Apesar de jovem e ainda em começo de carreira, o compositor é considerado um músico de grande maturidade e solidez, como prova a sonoridade do seu disco de estreia Sopros. Fazendo-se acompanhar por Joaquim Festas (guitarra elétrica), Miguel Meirinhos (piano) e Gonçalo Ribeiro (bateria), João Próspero traz ao Jazz em Agosto a sua leitura da obra literária de Haruki Murakami. Neste concerto, agendado para 5 de agosto no Anfiteatro ao Ar Livre do

Jardim Gulbenkian, o quarteto irá navegar “entre a poesia e a tensão, o mistério e o dramatismo, a obsessão e a estranheza”, seguindo diversas pistas dos livros do escritor japonês para construir um repertório que procura “criar narrativas inquietantes e enigmáticas”.

Kris Davis Trio

Jazz em Agosto – Fundação Calouste Gulbenkian
2 de agosto

Enquanto músico de jazz, esta sugestão de João Próspero não surpreende. Trata-se de um concerto inserido no festival onde também irá tocar: “a primeira vez que ouvi a música de Kris Davis foi no disco The Distance de Michael Formanek, com o Ensemble Kolossus. Não me custa admitir a forma como me marcou e como, desde então, tenho seguido obsessivamente o trabalho da pianista, chegando a extrapolá-lo até para dentro do meu próprio universo musical”. Por coincidência, o trio de Davis irá tocar uns dias antes do quarteto de Próspero. “Quando me chegou aos ouvidos a vinda do seu trio ao Jazz em Agosto, tornou-se mais do que evidente que o encaixaria em qualquer recomendação musical que viesse a fazer ao longo de 2025″. Sobre o novo trabalho deste trio, o músico português tem o seguinte a dizer: “Run the Gauntlet é um perfeito retrato do ethos musical de Davis, onde a escrita é entusiasmante e a execução inabalável.”

Drag Race, 2023

Drag Race, de Joana Vasconcelos

Até 30 de novembro
Museu de Artes Decorativas Portuguesas da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva

Conhecida pelas suas obras impactantes e surpreendentes, Joana Vasconcelos tem uma nova exposição, que não deixou o músico indiferente: “ É um nome incontornável do espólio artístico português e, nesse sentido, as minhas palavras nada trarão de novidade. O que me moveu neste seu último trabalho é a ligação que a artista estabelece entre os três pontos de um triângulo subversivo: carros clássicos, ornamentação barroca e a cultura drag. Neste novelo de mundos aparentemente incontactáveis, Vasconcelos funde o imiscível, criando um novo elemento, decorado a ouro e cachecóis plumas. Quem me conhece sabe que sou um acérrimo fã do drag e do transformismo e, como tal, revejo-me muito neste tipo de trabalhos.”

Variações para Carlos Paredes 

Até 18 de janeiro
Museu do Fado

“Apesar de ser português, acabei por nunca desenvolver uma grande afinidade pelo fado”, confessa-nos o músico de jazz. No entanto, “nos últimos tempos, a direção mudou ligeiramente e acabei por me ver confrontado por ele (há quem diga que era inevitável). Acima de tudo, o que me mais surpreendeu foi a estreita ligação que existe entre o fado e jazz, e que a minha ingenuidade nunca me permitiu ver, apesar de registos discográficos como Dialogues, que juntam o gigante Charlie Haden com o nosso, não menos impactante, Carlos Paredes.” A exposição Variações para Carlos Paredes, no Museu do Fado, é também “um convite para que me acompanhem aqueles de vocês que ainda não tenham sentido a força incontornável que é o Fado”, afirma.

A Boneca de Kokoschka

Livro de Afonso Cruz
Quetzal

O instrumentista sugere a leitura de A Boneca de Kokoschka, obra recomendada por um familiar num almoço de domingo. “Tendo recentemente terminado Pão Seco, de Mohamed Choukri (fica também a recomendação!), estava, por coincidência, a farejar novas possibilidades.” O livro segue a história de Isaac Dresner, “um jovem judeu que habita numa Alemanhã devastada pela Segunda Grande Guerra e que, depois de ver o seu amigo morrer a tiro, se refugia numa velha loja de pássaros onde, durante os próximos tempos, encarnará a esquizofrenia de Bonifaz Vogel, ensinando-lhe a arte de rezar e a de negociar o preço dos canários”. A Boneca de Kokoschka foi a porta de entrada para o universo de Afonso Cruz, cuja “habilidosa maneira de narrar retrata uma realidade surrealista e não muito distante”. Um livro marcante do ponto de vista do músico, que considera a escrita de Cruz “vibrante e tremendamente irónica”. “Gera uma leitura deliciosa, que certamente permanecerá comigo durante os próximos tempos.”

Monster  

Série de animação de Naoki Urasawa

“Um tipo de media fundamental, profundamente embebido na cultura nipónica são as mangas e as suas versões animadas, os animes”. Fã confesso da cultura asiática, João Próspero sugere “uma série dentro deste estilo que, para mim, será das melhores de todos os tempos”, diz. Trata-se de Monster, “um thriller psicológico a não perder”. A série “conta a história de um cirurgião japonês residente na Alemanha que, apesar de um futuro promissor como diretor de serviço, se vê confrontado com uma série de dilemas esmagadores que o fazem pôr em causa a integridade de toda a humanidade”. A forte relação do compositor com a cultura japonesa está bem presente no seu trabalho: “autores como Murakami, realizadores como Kurosawa, designers de jogos de vídeo como Kojima, são todos fontes de inspiração que orbitam pelo meu universo musical”.

As lojas abriram há menos de uma hora e a movimentação vai-se espalhando, sem pressa, pelo Centro Comercial Colombo. Na praça central, não parecem ser as montras nem os saldos a atrair as atenções, mas sim umas tapeçarias imponentes que lembram seres vindos do fundo do mar. Mergulho. As Paisagens de Vanessa Barragão mostra o trabalho da artista algarvia, no âmbito do projeto “A Arte Chegou ao Colombo” – peças feitas com desperdícios de lã (algumas delas expostas pela primeira vez) e que vão deixando fascinados os que por ali passam.

