meu momento de terapia. De entrada livre, são 15 a 20 minutos em que entramos numa espécie de espaço paralelo”, descreve, acrescentando que tem visto o Cebola encher-se todas as semanas. “Gostava de começar a contar histórias para adultos.”
Por vezes, acontecem no ateliê outras atividades e oficinas de ilustração. Em qualquer dos dias, quem ali entra pode sempre espreitar o estirador de Sérgio Condeço – depois, é esperar que saia o livro.
Oficina de ilustração, 26 de julho, das 14h30 às 17h. P/ maiores de 6 anos.
Pelos arredores do Bairro de São Miguel
Good Company Books
Av. Visconde de Valmor, 2
Um lugar que inspira e delicia – assim se define este café-livraria, aberto em 2004 pela brasileira Giovanna Centeno e o americano Samuel Miller. Com títulos em inglês, por vezes, organizam-se ali apresentações de livros, sempre acompanhadas por um copo de vinho. “Um lugar muito bonito, que até ganhou um prémio da [revista] Monocle. Tem um ambiente de anos 50/60. Está-se muito bem ali.”
Teatro Maria Matos
Av. Frei Miguel Contreiras, 52 / 213 621 648
É o teatro mais perto de casa e do trabalho, por isso Sérgio Condeço não perde uma oportunidade para ir ver o que está em cartaz. À Primeira Vista, com Margarida Vila-Nova, foi a última peça a que assistiu ali. “A Margarida está incrível, duas horas sozinha em palco não é fácil!”, elogia o ilustrador.
À Primeira Vista, até 31 de julho
Deixem o Pimba Em Paz, até 16 de julho
3 Palmas na Mão, 22 e 23 de julho
Culturgest
Rua Arco do Cego, 50 / 217 905 155
Seja para ver uma exposição ou um espetáculo, Sérgio Condeço vai com frequência à Culturgest, já perto do Campo Pequeno. “Gosto muito de ir a pé. É um luxo sair de lá, vir a pé para casa e usufruir de 15 minutos de cidade. Tenho a noção do meu privilégio”, afirma, acrescentando que, várias vezes, faz a “dupla” de jantar fora seguido de programa cultural.
PACAP, 8, 17 a 19 julho
Rascunhos Teimosos___Ficções Ardentes, até 28 de setembro
A Colónia, 10 a 13 de julho
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100 / 214 221 030
Sérgio Condeço confessa que não é o maior dos cinéfilos: “Só vou ver filmes que já sei à partida que vou gostar, não sou muito aventureiro nas idas ao cinema”. Ainda assim, quando vai, escolhe o Cinema City Alvalade, por ser “muito calminho”. “E sempre aproveitamos a caminhada até lá”, acrescenta.
Biblioteca Palácio Galveias
Campo Pequeno / 218 173 090
“Gosto muito de ir a esta biblioteca, nem que seja só para me sentar e ficar ali. Tem umas salas lindas e é um espaço amplo e luminoso. Por vezes, aconselho os meus amigos estrangeiros, que precisam de um espaço para trabalharem um bocadinho, a irem lá. Acho que fico orgulhoso por existir um espaço público assim”, diz Sérgio Condeço, que já ali apresentou livros ilustrados por si.
Porgy and Bess + Miles Ahead, 11 de julho
Ateliês Municipais dos Coruchéus
Rua Alberto de Oliveira / 218 170 900
Foi criado em 1970 e hoje o edifício dos Ateliês Municipais dos Coruchéus tem a funcionar 50 espaços de trabalho de artistas das áreas da pintura, cerâmica, artes visuais e cinema. “Gosto muito daquele lugar, alguns amigos têm lá ateliês e costumo ir quando há inaugurações e apresentações”, conta Sérgio Condeço. “Agrada-me o ar informal e a envolvência, com o jardim.”
Histórias Cantadas, 19 de julho
“Como repensar o teatro à luz do algoritmo? Como criar espaço para o humano dentro de estruturas tecnológicas digitais?” Foi sobre estas duas questões que Jorge Jácome refletiu quando recebeu o convite do Teatro Nacional D. Maria II e da sua parceira de inovação, a empresa de consultoria tecnológica NTT DATA, para fazer uma nova criação. O filme mostra-se agora, de 9 a 27 de julho, no lounge do Teatro Variedades, com entrada gratuita. Cosmic Sans pode ser lido como “um diálogo, ou talvez uma tensão, entre dois mundos: um, ligado ao digital, que pensa em produtividade, inovação e futuro; outro, enraizado na memória ancestral do gesto, do corpo presente, da palavra dita”, explica o cineasta.
O título, um jogo de palavras com uma das fontes lançadas pela Microsoft, inclui também “a ideia de estar ‘sem cosmos’ – deslocado, sem orientação, à deriva”, revela Jorge Jácome. E esclarece: “O nome evoca, simultaneamente, a vastidão do universo (cosmic) e uma ausência ou recusa de sentido (sans). A referência à tipografia Comic Sans não é apenas uma provocação visual: é um convite a repensar o que consideramos ‘sério’, ‘belo’ ou ‘aceitável’ na linguagem e na forma como comunicamos.” Na tela, um homem em Bangkok assiste ao pôr do sol sobre a cidade – mas contar mais do que isto seria tirar o prazer da descoberta de Cosmic Sans. “Numa era dominada por dispositivos, quis apropriar-me dos gestos, dos dedos — como quem tenta lembrar que o corpo ainda está aqui. Que há algo de háptico, de tátil, que não só resiste ao ecrã como também o habita”, afirma o realizador.
Sobre as quatro sugestões culturais que nos deixa para esta semana, diz ainda: “São propostas que acho que ninguém deve perder, mas mais do que isso, são obras de pessoas que estão a explorar muitos dos temas e dimensões que também atravessam Cosmic Sans. São, para mim, ecos e extensões de questões que me têm ocupado: o tempo, o corpo, a linguagem e a forma como inventamos maneiras de existir juntos”.
