Filipe Cortez

Exúvia, título da exposição que Filipe Cortez apresenta na Acervo, é o nome da carapaça (ou pele) largada por insetos, crustáceos, aracnídeos e répteis como consequência do processo de crescimento; nelas está gravada, não só a configuração do corpo, mas também as adversidades com que esse corpo se defrontou. Assim, constitui-se como um elemento identitário autonomizado porque, ao mesmo tempo que se refere às características morfológicas da espécie a que pertence, regista ainda as marcadas e cicatrizes, deformações e malformações de cada ser individual assumindo-se assim como um retrato singular. Permanece, por isso, uma memória preservada nestas cascas esvaziadas de corpo que, mesmo quando retiradas do seu contexto, transportam uma realidade cristalizada.

O trabalho que Filipe Cortez apresenta assenta, precisamente, o seu processo neste conceito: a fixação de uma memória que manifesta as relações com um espaço ou objeto. A sua prática resulta de um reconhecimento das dimensões plásticas, pictóricas ou formais, das memórias presentes em elementos espaciais – muitas vezes elementos de arquitetura – que são recuperadas pela descamação desses elementos, através de técnicas variadas. Filipe Cortez não se concentra, contudo, na ação de arrancar nem no seu significado, mas antes no efeito da representação de uma caracterização intrínseca, procedente de uma existência e materializada numa imagem que é identitária.

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