“É muito interessante ter uma exposição no centro comercial, porque significa que as pessoas não têm de ir ao museu para ver arte. É o museu vem até elas e acredito que isso lhes desperte um lado mais artístico. Às vezes, até pode fazer diferença nas suas vidas”, afirma Vanessa Barragão. “Penso que pode até ser uma inspiração para muita gente, já que a maioria não acredita que desenvolver estas técnicas antigas possa ser um trabalho e, aqui, mostro que sim”, continua a artista de 33 anos, que aprendeu croché em criança com as avós. “Nós, jovens, devemos lançar um novo olhar sobre estas técnicas”, sublinha Vanessa, que tirou o curso de Design de Moda e sempre gostou de fazer as suas próprias roupas à mão.

A viver em Albufeira, onde nasceu, desde cedo que olha para o mar como uma inspiração. Quando começou a explorar artisticamente o croché, a esmirna e outros pontos de agulhas, foi lá que encontrou o imaginário que reinterpreta nas suas obras, usando-as também como uma chamada de atenção. “A minha ideia é relembrar como o oceano é lindo e como o planeta onde vivemos é maravilhoso. Somos os principais causadores da sua destruição, mas se não nos esquecermos de quão belo é, talvez seja mais fácil querermos defendê-lo.”

Tapeçarias com vida

Mergulho. As Paisagens de Vanessa Barragão está organizada em três partes distintas e, ao longo da exposição, podemos ver a evolução do trabalho da artista desde o início e a forma como as suas peças foram ganhando força e tridimensionalidade. “Comecei a fazer tapeçarias simples, numa tela, e depois tapetes para o chão, mas fui explorando outras técnicas. As mais recentes são menos estáticas, parece que respiram e ganham vida”.

Num dos lados da praça central, podemos ter uma ideia de como é o seu ateliê em Albufeira e como funciona o processo criativo, assim como espreitar as ferramentas e os materiais que usa. Numa das paredes, uma peça ainda em construção; mais ao lado, um monte com fiadas de lãs; noutra parede, algumas fotografias, incluindo um retrato da equipa de oito pessoas que Vanessa juntou (entre elas, o avô, a mãe e a irmã).

Do outro lado da exposição, está o espaço a que a artista chama o white cube, uma zona branca com as peças na parede, como se se tratasse de um museu ou galeria. É aqui que se exibe uma das tapeçarias mais especiais desta coleção. Perpétua tem tons de branco, bege, rosas e verdes claros e, com um olhar atento, descobrem-se, penduradas, pequenas pérolas em forma de lágrima. Vanessa batizou-a com o nome da avó, falecida no ano passado, uma das que a guiou nos primeiros pontos e que acompanhou de perto o seu trabalho. A avó Perpétua chegou mesmo a colaborar no início desta peça, que depois ficou de lado até a neta ter voltado a ela recentemente. “Foi ela a pioneira, ensinou-me a fazer croché e foi a partir dessa experiência que nasceu o meu gosto pelas artes manuais. Esteve sempre comigo no ateliê. Perpétua é uma homenagem que lhe faço.”

Mergulho profundo

Entre estas duas zonas da mostra, fica a sala imersiva de Mergulho, que faz arregalar ainda mais os olhos de quem entra neste espaço a meia luz e se vê envolvido pela música e os vídeos inspirados nas obras de Vanessa – um ambiente com direção criativa multimédia do Grandpa´s Studio e composição musical de André Cardoso. Ali, podemos andar por entre as esculturas têxteis penduradas do teto e por entre tapetes no chão, a lembrar a diversidade da vida marinha: anémonas, esponjas e corais, rochas e vegetação, medusas.

“É uma parte mais sensorial. A ideia é que as pessoas descubram aquele lugar, tal como fazem quando estão a mergulhar”, descreve a artista. “É daí que vem o nome da exposição. Gostava que quem vem mergulhasse no meu trabalho, no meu processo criativo e nas peças, e que tivesse mesmo essa sensação de estar a mergulhar no oceano.”

Com tapeçarias expostas no aeroporto de Heathrow em Londres, na sede da ONU em Nova Iorque ou em museus na China, Vanessa Barragão vai costurando os seus fios de lã pelo mundo. Até 31 de agosto, o fundo do mar está já aqui, na praça central do Colombo. Bons mergulhos.

Acabou de estar em palco com o Teatro Praga, no espetáculo Audição, e não deve parar tão cedo. Alex D’Alva Teixeira, músico, dj, cantor, designer, ator, entusiasta de moda, enfim, artista multifacetado, é também o curador da próxima noite do ciclo 18h às 02h no LuxFrágil, a 31 de julho. “Fui surpreendido com o convite e acabei por convidar pessoas de quem tenho estado mais próximo no contexto de festivais e com quem ultimamente tenho vivido a noite lisboeta”, diz.

A abrir a programação, Alex terá a companhia de Sónia Trópicos para pôr música no terraço, segue-se um concerto inédito de Larie e Surma, que terão artistas convidados, numa segunda versão de um espetáculo comissionado pelo festival A Porta, e, por fim, a cabine do bar recebe os djs Umafricana e Banu.

“O Lux é a casa de diversão noturna mais emblemática de Lisboa. Todos os artistas internacionais de que gosto vão sempre lá parar. Primeiro achei que não estaria à altura e senti o peso da responsabilidade, mas depois senti que era super fixe estarem a convidar-me para dar a minha visão àquele espaço”, conta Alex D’Alva Teixeira que resgatou as suas memórias do LuxFrágil, como a primeira vez que lá entrou para ver uma das míticas Hard Ass Sessions, da editora Enchufada, ou os concertos das Cansei de Ser Sexy, de Best Youth ou de Best Coast.

Antes do Lux, já esta sexta-feira, dia 25, o músico vai estar, no Palácio do Grilo, a pôr música em mais uma festa da Quiscoteca. Desta vez, o tema são os álbuns Now – Now That’s What I Call Music!, compilações musicais que existem desde os anos 80 do século passado. “Vai ser muita nostalgia. Vamos transformar o palácio numa máquina do tempo”, afirma. É exatamente nesse dia que acontece também uma outra festa, com que Alex dá início às suas sugestões para esta semana.