Audição, de Teatro Praga
16 a 20 julho
Sala Estúdio Valentim de Barros, Jardins do Bombarda
Estreia-se no próximo dia 16, o espetáculo que celebra os 30 anos do Teatro Praga, Audição. Para Jorge Jácome, “a Praga é a companhia de teatro mais estimulante em Portugal – irreverentes, inteligentes, capazes de rir de tudo (incluindo deles próprios) enquanto reinventam o palco como espaço crítico e sensorial”. E continua: “Não é por acaso que convidei o André e. Teodósio, um dos membros, para escrever comigo o texto deste Cosmic Sans”. Sobre Audição, que se apresenta na Sala Estúdio Valentim de Barros, outrora o armazém onde a companhia ensaiou durante anos, o realizador considera ser “uma oportunidade para testemunhar como a Praga continua, três décadas depois, a desafiar as linguagens cénicas e o pensamento dominante sobre o que é teatro hoje”.
Ou.kupa
Até 13 julho
Teatro do Bairro Alto e Casa Independente
Bailarina, coreógrafa, performer, Piny faz a curadoria do festival Ou.kupa, que celebra as culturas de dança urbanas – do street ao clubbing e ballroom. Jorge Jácome recomenda esta segunda edição, que começou a 29 de junho e se estende até ao final desta semana. “No TBA há novas criações, uma exposição, sessões de treino com DJ sets e conversas, além do Ball Conto Preto na Casa Independente, dedicado à cultura ballroom”, destaca nesta programação que passou também pelo Jardim de Verão da Gulbenkian. “É um festival-celebração que expande o entendimento da festa e do que significa dançar em comunidade. Uma afirmação de linguagens e de modos de existir.”
Pizza Space-Time, de João Marçal
Até 6 setembro
Galeria Zé dos Bois
À exposição de João Marçal na ZDB, com curadoria de Natxo Checa e patente desde final de fevereiro, o realizador não poupa elogios: “Gosto muito da pintura do João porque consegue, com aparente simplicidade, criar pinturas que abrem janelas para outras dimensões. Vale a pena visitar esta exposição para ver como a pintura pode ser divertida, rigorosa e profundamente misteriosa ao mesmo tempo.”
A Campa de Marx, de Isadora Neves Marques
Não Edições
O novo livro de poesia de Isadora Neves Marques, lançado no final de abril, é a última sugestão de Jorge Jácome. “Conhecida pelo seu trabalho híbrido entre arte, cinema, literatura e pensamento crítico, Isadora escreve de forma clara e sensível sobre temas complexos como o desejo e o sexo, as relações interpessoais, o tempo e a perda. Este livro traz uma dessas reflexões que nos inquietam, abrindo espaço para repensar como vivemos, com quem nos relacionamos e o que resta de nós depois de cada encontro ou despedida.”
A Livraria Lisboa Cultura, que agora abre portas no coração da Baixa Pombalina, lado a lado com os emblemáticos Tabacaria Mónaco e Café Nicola, tem como objetivo sublinhar “a importância que o livro tem na política cultural da cidade”. Desenvolvido em colaboração pela Direção Municipal de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa e a Lisboa Cultura/EGEAC, este projeto municipal procurará ser uma “âncora para o conhecimento e descoberta da cidade e amplificação do perfil de Lisboa”.
Contando com um catálogo com mais de 1500 títulos de edição ou coedição municipal, a oferta aborda temáticas muito variadas, tendo sempre Lisboa como mote. Aos títulos com chancela municipal somam-se outros, de variados editores, sempre com foco na cidade.
Para além dos livros, mas sempre com eles como ponto de partida, a nova Livraria Lisboa Cultura vai disponibilizar regularmente um programa de conversas, apresentações e outras atividades que visem a promoção cultural da cidade. Para o dia de inauguração está planeada uma conversa a propósito do catálogo da livraria (a partir das 18 horas) e, antes, um passeio guiado intitulado Rossio Literário, onde serão sublinhadas as referências literárias daquela que é uma das praças mais nobres da cidade (pelas 16 horas).
A Livraria Lisboa Cultura está aberta ao público, de segunda a sábado, entre as 10 e as 19 horas.
Não é fácil soletrar o seu nome, mas não terá sido por essa dificuldade de o dizer, seja em que língua for, que Clitemnestra nunca tenha merecido uma tragédia em nome próprio, como as filhas Ifigénia e Electra, ou desencadeado (pelo menos diretamente) uma guerra tão famosa e determinante como a bela irmã, Helena. Embora sem o seu nome inscrito pelos grandes dramaturgos da Antiguidade nas capas dos livros, Clitemnestra é uma personagem central nas duas primeiras peças da Oresteia de Ésquilo, ou não fosse ela imortalizada na cultura ocidental (com tudo o que essa visão tem de patriarcal) como a mulher infiel que matou Agamémnon, o rei e comandante das tropas gregas que venceu a guerra de Troia.
Sendo Clitemnestra muito mais complexa, e até mais controversa do que isto, importa incidir nova luz sobre aquela que é das personagens femininas mais marcantes da tradição trágica ocidental. Afinal, a esposa que trai e mata o marido foi também uma mãe que assistiu impotente ao sacrifício por vontade divina da sua própria filha, Ifigénia, às mãos do pai.
Por isso, nas próximas noites, no palco mais antigo do país – o Teatro Romano de Lisboa -, as atrizes e cantoras Ana Marta Kaufmann, Patrícia Modesto e Sofia Leão, dirigidas por Claudio Hochman, dão corpo ao mito e vestem a máscara destas e de várias dezenas de personagens que o teatro clássico imortalizou. Tudo para contar a história de Clitemnestra sem retirar pinga de tragédia a esta vida atribulada e sofrida, mas infundindo-lhe uma irresistível dose de humor e música a cappella.

“O nosso desafio foi contar em pouco mais de uma hora a história de Clitemnestra, desde o nascimento até à morte às mãos de Orestes, seu próprio filho”, partilha o encenador. Para construir a dramaturgia do espetáculo, Hochman baseou-se, sobretudo, em Ifigénia [em Áulis] de Eurípedes, Agamémnon e Coéforas de Ésquilo, embora a personagem e as suas múltiplas e contraditórias visões estejam presentes em vários outros textos, destacando-se, a exemplo, a Odisseia, de Homero, ou a peça Electra, de Sófocles.
