Daniela Ângelo
Babuíno talimã
A um só tempo sólidas e diáfanas, totêmicas e talismânicas, as imagens de Daniela Ângelo possuem o condão de abrir passagens entre temporalidades e mundos tão diversos quanto distantes entre si.
São corpos escultóricos gravados na emulsão bidimensional do celulóide —seres e artefatos cujas naturezas e origens foram esvanecidas pela lente da artista com o intuito de obliterar o ímpeto taxonômico a reger epistemologias ocidentais. Nesta toada, objetos colecionados por museus de arqueologia e história natural espalhados pela Europa convertem-se em espécies de talismã, entes capazes de produzir uma ação à distância, conectando a cultura orgânica e material às insondáveis forças ocultas do universo; ou, dito de outro modo, entes capazes de nos aproximar do desconhecido.
Registradas no filme, as imagens de Ângelo não necessariamente representam objeto algum, mas antes conformam uma sorte de anomalia ou miragem, numa operação plástica que acaba mesmo por trair a condição ontológica de elementos cientificamente tipificados. Ao desvelar a natureza opaca dos museus —que arbitrariamente sistematizam conhecimento sobre artefatos espoliados das mais variadas culturas, não raro desconhecendo a natureza primeira ou mesmo oculta das peças que coleciona—, as imagens nesta mostra vão transfigurar tanto o campo simbólico quanto o tangível. Ao passo em que forjam uma dimensão fantasma, lançam sombra sobre as coisas que dão sustentação à dita realidade, seja ela histórica, científica, material ou mesmo espiritual.
Bernardo José de Souza
Terça a domingo, das 10h às 13h/14h às 18h
Ficha técnica:
Curadoria Bernardo José de Souza
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