Planeta Manas’ Closing Party

25 e 26 de julho
Planeta Manas (Prior Velho)

Acontece das 23h59 de 25 de julho ao meio-dia de 26, aquela que é a festa de despedida do Planeta Manas. Organizada pela Mina, associação cultural queer e feminista, promete ser uma noite/manhã de emoções. “É o clube underground mais importante dos últimos anos, em Lisboa – não só pela liberdade artística que é oferecida a quem lá toca, mas também à comunidade que conseguiram criar em torno do espaço. É um sítio onde se celebra liberdade, valores de comunidade e respeito mútuo”, descreve Alex D’Alva Teixeira. “Vai ser uma festa mesmo muito especial e muito emotiva. Espero que encontrem um novo espaço onde as pessoas se possam reunir e divertir, porque o ambiente que se vive ali nunca encontrei em lado nenhum, nem mesmo quando estive em festas em Londres, no Brasil ou na Alemanha. Não há nada que seja assim tão especial. O que estas pessoas construíram é mesmo único.”

Reparations Baby! , de Marco Mendonça

Até 27 de julho
Teatro Variedades

A nova peça de teatro de Marco Mendonça sobre racismo estrutural entra na última semana de apresentações e é uma das sugestões de Alex. “Não sei se está catalogado como uma comédia, mas amei como trata de um tema que é sensível de forma leve, divertida e acessível. Ri imenso durante todo o espetáculo. Recomendo vivamente. É surpreendente, porque ali vemos como pessoas diferentes pensam sobre o assunto.”

Cosmic Sans, de Jorge Jácome

Até 27 de julho
Teatro Variedades

No foyer do Teatro Variedades, antes de entrar para o espetáculo ou depois de se sair, está em exibição uma curta-metragem de Jorge Jácome, coescrita com André e. Teodósio. “Achei muito engraçado. É interessante ver como é utilizado o cinema enquanto ferramenta que nos faz questionar – não só as propostas que o texto coloca sobre a nossa experiência enquanto humanidade, mas também os limites entre videoarte, instalação e uma peça cinematográfica”, nota o músico. “Faz-nos pensar e rir – e nos tempos que estamos a viver atualmente, rir é mega importante, precisamos desse escapismo.”

Ciguatera, de Diana Policarpo

Até 28 julho
Centro de Arte Moderna da Fundação C. Gulbenkian

“É a última semana para ver a instalação da Diana Policarpo e acho que ninguém a deve perder”, começa por dizer Alex. “É a maior instalação, até à data, que criou e é uma experiência mesmo imersiva. Pensamos no oceano a partir da perspetiva de um peixe e acaba por ser mesmo envolvente. Parece que nos convida mesmo a ir ao fundo do mar e a pensá-lo dessa perspetiva.”

Who Where / Quem Onde

Até 7 setembro
Espaço Coleção Arte Contemporânea – Lisboa Cultura

Na exposição Who Where / Quem Onde estão reunidas cerca de 50 peças de arte contemporânea adquiridas pela Câmara Municipal de Lisboa nos últimos anos. “Podemos ver ali obras de vários artistas, como Paulo Lisboa, Diana Policarpo, Ana Vidigal, Ana Jota e muitos outros. É uma bonita curadoria, feita pela Sara Antónia Matos e o Pedro Faro”, destaca o músico que teve “o privilégio”, conta, de tocar na inauguração da mostra. “Recomendo a toda a gente conhecer as Galerias Municipais e, muito particularmente, esta, que era a Galeria da Avenida da Índia e que agora passou a ser o Espaço Coleção Arte Contemporânea – Lisboa Cultura”, destinado a expor o acervo municipal.

Vivienne Westwood: O Salto da Tigresa

Até 12 outubro
MUDE – Museu do Design

Com curadoria da Anabela Becho, esta nova exposição do MUDE reúne cerca de 50 peças da britânica Vivienne Westwood. “É uma das designers que considero ser das mais influentes e icónicas na história da moda. A sua influência transcendeu a moda e chegou a outras áreas, como a música. É quase como se tivesse criado a estética do punk rock. Era quem fazia a roupa dos Sex Pistols, por exemplo. Essa influência foi evoluindo ao longo dos anos e é interessante podermos comparar as peças que criou com peças reais – entenda-se, da aristocracia de outra época – mas também perceber a forma como estudou a volumetria e a anatomia, tal como a arte da confeção e o corpo da mulher, para a criação das suas peças.” Uma sugestão mesmo a não perder, considera Alex D’Alva Teixeira, que ainda dá mais um argumento: “Além disso, nunca tinha estado naquele piso do museu, com uma série de cofres do antigo banco”.

Risoma

Até 23 outubro
Estúdio Desisto

Todas as quintas-feiras, das 11 às 17h30, o estúdio de design gráfico Desisto abre portas para mostrar uma exposição dedicada à risografia, que reúne trabalhos de vários artistas nacionais e internacionais. “São mais de 50 peças, criadas para esta mostra. Ali podemos conhecer a técnica da risografia, uma técnica de impressão muito especial, mas também podemos conhecer um dos estúdios de design mais interessantes de Lisboa, onde acontecem também conversas e workshops e onde se podem aprender coisas relacionadas com o design e com a risografia”, descreve Alex. “Não é comum um estúdio de design ter uma espécie de dia aberto, por isso acho esta iniciativa super interessante.”

Começou a estudar música muito cedo. Quando percebeu que tinha talento para a música?

À semelhança de tantas, comecei a estudar música em criança. No entanto, com a diferença de ter crescido num ambiente propício ao desenvolvimento do interesse pela música, com um pai que era músico profissional e uma mãe muito interessada nas artes cénicas. Acabei por passar muito tempo a assistir aos bastidores de todo o tipo de ensaios de concertos e de produções artísticas, o que me levou a ficar com esse bichinho.

Foi difícil escolher o instrumento que queria estudar?