Contando com três atrizes cantoras, “não só muito diferentes fisicamente, mas com formações distintas – uma da área da ópera, outra do teatro musical e outra ainda da música contemporânea – que, em conjunto com Afonso Cardoso, encontraram as melodias certas para os textos do coro” essenciais ao desenrolar da ação, Clitemnestra é um verdadeiro desfile de grandes personagens da dramaturgia clássica. Com máscaras assinadas por Carlota Blanc, as intérpretes compõem largas dezenas de personagens que fazem parte do imaginário da cultura ocidental sem que o espectador jamais perca o fio à meada.
E sobre Clitemnestra, acredita Claudio Hochman que este espetáculo não pretende defini-la perante o público. “Aquilo que quero é apenas contar a história. Contudo, diria apenas que Clitemnestra é uma mulher que não chora, que quando tem de amar, ama e quando tem de matar, mata.”
Como já vem sendo habitual nos últimos anos, durante o mês de julho, o teatro regressa ao Teatro Romano, situado no bairro da Sé. Sempre com o intuito de divulgar o teatro clássico, Clitemnestra insere-se na programação do Museu de Lisboa – Teatro Romano, estando em cena de quarta a sábado às 21 horas até final do mês.
Da escuta e da investigação em bairros como a Ameixoeira, as Galinheiras, a Cruz Vermelha, Chelas e Rego nasceram percursos e performances onde moradores participam, com a sua história individual, na construção de uma memória coletiva. E, pelo caminho, revelam-se talentos.
Teatro do Vestido
Tozé Cunha, Joana Craveiro, Francisco Madureira, Tânia Guerreiro e Estêvão Antunes
O Teatro do Vestido, coletivo teatral fundado em 2001, sob direção artística de Joana Craveiro apresenta, no Bairro das Amendoeiras, uma visita que é guiada pelas memórias dos movimentos de moradores na freguesia de Marvila.
Sobre a criação do percurso poético Museu dos Moradores, Joana Craveiro afirma: “foi uma sorte ter, como guias no terreno, pessoas que, para além de nascerem e viverem em Marvila toda a vida, são também guardiãs de uma memória histórica, daquela que fica marcada no corpo e se transmite por via oral. Outra grande ajuda foi o acompanhamento que nos deu a historiadora Margarida Reis e Silva, conhecedora deste território, que nos conduziu numa visita imersiva.”
A história política que levou à fundação do bairro, a luta pelo direito à habitação, sobretudo no período de 1974 e 1975, foi o ponto de partida para este trabalho: “o movimento de moradores que reivindicaram casas ao invés das barracas em que viviam; a torrente de ocupações que acabou por configurar um dos momentos mais marcantes da luta pelo direito à habitação no início da revolução portuguesa, são a memória resgatada pelo percurso Museu dos Moradores inscrevendo-a no formato de ‘museu vivo’, que temos vindo a desenvolver no Teatro do Vestido nos últimos 15 anos.” Para o coletivo teatral esta é a única forma de se compreender o presente.
As visitas realizam-se no âmbito do programa O Meu Bairro a Pé nos dias 19 e 20 de julho.
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Kriativu
Nuno Varela
Nuno Varela cresceu em Chelas. O hip-hop foi a sua fonte de inspiração e a rampa de lançamento para a criatividade, para o empreendedorismo e para o sucesso. Viajou, conheceu outras realidades, sentiu-se grato, realizado e, como tal, quis partilhar e dar a outros a fórmula que o trouxe até aqui. Tirar jovens das ruas, pô-los a fazer coisas construtivas tem sido o intuito dos muitos projetos sociais em que está envolvido. Foi com este espírito que fundou a associação Rimas ao Minuto e o Kriativu, um espaço comunitário aberto a quem queira desenvolver o lado artístico.
A convite da Câmara Municipal de Lisboa, a associação aceitou pensar em diferentes percursos que dessem a conhecer a zona de Chelas, integrada na freguesia de Marvila. “A nossa associação está profundamente ligada à cultura urbana e ao movimento hip-hop. Gostaríamos que estas visitas refletissem essa ligação, destacando espaços com significado e impacto real para a comunidade.”
Todos os percursos, quer na curadoria artística, social ou gastronómica, contaram com ajuda dos moradores. Para Nuno, “é importante demonstrar tudo o que é feito neste território, daí serem três percursos em que participam artistas locais, grupos comunitários ligados à gastronomia e várias associações que fazem trabalho social na zona. Foi bastante fácil criar estes percursos porque há uma grande riqueza cultural e também social.”
Os percursos realizam-se no âmbito do programa O Meu Bairro a Pé nos dias 12 e 13 de julho; 21 e 28 de setembro e 11 e 12 de outubro
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Teatro Meia Volta e Depois à Esquerda Quando Eu Disser
Cláudia Gaiolas e Sara Duarte
Cláudia Gaiolas, Sara Duarte e Luís Godinho integram o Teatro Meia Volta e Depois à Esquerda Quando Eu Disser, uma associação cultural que tem como missão dinamizar atividades no âmbito das artes performativas. Vários meses antes da criação do espetáculo Entra-se para viver, visitaram todas as semanas o Centro de Dia do Centro Social da Musgueira. Foi neste local e com os utentes do centro que desenvolveram o projeto.
“Interessavam-nos as experiências de vida e o quotidiano do bairro. Estas pessoas frequentam o centro há 40 anos, a média de idades está entre os 85 e os 95 anos. Ouvimos as suas histórias sobre a vivência do bairro, o como e o porquê de terem vindo para aqui viver.” Por outro lado, “não nos queríamos focar só na memória, mas também construir uma ideia de futuro. Apesar da idade avançada há uma vontade de se continuar a viver, daí o título Entra-se para viver.”
O espetáculo tem a particularidade de ser construído através de melodias do cancioneiro tradicional português, adaptado com novas letras que refletem as memórias destas pessoas. “Procurámos uma ressignificação das vivências e uma contextualização do espaço que é hoje a Alta de Lisboa. O espetáculo tenta criar uma reflexão através destes utentes que construíram aqui as suas casas e mudaram para sempre a geografia da cidade.”
