Carlos Oliveira Cruz

É preciso descobrir o que no nosso subconsciente perdura. E no meu caminho da fotografia regresso sempre às estruturas e nelas à simples e complexa geometria. Mesmo na perseguição inevitável da luz e do encontro sempre desejado entre a linha e os círculos, a geometria indica-nos as pistas, as linhas estéticas e únicas.
Como ensina Almada Negreiros “a Geometria é elegante e deixa depois a cada um a desolcutação sibilina”. É nesse processo de redescoberta que me centrei em dezenas de arquivos onde se encontra a minha “programação discursivamente geométrica”.
Numa palavra: encontrar as geometrias é uma imensa aventura e procurá-la, através da fotografia, é um caminho sedutor e gratificante.
Guiando-me pelas orientações do Mestre Almada, encontrei as linhas de Mondrian, mas apesar de uma certa persistência não descobri ainda o “suprematismo” de Malevitch e muito menos o “duplo quadrado” do arquitecto Lund e a “divisão do círculo” de Ernest Moesel.
Tanto caminho para trilhar, mas as geometrias lá estão ao nosso dispor na paisagem, na antiga e nova arquitectura, na pintura e escultura e mesmo na mera intervenção humana ao longo de milénios, quando tenta com engenho e, por vezes com excessiva força, domesticar a terra que herdou.
São os sulcos na terra lavrada, é a linha geométrica e rude das salinas, é a curva perdida desenhada nos céus inesperadamente sem fim visível.
Esta exposição é o resultado de uma escolha de imagens, recolhida em múltiplos locais e acidentais ocasiões. Como sempre, gosto do acaso como método de procura. Encontrar o acaso é, em si mesmo, um acto de reflexão criativa. Na minha “arca de segredos” outras escolhas poderiam se feitas. Esta é a exposição que resultou de um lento e necessário “tempo” de maturação.
Ficou por encontrar “o duplo quadrado” e a correcta “divisão do círculo”
Tanto caminho para andar.

Carlos Oliveira Cruz

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