Foi difícil porque tenho muito interesse por todo o tipo de instrumentos. Daí ter aterrado mais tarde na percussão, por ter esta paleta ilimitada que só a própria imaginação define. Acabei por ficar pela família de instrumentos de percussão pelas possibilidades que oferecem. Daí, a minha primeira paixão ser também a orquestra, já que é o epítome dessa descoberta sonora, porque é um instrumento que não só é feito por múltiplos instrumentos, mas, muito melhor do que isso, é feito por pessoas que estão ali por trás, através do legado das partituras. Uma coisa são os livros, as partituras, as pautas, que nos deixaram grandes criadores e criadoras. Outra coisa é o momento em que nasce a música, quando essas pessoas se reúnem à volta desses livros. De facto, a música também pode ser uma arte social. Eu sempre estive mais interessado na vertente mais social da música, pelo lado de laboratório que tem a construção de imaginar novos sons, novos instrumentos, novas formas de tocar, mas também da orquestra, por também ter esse lado de experimentação sonora e social, de poder interagir com outros artífices sonoros, que são os músicos, na descoberta de outras sonoridades. E claro, com a descoberta destas sonoridades vem também a descoberta de outras formas de conhecimento, de outras formas de expressões possíveis nesse âmbito de expressões infinitas que o ser humano tem, tanto individual como coletivamente.

Para se ser um músico de sucesso é necessário ter um talento inato ou é possível apenas com trabalho?

Isso é uma pergunta muito interessante. Ultimamente até se tem debatido muito sobre o que é o talento. Culturalmente, existe uma noção do que é a habilidade, de uma pessoa ter uma habilidade fantástica para um determinado desporto, por exemplo, e cria-se a ideia de que não é preciso trabalhar porque há um talento natural. Aliás, há uma série de programas que a reality TV trouxe e que permite às pessoas mostrarem os seus talentos e as suas paixões. No entanto, isso pode passar a ideia de que um talento artístico apenas é possível se a pessoa tiver uma habilidade natural para aquela atividade. Para ser artista não basta gostar, é preciso querer muito. Claro que ter sensibilidade para os sons e uma certa velocidade de processamento poderá ser um bónus, mas é preciso ter uma resiliência extraordinária. É preciso ter vontade de trabalho, disciplina e uma vontade enorme de passar pelo processo, que, no caso de aprender um instrumento musical, passa por estar sozinho durante períodos consideráveis, com frequência diária, para apreender uma série de competências. É preciso ter uma apetência natural pelo processo de se tornar músico. Acima de tudo, é preciso ter vontade para o trabalho.

Para além de tocar vários instrumentos e de ser maestro, também é compositor. Como gere todas estas facetas?

Esta minha paixão pelas diversas facetas da música tem a ver com uma curiosidade que sempre tive de tentar desmontar qualquer mecanismo para perceber como é que funciona ,e a seguir, voltar a montá-lo. Comecei a compor também pela curiosidade de saber como é, para um compositor, sentar-se e lidar com a página em branco. Não são atividades que faço todos os dias das dez ao meio-dia. Para mim foi sempre uma forma de me equipar da forma mais íntegra, mais holística e perceber todo o processo para, quando estou a dirigir uma orquestra, ter uma noção muito clara do que é tocar um instrumento, do que é organizar um concerto, do que é escrever uma peça. Gosto de perceber o que é que o músico sente quando entra em palco e de qual é a expectativa do público. Também é muito interessante utilizar a música como uma linguagem. Podemos reunir, à volta de uma partitura, um grupo de pessoas de idades diferentes, com experiências diferentes, que podem nem sequer falar o mesmo idioma e elas conseguirem comunicar.

É também cofundador, diretor artístico e maestro titular da Orquestra de Câmara Portuguesa (OCP), que fundou em 2007, e da Jovem Orquestra Portuguesa (JOP), fundada em 2010. O que o levou a criar duas orquestras de raiz?

Há 18 anos juntei-me a Teresa Simas e a Alexandre Dias para fundar a OCP. Na altura, não existiam projetos em Portugal que criassem oportunidades para novos maestros e novos intérpretes. Isso era algo que não existia, pelo menos da forma como nós imaginávamos. Imaginámos também que toda a hierarquia da orquestra seria um bocadinho dissolvida e que os músicos teriam oportunidades mais equilibradas entre eles. As orquestras nasceram por volta de 1600 e no auge do romantismo musical cristalizaram-se, com todas as posições hierárquicas bem definidas. Na altura, fazia-nos sentido ter um coletivo de músicos que partilhasse essas responsabilidades de forma a poder fazer ensaios que fossem mais democráticos, no sentido em que os músicos pudessem partilhar as suas ideias e preocupações. No fundo, trazer um bocadinho da filosofia do Alexandre Dias, da dança da Teresa Simas, e do meu universo musical, para ali. Ao longo destes 18 anos foram nascendo uma série de projetos: a JOP; a Orquestra dos Navegadores, que é uma orquestra de crianças, um projeto social que temos em Oeiras; e também o Notas de Contacto, uma miniorquestra de pessoas com deficiência intelectual, que funciona há mais de 15 anos em parceria com a Cerci de Oeiras. Somos uma mini-fundação com todas estas iniciativas cujo objetivo é inspirar músicos e artistas a transformarem o mundo.

A JOP nasceu em 2010, sob direção artística do maestro Pedro Carneiro  ©Bruno Vicente

De que forma se podem cativar novos públicos para a música clássica?

A orquestra produz algo que é imaterial, não é uma coisa palpável, mas é concreta, e por isso é uma experiência transformadora e eterna, porque muda a pessoa que a vive, o seu próprio comportamento e a sua essência, que irá, por sua vez, transformar os outros. Existe a ideia de que a música clássica tem um público muito envelhecido. É difícil trazer novos públicos porque a multidimensionalidade da música clássica faz com que seja desafiante ouvi-la. Não faço parte do grupo de arautos que estão permanentemente a querer simplificar a música clássica. Nós queremos é trazer as pessoas para dentro desta experiência, por isso é que tentamos inovar de várias formas: fizemo-lo, o ano passado, com a JOP quando lançámos o desafio aos músicos de tocarem a Sinfonia do Novo Mundo de Dvorák completamente de cor, sem partituras; metemos a orquestra a tocar de pé; a Jovem Orquestra Portuguesa todos os dias tem uma aula de consciência corporal (que pode ser yoga ou hip hop), e pretendemos também receber uma série de tertúlias. Este verão, vamos ter a Inês Pedrosa, que nos vem falar sobre a música das palavras. Vamos também ter pessoas a falar de sustentabilidade e de muitas outras coisas. Queremos abrir um bocadinho o leque de possibilidades para que estes jovens músicos e todos os que colaboram connosco possam contribuir, através da sua arte, de forma mais eficaz para pôr a sociedade a ouvir música clássica.