A performance foi apresentada no âmbito do programa O Meu Bairro a Pé entre maio e junho
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Lobby Teatro
Joana Brito Silva, Eupremio Scarpa e Mariana Fonseca
Mariana Fonseca e Joana Brito Silva fundaram, em 2021, a Lobby Teatro, uma companhia de teatro profissional que promove um trabalho de cariz comunitário e social.
Desafiadas pela Câmara Municipal de Lisboa a criarem vários percursos na zona da Ameixoeira e da Charneca, juntaram-se a Eupremio Scarpa, educador italiano que vive em Portugal desde 2001 e que tem desenvolvido trabalho nos bairros sociais. Para a criação de um percurso encenado nas Galinheiras e dois itinerários de memórias pela Ameixoeira, Joana Brito Silva afirma que “o Lobby foi mais responsável por uma curadoria artística e o Eupremio pelo desenho do percurso em si.”
Para Eupremio, que já morou no bairro, “foi muito interessante contactar antigos vizinhos para contarem as suas histórias. Por outro lado, já tinha trabalhado com a Quinta Alegre em projetos similares, nas Galinheiras. Foi esta a base para a criação de três percursos por Galinheiras, Charneca e Ameixoeira Antiga. O objetivo era dar a conhecer não só a história e os moradores do bairro, mas revelar também o lado artístico das pessoas que ali vivem.” Ao longo dos vários percursos os moradores dão a conhecer as suas carreiras artísticas e é criada uma narrativa onde, em determinado momento, é apresentada a sua arte.
Os percursos foram apresentados no âmbito do programa O Meu Bairro a Pé entre maio e novembro de 2024
Lugar Comum
Rafael Barreto
Ator, bailarino, coreógrafo e professor, Rafael Barreto cresceu naquele que é hoje o Bairro da Cruz Vermelha. É nesta zona do Lumiar que desenvolve trabalho comunitário no Centro de Artes e Formação (CAF) e também através da associação de artes performativas Lugar Comum, que fundou em 2017.
Quando recebeu o convite para criar um percurso encenado para o programa O Meu Bairro a Pé, da Câmara Municipal de Lisboa, foi buscar muita da informação que tinha recolhido junto da comunidade para uma trilogia de peças que realizou na época do realojamento dos moradores.
“Quando criei O segredo dos sacos e os seus caminhos! recuperei muitos dos textos e da pesquisa que tinha há alguns anos e fiz uma nova ligação, tão necessária, que diz respeito a um mundo feminino de mulheres cabo-verdianas, portuguesas, indianas, ciganas, que carregam famílias inteiras. Estas mulheres carregam sacos. Vêm do Lumiar a pé com sacos, todos os dias.” Foi esta a inspiração que juntou intérpretes profissionais e pessoas da comunidade para criar o percurso.
Para além do lado histórico do bairro quis também abordar a questão que mais o inquietava “a incapacidade de se viver em comunidade, em harmonia com a diferença. Empatia e tolerância: é sobre isto que é este trabalho. Mas é também sobre uma justiça artística, porque na peça as coisas resolvem-se e na vida real nem sempre é assim.”
O segredo dos sacos e os seus caminhos! foi apresentado no âmbito do programa O Meu Bairro a Pé entre julho e outubro de 2024
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Trimagisto
Carlos Marques
O Bairro do Rego é palco para um espetáculo-percurso intitulado Vendedor de Recordações. O projeto, em colaboração com o Avenidas – Um Teatro em Cada Bairro, é uma produção da cooperativa cultural Trimagisto que, sob a direção artística de Carlos Marques, tem desenvolvido trabalho com enfoque na memória coletiva e no património imaterial.
Vendedor de Recordações percorre ruas, lojas fechadas ou abandonadas, revelando o lado afetivo do comércio tradicional. “Interessou-me pensar no comércio como artéria viva da cidade, onde as pessoas acabam por se conhecer e saber umas das outras. Essa forma de contacto na comunidade, através desse comércio, quase desapareceu”, afirma o ator e encenador. Com este projeto ambiciona-se dar visibilidade ao bairro e às histórias da comunidade. Através da recolha de testemunhos de antigos lojistas, de utentes do Centro de Dia e de conversas com anónimos na rua, construiu-se um espetáculo que “é todo ficcionado a partir de memórias verdadeiras, mas que amplia as histórias reais, enfatizando determinados aspetos para captar atenção.”
Este lado da efabulação da memória para contar uma história é um dos aspetos que fascinam Carlos Marques. “Como criador é para mim muito empolgante perceber como uma pessoa comum, e os idosos são peritos nesta fórmula, consegue tão bem ficcionar/embelezar a sua história para que prenda a atenção.”
O percurso realiza-se nos dias 4, 5, 6, 11, 12 e 13 de julho
Pedro Homem de Mello
Poemas 1964-1979
Cobrindo os anos entre 1964 e 1979, este segundo volume de poemas de Pedro Homem de Mello vem encerrar a publicação da obra completa do autor. A sua poesia, única e inconfundível, é marcada, como salientou José Régio, pela “sinceridade profunda do seu interesse pelo folclore vivo e do seu amor pelo povo” (“Povo! Povo! Eu te pertenço / Deste-me alturas de incenso”, imortalizado por Amália Rodrigues). Centrada na contradição entre “corpo e alma”, explora o tema do desejo (frequentemente homoerótico), contrapondo a experiência da fugacidade do prazer à permanência do remorso e à noção de culpa e de pecado. “Um pagão com o hábito de ser católico”, lhe chamou David Mourão-Ferreira acrescentando, ao associar o seu universo poético à pintura de Leonardo: “Há em Pedro Homem de Mello, muito de certos artistas do Renascimento, pagãos por natureza, – presos no entanto à letra (que não ao espírito) da religião estabelecida”. A edição ficou a cargo de Luís Manuel Gaspar, com um posfácio incindindo sobre os dois volumes de Fernando Cabral Martins. Eis o tão aguardado regresso do poeta de Eu Hei-de Voltar um Dia, que escreveu: (…) E cumprindo uma promessa, / O Poeta que fui eu / Em cada verso regressa / Do país onde morreu?” LAE Assírio & Alvim
Ernest Hemingway
O Jardim do Paraíso
Ernest Hemingway (1899-1961) nasceu em Oak Park, a pouca distância do local onde Frank Loyd Wright começou a construir os seus projetos. Na realidade, a revolução que o escritor promoveu na prosa em tudo se assemelha à que o famoso arquiteto empreendera nas suas “casas da pradaria”: redução da forma ao essencial e despojamento de toda a ornamentação. O Jardim do Paraíso é um romance póstumo, publicado pela primeira vez em 1986. Hemingway terá trabalhado nele por mais de uma década, sem nunca o ter dado por terminado. David e Catherine Bourne, apesar de parecem irmão e irmã, são um jovem casal americano. Em lua-de-mel no sul de França, entregam-se a uma série de jogos eróticos que exploram essa semelhança, enquanto David, aspirante a escritor, se dedica a redigir o manuscrito de um “romance africano”. Conhecem então a bela Marita e entre os três estabelece-se um relacionamento complexo que se adensa à medida que a escrita do livro se aproxima penosamente da conclusão. Uma obra ímpar no universo do autor, que explora com ousadia e elegância os temas do triângulo amoroso, da fluidez de género e da fusão de homem e mulher numa mesma entidade. Foi um dos livros de referência para o artista português Julião Sarmento. LAE Livros do Brasil
Samanta Schweblin
O Bom Mal
Samanta Schweblin nasceu em Buenos Aires em 1978 e vive em Berlim desde 2012. Vencedora de prémios importantes, como o Juan Rulfo e Casa de las Américas, é autora dos volumes de contos Pássaros na Boca e Sete Casas Vazias, e do romance Distância de Segurança, que, assim como Kentukis, foi finalista do International Man Booker Prize. A revista Granta inclui-a na lista dos 22 melhores escritores de língua espanhola com menos de 35 anos. O título da presente coletânea de contos, O Bom Mal, é profundamente revelador do universo literário da autora que explora o território do ambíguo, da estranheza, da inquietação, do fantástico e até do terror. Como escreveu o crítico do Expresso, José Mário Silva, Samanta Schweblin “insiste em rasgar o tecido do quotidiano com as lâminas da estranheza e do desajuste”. Curiosamente, estes seis contos têm todos origem na vida real, inspirados em pessoas, animais, factos ou acontecimentos que Samanta conheceu ou testemunhou. Sobre a narrativa William à Janela, declara: “aconteceu verdadeiramente. Talvez seja o conto mais autobiográfico que escrevi, e talvez também por isso seja melhor não dizer mais nada.” LAE Elsinore
Julian Barnes
Mudar de Ideias
“Alguns de nós temos convicções fortes fracamente sustentadas, outros têm opiniões fracas fortemente sustentadas. Sempre presumi que os liberais como eu têm opiniões moderadas moderadamente sustentadas. Mas não tenho a certeza de que continue a ser esse o caso. Quando agora pedem a minha opinião sobre um assunto público qualquer, a tentação que me assalta é replicar: ‘Bom, na República Benigna de Barnes…’ Neste breve conjunto de ensaios e palestras cujos temas são Memórias, Palavras, Política, Livros, Idade e Tempo, nunca saímos em boa verdade dessa “República Benigna de Barnes”, onde o escritor, com recurso a histórias da sua vida e da de outros, vai dando conta daquilo em que as suas ideias se mantiveram inalteradas (sobretudo no uso rigoroso das palavras e nos valores sociais e civilizacionais a que a política devia corresponder), ou em que houve mudança de opinião (nomeadamente sob a influência da memória dinâmica e nunca estável, e na apreciação de determinados escritores). Terminamos a leitura deste livrinho ligeiro e divertido com uma ideia benigna sobre a pessoa do autor. São textos que geram empatia e proximidade, onde apenas uma pessoa discursa, mas em que a ilusão da conversa acontece. RG Quetzal
Paulo José Miranda
Máquinas de Ficção
Paulo José Miranda evoca a tradição de “textos acerca de textos” referindo como influência maior e mais antiga a de Pseudo-Dioníso que se fez passar por Dionísio o Aeropagita, um ateniense que se teria convertido ao cristianismo após escutar as palavras de São Paulo. Pseudo-Dioníso não só inventou um autor que teria vivido 400 anos antes dele, como se referiu a livros que teria escrito e que nunca apareceram. Livros que cita mais de uma vez. Para além disso, “parece usar as citações de livros que não escreveu para construir aqueles que escreveu”. A propósito, Paulo José Miranda conclui; “A pós-modernidade surgiu algures no Médio Oriente entre os séculos V e VI”. Ora, Máquinas de Ficção é, justamente uma invulgar recolha de textos sobre textos. Originalmente publicados no jornal Hoje Macau, convidam o leitor, de forma provocatória, a explorar resenhas de livros que nunca foram escritos — “mas que talvez devessem existir”. Cada texto é uma porta aberta para um universo literário alternativo, onde a crítica se torna criação. Mantendo o jogo com o leitor, Paulo José Miranda cita um excerto de um suposto ensaio de Hélder Macedo, autor que muito admira: “No universo não há lado de fora e lado de dentro, tudo é lado de dentro. E assim acontece no romance. (…) Tal como no universo, no romance tudo é intertextualidade.” LAE Caminho
Fernanda Cachão
O Estado Novo em 101 Objetos