Compõe para teatro, dança e cinema. Isso prova que a música é uma das mais ricas formas de arte, porque toca em todas as outras?

A música também tem limitações. Processa-se no agora, é necessário passarmos pela experiência do início ao fim. Por isso é que ouvir música contemporânea, mais abstrata, é tão desafiante. Se olharmos para um quadro com uma banana colada com fita cola na parede, podemos ficar a olhar, sair, passear livremente pelo museu de arte contemporânea e ficar o tempo que quisermos, no ângulo que quisermos. A música, para se perceber, tem de se passar pelo todo, sendo que é uma arte temporal. Tem a capacidade de ser tantas coisas diferentes e de servir tantos propósitos… Repare, numa cena aterradora de um filme, se pusermos uma valsinha com um acordeão, aquilo de repente já não é assim tão assustador. Também há música que pode potenciar uma bela soneca, aliás, é fantástico quando as pessoas adormecem nos concertos porque a música também pode induzir o sono. A música tanto pode servir de banda sonora num elevador, como para reunir um grupo de melómanos tão aficionados que atravessam fronteiras para ir ouvir uma determinada ópera…

Como se gere o erro numa orquestra? Que papel tem o maestro?

Há várias formas de falhar. Uma, por exemplo, é fazer uma espécie de quiet quitting, que é tocar tudo o que está escrito, mas sem grande envolvimento. Às vezes, os concertos mais interessantes são aqueles onde acontece um disparate, que pode ser alguém que arriscou tanto e que falhou, mas que inspirou todas as outras pessoas a sair fora da zona de conforto. Numa época, vamos-lhe chamar pré-gramofone, onde as pessoas podiam tocar sem o concerto ser visualizado posteriormente, o risco era imensamente apreciado. Quando as pessoas assistem a um concerto, não vão ouvir a versão definitiva. Vão ouvir o que é que surge naquele momento. Um concerto é como uma refeição feita naquele momento: nós sabemos que tem todos os ingredientes, mas naquele dia tem um twist especial. O maestro, como não está a tocar nenhum instrumento, tem a maior acuidade auditiva para poder guiar os músicos. Cada músico tem uma esfera à sua volta em que consegue ouvir, mas depois é muito difícil, no meio de um naipe de violinos alargado, conseguir escutar o outro lado da orquestra. Portanto, o maestro serve como uma espécie de GPS, é os ouvidos de todos os músicos. Permite que estes se possam exprimir de forma coletiva e se possam sentir realizados com esse contributo individual no coletivo. Essa comunicação é não verbal, há uma mimética que é feita e que é, também, uma linguagem, por sinal, universal.

Ao longo da sua carreira, tem recebido inúmeros prémios e tocado com diversas orquestras internacionais de prestígio. O que lhe falta fazer?

Gostava de ver, finalmente, um reconhecimento político pelo trabalho que fazemos na JOP. De sentir que não é necessário trabalhar 24 sobre 24 horas para ter os apoios necessários. Não me posso queixar de todo o reconhecimento que tenho mas, do ponto de vista coletivo, do trabalho que fazemos, era algo que gostaria de ver reconhecido para podermos passar a outro patamar, podermos concentrar-nos naquilo que é a nossa missão e não apenas, como tanta gente em Portugal na área da Cultura, na gestão do dia a dia e na angariação de fundos. Seria aí que me sentiria reconhecido como artista em todo o investimento feito nestes últimos 20 anos. Ter uma subsistência financeira que não obrigasse toda a gente a este sobressalto permanente.

Tem algum compositor preferido?

Há pessoas que têm compositores favoritos, isso é absolutamente legítimo, mas há tanta música fascinante… Gosto de ouvir a composição que o Francisco Lima da Silva acabou de fazer para a JOP da mesma forma que gosto de ouvir o Concerto para Violoncelo de Schostakovich, ou o romantismo de Johannes Brahms, ou músicas que nos deixaram compositores do Barroco. Com essa viagem e com esse conhecimento acabamos por perceber que há música que exprime sentimentos que são universais, como acontece com o Teatro ou com a Literatura, e que foram feitas com as ferramentas que as pessoas tinham na época. Sendo músico profissional, faz parte da minha missão interpretar, com o mesmo fulgor, composições com as quais posso não ter afinidade, mas é sempre possível encontrar um ponto de interesse.

A 27 de julho apresenta-se com a JOP no CCB. O que vamos poder ouvir?

Vamos tocar com um violoncelista russo fantástico, o Pavel Gomziakov, que nos traz Dmitri Shostakovich (1906-1975) e o Concerto para Violoncelo, uma peça absolutamente incrível. Depois, temos, do nosso compositor em residência na JOP, o Francisco Lima da Silva, a estreia absoluta da peça Bliss (not), que fala um bocadinho das preocupações que as novas gerações têm com os tempos em que vivemos. Na segunda parte tocamos uma das peças mais inspiradoras do Romantismo, a 2ª Sinfonia de Brahms, carregada de alegria e júbilo do início ao fim. Tudo isto num palco cheio de jovens e talentosos músicos. Melhor receita para um bom fim de tarde não poderia haver.

Do cruzamento vivo entre as artes performativas e visuais, a música e o cinema, nasce o “Camino Irreal” que dá título a esta inédita edição da BoCA, passada simultaneamente em Lisboa e Madrid, reforçando, no entender da direção da bienal, “o eixo ibérico de criação e apresentação artística”.

Para John Romão, na última vez que dirige a programação (o curador é, desde abril, o diretor artístico nomeado para Évora 2027 – Capital Europeia da Cultura), trata-se de “um convite ao desvio, ao deslocamento simbólico e à possibilidade de reconfigurar o lugar do artista e do espectador” nesta “realidade atual cada vez mais distorcida”. E, se a era da pós-verdade já impôs uma percepção da realidade, de tal modo que “questionamos tudo o que julgávamos adquirido”, acredita Romão serem os artistas aqueles a quem cabe “trazer os novos imaginários capazes de a contrariar”. Talvez por isso, as dezenas de artistas envolvidos nesta BoCA apostam em projetos desviantes e de resistência.

O primeiro grande momento desse “desvio” cabe ao músico Dino D’Santiago que, a convite de Romão, aceitou o desafio de montar uma ópera em cinco atos onde “cruza história, cultura e a identidade multicultural portuguesa”. Adilson, conta o músico, resgata o título ao nome do protagonista, “um homem afrodescendente, nascido em Angola, filho de pais cabo-verdianos, que vive há mais de 40 anos em Portugal sem nunca ter conseguido obter a cidadania portuguesa”. Com libreto de Rui Catalão, a peça entrelaça esta história passada entre o “labirinto burocrático que impede Adilson de ser plenamente reconhecido pelo país onde sempre viveu” com “outros testemunhos de injustiça social e discriminação”. Estreia a 12 de setembro, no Centro Cultural de Belém.

O músico Dino D´Santiago estreia-se na ópera com “Adilson”, um dos projetos mais aguardados desta edição da BoCA

Um par de dias antes, a 10 de setembro, começa oficialmente a bienal com uma obra emblemática de Alberto Cortés, considerado um dos artistas “com maior destaque na cena teatral espanhola da atualidade”. Depois de ter passado pelo Porto, em maio último, Analphabet traz ao Teatro do Bairro Alto “a invenção de um mito queer” através do qual, uma espécie de Peter Pan, “um espírito romântico”, se vai manifestando a casais em crise, “não para curar, mas para revelar”.

Cortés tem ainda outro projeto em curso nesta BoCA, desta feita numa colaboração artística surpreendente com o pintor português João Gabriel. Com estreia agendada para o início de outubro no Teatro de La Abadia, em Madrid, Os Rapazes da Praia Adoro tomacomo referência a intimidade presente no arquivo audiovisual do cinema pornográfico dos anos 70 e 80 [do século XX] que inspira as pinturas de João Gabriel” com a poesia das palavras e dos corpos que se revelavam como paisagens no teatro de Cortés. A peça chega a Lisboa, também ao Teatro do Bairro Alto, nos últimos dias da bienal, a 25 e 26 de outubro, e é uma das colaborações presentes entre criadores portugueses e espanhóis – há peças de Tânia Carvalho com Rocío Guzmán (Nossas Mãos) e de Francisco Camacho com Elena Córdoba (Uma ficção na dobra do mapa).

A pintura de João Gabriel ao encontro do teatro de Alberto Cortés em “Os Rapazes da Praia Adoro”

Com o programa ainda por fechar, e enquanto se aguarda o anúncio de mais artistas, na apresentação à imprensa, Romão apontou como “uma das principais apostas desta edição” a estreia mundial de Coral dos Corpos sem Norte, a mais recente criação do angolano Kiluanji Kia Henda. Para além de um espetáculo sobre a viagem e as migrações, que estreia na Sala Estúdio Valentim de Barros a 20 de setembro, o projeto comporta uma instalação de grande impacto no MAAT, visitável entre 4 de outubro e 3 de novembro, com três ativações performativas, de entrada livre, a 5, 12 e 19 de outubro.

Outro grande destaque da bienal em Lisboa é a mais recente criação de Milo Rau com a dramaturga e ativista francesa Servane Dècle, O Julgamento de Pelicot. Estreada em Viena e depois da passagem pelo Festival de Avignon, chega a Lisboa esta “leitura performativa” que se assume como um tributo a Gisèle Pelicot, mulher que foi vítima de mais de 200 violações sob submissão química ao longo de uma década. Uma peça que procura devolver “a dignidade da voz a quem foi silenciado” para ver, a 11 de outubro, no Panteão Nacional.

Na área do cinema, a BoCA, com a Cinemateca Portuguesa e a Filmoteca Española, apresenta Malamor/ Tainted Love, um ciclo em que os cineastas João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata colocam a sua obra em diálogo com a de outros, como John Waters, Pedro Almodovar, Rainer Werner Fassbinder ou Lucio Fulci. Para além desta “espécie de carta branca”, que decorre simultaneamente em Lisboa e Madrid, há ainda duas criações inéditas: a estreia mundial da curta-metragem 13 Alfinetes, uma encomenda da BoCA dedicada à iconografia de Santo António, também presente na capital espanhola através dos frescos de Goya na Ermida de San Antonio de la Florida; e a instalação fílmica Sem Antes Nem Depois, patente na Sociedade Nacional de Belas Artes a partir de 11 de setembro.

Outros destaques da bienal na capital portuguesa: Toda la Luz del Mediodía, do artista espanhol, residente em Lisboa, Julián Pacómio (a 13 e 14 de setembro); Ocean Cage, “um espetáculo imersivo e poderoso”, inspirado em “histórias dos habitantes de Lamalera”, centradas em “questões de solidariedade, coexistência económica e ecossistemas em vias de desaparecimento”, assinado pelo artista visual chinês Tianzhuo Chen e pelo performer indonésio Siko Setyanto (19 e 20 de setembro);Yo No Tengo Nombre, uma instalação performativa na Estufa Fria da autoria do coletivo teatral catalão El Conde de Torrefiel (de 9 a 15 de outubro); A Beginning #16161D, da dupla espanhola Aurora Bauzà & Pere Jou (a 24 e 25 de outubro); e Totentanz, de Marcos Morau e La Veronal (também a 24 e 25).

Quatro dramaturgos de referência no Museu Nacional do Prado

Na sequência de residências artísticas realizadas no Museu do Prado, em Madrid, Tiago Rodrigues, Patrícia Portela, Angélica Liddell e Rodrigo García escreveram e dirigirem agora criações inspiradas em obras da coleção de um dos maiores museus da Europa, num ciclo intitulado Palavras e Gestos: para uma coleção performativa no Museu do Prado. Explica John Romão que as performances vão ser “apresentadas em quatro salas distintas, têm cerca de 20 minutos, e proporcionam um percurso único que o público é convidado a fazer num Museu do Prado à porta fechada”. Para quem estiver a pensar numa ida a Madrid, anote na agenda que este acontecimento raro decorre a 27 e 28 de setembro e a 4 e 5 de outubro. Desvendada está já a pintura da coleção do museu que inspirou Patrícia Portela e que dará mote à peça que, com uma performer, a dramaturga portuguesa está a preparar: Os Fuzilamentos de 3 de Maio, de Francisco Goya.