A jornalista Fernanda Cachão lança uma obra, resultante de uma pesquisa de cerca de cinco anos, onde reúne uma seleção de 101 objetos que representam como se vivia antes do 25 de abril de 1974. Esta iconografia de objetos e documentos ilustra, muitas vezes melhor do que palavras, a ideologia que, com firmeza e com tato calculado, dominou Portugal durante 48 anos. Para as novas gerações será, porventura, com alguma surpresa que realizarão que em tempos era preciso licença para usar isqueiro, ter autorização do marido para sair do país e tantas outras condicionantes impostas ‘a bem da nação’. O livro pode ser lido abrindo as páginas ao acaso, ao sabor da curiosidade, para saber um aspeto do regime e o seu enquadramento, pessoal e público. Ficam-se a conhecer ou recordar aspetos curiosos e pessoais como as alcunhas de Salazar: ‘o Botas’, por ter sido fotografado numa cena bucólica, em Almourol, com António Ferro, mostrando as solas das botas esburacadas, uma prova da sua apregoada frugalidade (ainda que normalmente usasse botas de canos alto de boa pelica); ou ‘o Esteves’, por serem constantes as notícias que informavam ‘esteve ontem em visita o Sr. Presidente do Conselho…’. Em suma, trata-se de um compêndio ilustrado do que não convém esquecer. TCP Lua de Papel
Inês Lampreia
No tempo dos super-heróis
É o segundo livro de Inês Lampreia, que tem publicado textos de crónica, ficção e prosa poética nos últimos anos. No tempo dos super-heróis reúne 12 contos e é a um deles que vai buscar o título. No posfácio, afirma o poeta e ensaísta João Rasteiro: “Mais do que uma escrita feminista, julgo estarmos perante uma escrita feminina, comprometida com a contenda por uma sociedade mais justa”. Tendo sobretudo mulheres como protagonistas, mas não reivindicando nenhuma causa, a autora deixa-as subentendidas nas várias histórias que nos conta, passadas desde os tempos das nossas avós e bisavós aos dias de hoje. Cada conto vale por si, no entanto, avançando na leitura, vamos percebendo que se ligam uns aos outros e que, todos juntos, criam um retrato de Portugal no último século. Inês Lampreia usa uma escrita tão descomplicada e “da terra” como as histórias que imaginou. Evoca vidas duras, seja na pobreza ou na solidão, seja na crueza dos campos alentejanos ou na alienação dos dias em Lisboa – cada uma no seu contexto, vidas impregnadas de infelicidade, algumas ainda com réstias de esperança, outras nem isso. Porque, se ali existe uma avó que se refugia nas nuvens ou uma mãe que voa atrás do canto dos rouxinóis, parece que hoje a poesia se foi. GL Urutau
Afonso Cruz
O vício dos livros II
“Há aqueles que não podem imaginar um mundo sem pássaros; Há aqueles que não podem imaginar um mundo sem água; Ao que me refere, sou incapaz de imaginar um mundo sem livros”. É com esta frase do argentino Jorge Luis Borges que Afonso Cruz inicia O vício dos livros II. Depois de, em abril de 2021, ter lançado O vício dos livros, o autor regressa com mais histórias, reflexões e curiosidades para aqueles que não podem viver sem a literatura. Sempre a pensar no leitor e na recorrente questão de como incentivar hábitos de leitura, este volume reúne cerca de 40 textos, alguns autobiográficos, sobre o processo de escrita e sobre a capacidade de a poesia dar vida a tudo aquilo que é objeto da sua arte, dando a conhecer histórias de autores como Eduíno de Jesus, Lídia Jorge, Marguerite Duras, Rainer Maria Rilke ou Raul Brandão, entre outros. A paixão pelos livros é transversal a todos os textos, como se pode também constatar nas pinturas alusivas ao ato de ler, de artistas como Diego Rivera, Matisse, Picasso ou Matisse, escolhidas para ilustrar a presente edição. Refere Afonso Cruz: “os livros só alcançam sucesso através do murmúrio”. Aceite, pois, o nosso murmúrio. SS Companhia das Letras
Louisa Yousfi
Em Nome do Bárbaro
“Mas o que será que perde o bárbaro que a civilização arrastou na sua corrida para o progresso humano, alimentando-o generosamente com as riquezas culturais de que tanto se orgulham os impérios (…)?” Esta é a questão-chave à qual o presente manifesto estético e político sobre a condição dos descendentes da imigração pós-colonial, procura responder. De autoria de Louisa Yousfi, jornalista, crítica literária e escritora, filha da imigração argelina em França e uma das vozes centrais do pensamento decolonial, aqui se expõem as armadilhas e a violência das políticas de integração e mostra como a assimilação pode equivaler à perda de identidade, língua, religião e cultura. Elogiado por figuras como Françoise Vergès e Annie Ernaux, este ensaio revela a estranheza da condição pós-colonial: “bárbaros” no coração do Império, que habitam os seus subúrbios, falam a sua língua, dominam perfeitamente os seus códigos, mas que têm sérias contas a ajustar com ele. É em nome deles que fala, dos que se atrevem a “fitar o nosso sol da Barbárie de frente”, como escreveu o autor argelino Mohammed Dib, citado em epígrafe. Uma espantosa viagem à alteridade radical, desmistificando, sem concessões, as narrativas do ocidente e as suas falhas morais. LAE Orfeu Negro
Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa
As Cartas do Boom
No romance Adão no Éden, Carlos Fuentes escreve: “(…) a mimese é inevitável na literatura e, no fim, escolher bem os mentores é uma demonstração de talento”. Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa são os quatro principais romancistas do chamado “Boom Latino Americano”. As cartas trocadas entre eles revelam as múltiplas e valiosas correspondências que se estabeleceram entre as suas obras no auge deste quarteto. Citando os editores do presente volume, as cartas documentam “um momento em que os criadores pareciam ter começado a escrever menos sozinhos para ‘tocar’ em conjunto, como parte integral de uma mesma literatura”. Mentores uns dos outros, de certa forma, como confessa o escritor mexicano: “(…) sei que cada um de nós está muito consciente do que os outros estão a fazer”. Este intercâmbio permite um acesso sem precedentes às suas relações pessoais e coletivas, e desvenda de forma privilegiada a literatura e a política latino-americanas no contexto histórico entre os anos de 1959 e 1975. Testemunha igualmente a relação sincera de amizade e respeito que os unia e que põe definitivamente em causa a máxima de Carlos Fuentes, expressa no citado romance: “Lê os escritores, mas não os conheças pessoalmente.” LAE Dom Quixote
Imagine-se “um novo concurso de televisão que pretende revolucionar o prime time português, com segmentos de teoria antirracista, cultura pop luso-africana e trivia colonial”. Uma ideia concebida e executada por um homem branco, privilegiado, que se considera bastante woke e que quer denunciar o racismo. “O espetáculo é um exercício de imaginação sobre como um programa destes tem tudo para correr mal”, diz Marco Mendonça, responsável pelo texto e direção de Reparations, Baby!, peça que estará no Teatro Variedades de 9 a 27 de julho.