Em 2023, lançou o seu disco de estreia, A culpa é da lua, mas antes disso já Soraia Tavares brilhava noutros palcos. Aliando as suas duas paixões, tem feito sobretudo teatro musical, participando em peças como Chicago ou Sonho de uma Noite de Verão, ambas no Teatro da Trindade. De 4 de setembro a 28 de dezembro, volta a pisar esse palco tão familiar para vestir a pele de Alice, a personagem fascinante de Lewis Carroll, numa versão musical encenada por Marco Medeiros. Sobre esta experiência, diz-se “muito expectante”. “Estou feliz por ir fazer esta personagem porque gosto muito de grandes desafios.” O convite surgiu da parte de Diogo Infante, diretor artístico do teatro do Chiado, com quem Soraia já trabalhou noutros projetos.

A 24 deste mês, a artista vai estar no LuxFrágil, em Santa Apolónia, onde irá apresentar um concerto que conta a sua história. “Vai ser especial porque é o meu primeiro concerto em nome próprio. Escolhi o Lux porque queria um circuito mais alternativo, já que a minha música acaba também por ser mais alternativa, devido às minhas raízes cabo-verdianas e portuguesas.” O alinhamento inclui músicas do disco de estreia, mas também outras que foram surgindo, cantadas em português e crioulo. “O foco dos meus concertos é a comunicação com o público. Não sei se está relacionado com o facto de ser atriz, mas essa é a parte de que gosto mais: despertar emoções nas pessoas.”

Reparations Baby! , de Marco Mendonça

Até 27 de julho
Teatro Variedades

A primeira sugestão de Soraia é o novo trabalho de Marco Mendonça, Reparations, Baby!, uma peça sobre racismo estrutural que convida o público a refletir sobre as reparações coloniais portuguesas através do riso. “Vi o Blackface e gostei muito da abordagem do Marco sobre as questões raciais, que é um assunto que muito me toca. Ele gosta de satirizar e acaba por trazer uma comicidade muito grande. Gosto da forma como ele toca em pontos muito importantes em relação ao papel do negro na classe artística.”

Encontrar-me

Livro de Viola Davis
Cultura Editora

“Escolhi o livro que estou a ler atualmente, Finding me (na versão original), a autobiografia da atriz americana Viola Davis, uma das minhas maiores inspirações enquanto artista.” Narrado na primeira pessoa, a obra conta o percurso de Davis desde as suas origens humildes até chegar aos maiores palcos do mundo. “É uma história de resiliência. Ainda vou a meio, mas tem mexido muito comigo pelo facto de a história ser bastante violenta e, apesar disso, ela se ter tornado na mulher forte que é hoje. É um livro que inspira qualquer pessoa.”

Smurfs: o grande filme

De Matt Landon e Chris Miller
Estreia a 17 de julho

A última escolha de Soraia é uma sugestão “mais familiar e que faz parte do nosso imaginário”. Trata-se do novo filme da saga Smurfs, as adoráveis criaturas azuis, que estreia nos cinema portugueses a 17 de julho. Neste novo filme, o Grande Smurf é raptado pelos feiticeiros maléficos Razamel e Gargamel. Smurfina – cuja voz na versão portuguesa é de Soraia Tavares – vai fazer de tudo para, com a ajuda de novos amigos, libertar o seu líder e salvar o universo.

Para Sempre

Assia Petricelli e Sergio Riccardi

É o verdadeiro livro para as férias de verão, esta novela gráfica sobre… as férias de verão de uma adolescente. Uma história que acompanha aqueles dias na praia em que tudo acontece a uma velocidade vertiginosa e é sentido com uma intensidade desenfreada. Nestas páginas, estão as alegrias e as angústias, as paixões e as descobertas, mas também outros temas como os sonhos desfeitos e os sonhos renovados, o amor entre pessoas do mesmo sexo, o consentimento, o preconceito, a violência no namoro, a aceitação da diferença, as definições de beleza. Um livro sobre o crescimento que acontece sempre entre mergulhos no mar e noites de fogueira na praia. Fábula

Duas Almas

Inese Zandere e Anete Bajāre-Babčuka

Muito bonito e poético, este livro vindo da Letónia, tanto pelo texto, como pelas ilustrações. As férias de verão de Alma são passadas numa quinta no campo e é aí que a sua imaginação não encontra limites, seja a antecipar como será o regresso à escola (transformada numa floresta encantada), seja a perceber a vida (e o fim dela) à sua volta. A história de uma menina que se imagina invisível porque deixou de existir, mas a brilhar na memória de quem a recorda, tem abraços, conversas e muito carinho. Com naturalidade, fala-se de morte, mas também de como os dias de verão nos trazem sempre descobertas e mil e uma possibilidades. Orfeu Negro

Como chegar à lua

Nicolás Schuff e Ana Sender

Tem as cores da floresta à noite, este livro que nos conta a aventura de Vicente e do seu avô, durante as férias de verão. Num lugar onde se chega de comboio e onde as árvores parecem gigantes, o rapaz ouve histórias extraordinárias e come uma sobremesa com açúcar mascavado e maças vermelhas. É numa noite de lua cheia que o avô decide levá-lo até ela. Seguem por um caminho da floresta que há de conduzi-los, não só ao corpo celeste, mas também a uma experiência a dois que não hão de esquecer. Nuvem de Letras

Pedrinhas

Jarvis

Um livro que lembra os dias já menos quentes de final de verão, porque fala também de outros finais. As memórias das férias com o avô e dos passeios que os levavam, pelo bosque, até à Praia das Pedrinhas. “Cuidado, para não bateres com a cabeça no céu”, ouvia, sempre que trepava o muro que ficava no caminho. Um areal que era lugar de muitas brincadeiras e de alegria imensa – e onde encontravam sempre pedrinhas que pintavam em conjunto. Uma história carregada de carinho e de saudade, mas que, acima de tudo, regista a felicidade dos bons momentos com as pessoas que nos marcam. Minutos de Leitura