Em cena, Ana Tang, Bernardo de Lacerda, Danilo da Matta, June João, Márcia Mendonça, Stela e Vera Cruz dão corpo a esta história sobre a facilidade com que se cai na “instrumentalização das pessoas negras, que são marginalizadas e silenciadas constantemente”. “Existe uma hipocrisia institucional, porque se confunde dar visibilidade com dar voz. Aparecer na televisão não é sinónimo de ser dono das suas narrativas. O entretenimento esvazia os debates importantes e perpetua-se um discurso redutor sobre as pessoas negras”, sublinha o encenador.
Reparations, Baby! quer lançar esse desafio: “Está na hora de mudar o panorama das pessoas no lugar de decisão e no lugar da escrita. Será que a sociedade está mesmo interessada em mudar? A verdade é que o racismo estrutural consegue sobreviver mesmo dentro de espaços que dizem combatê-lo”, aponta.
Antes do espetáculo chegar ao Variedades, Marco Mendonça faz-nos quatro sugestões culturais que ajudam a descobrir caminhos nesta reflexão.
O Ancoradouro do Tempo, de Sol de Carvalho
Em exibição
Estreou-se na semana passada, um dia depois da data em que se celebra a independência de Moçambique. Apesar de ainda não ter visto o filme de Sol de Carvalho, Marco Mendonça faz desta a sua primeira sugestão. “Nasci em Moçambique e é sempre bom saber que existem criações moçambicanas a chegar às salas de cinema portuguesas.” O filme é uma adaptação do livro A Varanda do Frangipani, de Mia Couto, que o ator e encenador confessa também não ter lido ainda. Uma intriga policial, rodada na Fortaleza da Ilha de Moçambique, que conta a história de um jovem inspetor da polícia que, chamado a investigar um crime, se depara com a declaração de culpa de todas as personagens.
Tramas Coloniais
Podcast
Um podcast brasileiro, disponível online, que, em sete episódios, fala sobre a história do colonialismo em África. “São encontros e conversas com intelectuais, sociólogos e outros, que produzem discurso e conhecimento sobre o passado colonial e as cicatrizes que deixou, tentando propor caminhos possíveis para a reparação dos danos causados”, explica Marco Mendonça que já há mais tempo tinha ouvido um episódio mas que agora, para a pesquisa de Reparations, Baby!, mergulhou a fundo nas reflexões que ali se fazem. “Recomendo bastante.”
Coro em Rememória de um Voo, de Julianknxx
CAM – Centro de Arte Moderna da Fundação C. Gulbenkian
Até 30 junho
A exposição termina já nesta segunda-feira, dia 30, e Marco Mendonça sabe que esta é uma sugestão de última hora. “Pode ser que ainda haja pessoas que a consigam ver…” Incluindo o ator, que tem andado ocupado com a estreia do espetáculo e ainda não conseguiu ir. “Dizem-me muito bem e acredito que valha muito a pena.” A mostra resulta das colaborações criativas que Julianknxx desenvolveu em nove cidades europeias, onde recolheu “histórias não contadas da diáspora africana”. Associada à exposição, está a instalação sonora Síncopes, da investigadora e socióloga Cristina Roldão, da produtora, designer de som, compositora e cantora XEXA, e da encenadora e atriz Zia Soares – um trabalho inspirado em “mulheres negras que atravessaram a cidade de Lisboa no início do século XX”, que Marco quer muito ver.
Uma História Africana da África – Desde o início da humanidade até à independência, de Zeinab Badawi
Editorial Presença
É o livro que Marco Mendonça está a ler neste momento e recomenda-o. “Estou a gostar muito, a achar fascinante”, diz. “Dá uma perspetiva geral da história do continente, que quero depois aprofundar. Para mim, está a ser uma aprendizagem muito rica. Parece-me um livro importante, pensando na questão da reparação histórica”, afirma, sublinhando, desde logo, a provocação do título. “Recusa uma visão eurocêntrica do que foi a História de África nos séculos passados.”
Este ano, a zona ganhou novo fôlego com a chegada dos novíssimos MACAM, Pavilhão Julião Sarmento e o recém-inaugurado Espaço C, que se juntam ao já emblemático conjunto formado pelo MAC/CCB, MAAT e a Galeria do Torreão Nascente. De fácil acesso a partir do centro de Lisboa, sempre com o Tejo como pano de fundo, este eixo estimulante convida à descoberta de um dos núcleos culturais mais dinâmicos da cidade.
MAC/CCB – Museu de Arte Contemporânea
Inaugurado a 27 de outubro de 2023, o MAC/CCB, que sucede ao antigo Museu Coleção Berardo, quer promover o diálogo entre a arte moderna e contemporânea, a arquitetura e as artes performativas. O museu, considerado um dos principais polos culturais de Lisboa, alberga importantes coleções de arte contemporânea, como a Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), a Coleção Teixeira de Freitas, a Coleção Holma/Ellipse e a Coleção Berardo.
Com duas exposições permanentes – Uma deriva atlântica. As artes do século XX a partir da Coleção Berardo e Objeto, Corpo e Espaço. A revisão dos géneros artísticos a partir da década de 1960 –, que reúnem obras de nomes como Modigliani, Amadeo de Souza-Cardoso, Marcel Duchamp, Lourdes Castro, Piet Mondrian, Pablo Picasso, Andy Warhol, Helena Almeida, Wifredo Lam, René Magritte, Max Ernst ou Salvador Dalí, o MAC/CCB apresenta, neste momento, três exposições temporárias: Experiências do Mundo, que fala, sobretudo, da arte como experiência na sua capacidade crítica, reveladora e poética de pensar o mundo; Chantal Akerman. Travelling, que traça o percurso singular da cineasta, escritora e artista belga, e Cartazes sem Censura | 25 de Abril e a Revolução do «Verão Quente», com peças que são testemunhos visuais de um período de transformação política e social, resgatados dos muros e paredes onde foram originalmente afixados e preservados numa pasta de desenhos durante cinco décadas.
MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia
Abriu em 2016 e rapidamente se tornou uma das instituições culturais mais inovadoras de Lisboa e paragem obrigatória para quem deseja explorar as interseções entre arte, arquitetura e tecnologia. Integrando dois edifícios distintos: a histórica Central Tejo e o moderno edifício projetado pela arquiteta britânica Amanda Levete, conhecido como MAAT Gallery – caracterizado por uma fachada ondulada revestida de cerâmica branca, projetada para refletir a luz do Tejo e criar uma interação harmoniosa com a paisagem urbana -, o museu dedica-se à promoção do discurso crítico e da prática criativa.
Além de exposições temporárias e permanentes, a programação inclui ainda uma agenda diversificada de eventos, como conversas, conferências, performances e workshops, que incentivam o pensamento crítico e o diálogo internacional. A Fábrica da Eletricidade, a mostra permanente, apresenta maquinaria original através da qual se conta a história desta antiga fábrica, bem como a evolução da eletricidade até às energias renováveis. De momento, o MAAT conta com quatro exposições temporárias: Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias, 1980–2023; 15.ª edição do Prémio Novos Artistas Fundação EDP; Miriam Cahn – O que nos olha; e Lápis de pintar dias cinzentos: Obras da Coleção de Arte Fundação EDP.
Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
Parte integrante do conjunto das Galerias Municipais de Lisboa, que reúne cinco espaços em diferentes zonas da cidade, o Torreão Nascente situa-se na histórica Cordoaria Nacional, à beira-rio, e afirma-se como um espaço de valor histórico e patrimonial, enquadrado numa das primeiras áreas industrializadas de Lisboa. Este espaço expositivo destaca-se pela arquitetura pombalina tardia e pela programação arrojada, que reflete a diversidade e a riqueza da arte contemporânea.
Desde 2003, a Galeria do Torreão Nascente tem sido palco de exposições de artistas consagrados e emergentes, nacionais e internacionais. A programação abrange diversas linguagens artísticas, incluindo pintura, escultura, fotografia, vídeo e instalação. Uma livraria instalada no local disponibiliza o conjunto de edições relacionadas com os projetos expositivos das Galerias Municipais de Lisboa.
MACAM – Museu de Arte Contemporâneo Armando Martins
Nascido da vontade do empresário Armando Martins de mostrar a sua coleção pessoal de arte, o MACAM junta, no mesmo espaço, um museu e um hotel de cinco estrelas, um conceito inovador e o primeiro do género, tanto em Portugal como na Europa. Instalado no histórico Palácio Condes da Ribeira Grande, que remonta ao início do século XVIII, na Rua da Junqueira, o MACAM é uma das adições mais inovadoras à cena cultural de Lisboa.
Descrito como A Casa das Coleções Privadas, o museu acolhe, além da coleção do seu fundador – uma das mais relevantes do país, iniciada em 1974 e que inclui mais de 600 obras de arte moderna e contemporânea, nacionais e internacionais, desde o final do século XIX até à atualidade -, coleções de outros colecionadores privados. A par de exposições permanentes e temporárias, o MACAM oferece também um programa cultural diversificado. Destaque para a capela restaurada, transformada em bar e palco de artes performativas, e para as obras site-specific de artistas como José Pedro Croft, Carlos Aires e Angela Bulloch.
Pavilhão Julião Sarmento
Inaugurou no mês passado aquele que é um centro de arte dedicado à coleção privada do artista e colecionador português Julião Sarmento (1948–2021), iniciada em 1967 e composta por mais de mil obras, incluindo pinturas, esculturas, vídeos, instalações e objetos. De referir que apenas cinco por cento das peças foram adquiridas; as restantes resultam de trocas ou ofertas de outros artistas e colecionadores. Localizado na Avenida da Índia, em Belém, o edifício municipal, antigo armazém de alimentos presumivelmente construído no final do século XIX, foi adaptado para servir como centro de arte contemporânea, tendo o projeto arquitetónico sido concebido pelo arquiteto João Luís Carrilho da Graça, a pedido do próprio artista.
Sob a direção artística de Isabel Carlos, o Pavilhão Julião Sarmento propõe uma programação interdisciplinar que vai além das exposições tradicionais, incorporando cinema, literatura, música, moda e outras formas de expressão artística. O objetivo é criar um centro de arte vivo, orientado para a experimentação, a produção e o cruzamento de conhecimentos artísticos, refletindo o espírito transversal que caracterizou a vida e a obra de Sarmento. O Pavilhão abriu com a exposição Take 1, em homenagem à diversidade de expressões artísticas que sempre o atraíram, sendo o cinema uma das principais.
Espaço Coleção Arte Contemporânea Lisboa Cultura
Recém-inaugurado, este novo espaço vai receber diferentes exposições com base na Coleção de Arte Contemporânea da Câmara Municipal de Lisboa (CML), que já conta com mais de 200 peças e cerca de 130 artistas representados. WHO WHERE / QUEM ONDE, a primeira destas exposições temporárias em torno e a partir da coleção, apresenta cerca de 50 peças de 30 artistas, como Ângela Ferreira, António Bolota, Diogo Evangelista, Eduardo Batarda, Fernanda Fragateiro, Francisco Tropa, Gabriel Abrantes, Jorge Queiroz, Jorge Molder, Luísa Cunha, Paulo Brighenti, Rui Chafes, Rui Toscano e Vasco Araújo. Mostrando tanto as aquisições de obras de arte realizadas pelo município para a sua coleção em 2024, como as adquiridas em anos anteriores, a exposição revela a amplitude e diversidade conceptual e formal desta coleção de arte contemporânea.
O Espaço C e as obras que o irão habitar, de diferentes modos e formulações ao longo dos próximos tempos, reafirma a vontade da CML de continuar a constituir e desenvolver a sua coleção, com a perspetiva de, no futuro, integrar outros autores e ampliar a representatividade dos que a compõem. Além do apoio ao tecido artístico contemporâneo, a coleção da CML constitui-se também como um incentivo ao colecionismo. Tornar esta coleção acessível vai permitir a criação de uma memória intergeracional; contribuir para transmitir a experiência vivida por uma geração para a outra, relembrar o nosso presente, as lutas, as resistências, as liberdades, as éticas, que devem fazer parte de todos os futuros, e sobreviver.
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