Pim Pam Pum

Maria Girón

Com muita cor, quase se sente o cheiro a verão neste livro. A história é uma espécie de lengalenga cheia de onomatopeias e jogos fonéticos sobre um grupo de amigos que vai aumentando ao passar das páginas, a caminho da praia. Com simplicidade e boa disposição, fala-se de amizade, de brincadeira e de liberdade. Um livro mesmo fresquinho e bem-humorado, vindo da Catalunha, e que recebeu o Prémio Compostela para Álbuns ilustrados. Kalandraka

Licenciou-se em design têxtil e ainda trabalhou mais de uma década na área, até perceber que era ilustração o que mais gostava de fazer. Desde então, Sérgio Condeço tem desenhado muitas coisas diferentes, mas talvez o mais visível sejam os livros infantis. O primeiro, Porque não dormem os gatos, foi editado em 2019; o último, O Urso Papão, saiu há três meses – hoje já soma 16 títulos. Depois de vários espaços partilhados, escolheu ter o seu próprio ateliê e abriu-o ao público, criando o Cebola.

Cebola – um espaço fluido

Numa parede, serigrafias e cartazes, na outra, livros infantis. Por todo o lado, muita cor. No ateliê e loja Cebola, no Bairro de São Miguel, a paleta de tonalidades é tão variada como diversos se querem os que ali entram. Tenham os anos que tiverem, são todos bem-vindos.

“É como me vejo. Continuamos a ser as pessoas que somos, vamos amadurecendo, mas não sei bem onde se deixa de ser criança. Sou esta pessoa colorida, que gosta de desenhos e de histórias e que mistura o trabalho com outras coisas. Quero que este seja um espaço de liberdade, diversidade e respeito pelo outro, que seja fluido. Estamos cá como seres humanos”, resume o ilustrador Sérgio Condeço, que há dois anos montou aqui o seu ateliê, convidando também outros artistas a expor e vender as suas obras.

Cebola ganhou o nome de um dos apelidos da sua família materna. “Eram pessoas bastante ativistas durante o fascismo e achei que seria uma homenagem bonita”, explica, apontando para o símbolo que desenhou, como uma impressão digital.

Todas as quartas-feiras, às 17h45 em ponto, Sérgio abre um dos livros e lê-o em voz alta. “Gosto muito de contar histórias e isso ajuda-me como ilustrador, porque vejo as reações e percebo melhor o que funciona. A escolha do que leio depende da minha disposição, também é o meu momento de terapia. De entrada livre, são 15 a 20 minutos em que entramos numa espécie de espaço paralelo”, descreve, acrescentando que tem visto o Cebola encher-se todas as semanas. “Gostava de começar a contar histórias para adultos.”

Por vezes, acontecem no ateliê outras atividades e oficinas de ilustração. Em qualquer dos dias, quem ali entra pode sempre espreitar o estirador de Sérgio Condeço – depois, é esperar que saia o livro.

Oficina de ilustração, 26 de julho, das 14h30 às 17h. P/ maiores de 6 anos.

 

Pelos arredores do Bairro de São Miguel

Good Company Books

Av. Visconde de Valmor, 2

Um lugar que inspira e delicia – assim se define este café-livraria, aberto em 2004 pela brasileira Giovanna Centeno e o americano Samuel Miller. Com títulos em inglês, por vezes, organizam-se ali apresentações de livros, sempre acompanhadas por um copo de vinho. “Um lugar muito bonito, que até ganhou um prémio da [revista] Monocle. Tem um ambiente de anos 50/60. Está-se muito bem ali.”

Teatro Maria Matos

Av. Frei Miguel Contreiras, 52 / 213 621 648

É o teatro mais perto de casa e do trabalho, por isso Sérgio Condeço não perde uma oportunidade para ir ver o que está em cartaz. À Primeira Vista, com Margarida Vila-Nova, foi a última peça a que assistiu ali. “A Margarida está incrível, duas horas sozinha em palco não é fácil!”, elogia o ilustrador.

À Primeira Vista, até 31 de julho
Deixem o Pimba Em Paz, até 16 de julho
3 Palmas na Mão, 22 e 23 de julho

 

Culturgest

Rua Arco do Cego, 50 / 217 905 155

Seja para ver uma exposição ou um espetáculo, Sérgio Condeço vai com frequência à Culturgest, já perto do Campo Pequeno. “Gosto muito de ir a pé. É um luxo sair de lá, vir a pé para casa e usufruir de 15 minutos de cidade. Tenho a noção do meu privilégio”, afirma, acrescentando que, várias vezes, faz a “dupla” de jantar fora seguido de programa cultural.

PACAP, 8, 17 a 19 julho
Rascunhos Teimosos___Ficções Ardentes, até 28 de setembro
A Colónia, 10 a 13 de julho

 

Cinema City Alvalade

Av. de Roma, 100 / 214 221 030

Sérgio Condeço confessa que não é o maior dos cinéfilos: “Só vou ver filmes que já sei à partida que vou gostar, não sou muito aventureiro nas idas ao cinema”. Ainda assim, quando vai, escolhe o Cinema City Alvalade, por ser “muito calminho”. “E sempre aproveitamos a caminhada até lá”, acrescenta.

Biblioteca Palácio Galveias

Campo Pequeno / 218 173 090

“Gosto muito de ir a esta biblioteca, nem que seja só para me sentar e ficar ali. Tem umas salas lindas e é um espaço amplo e luminoso. Por vezes, aconselho os meus amigos estrangeiros, que precisam de um espaço para trabalharem um bocadinho, a irem lá. Acho que fico orgulhoso por existir um espaço público assim”, diz Sérgio Condeço, que já ali apresentou livros ilustrados por si.

Porgy and Bess + Miles Ahead, 11 de julho

 

Ateliês Municipais dos Coruchéus

Rua Alberto de Oliveira / 218 170 900

Foi criado em 1970 e hoje o edifício dos Ateliês Municipais dos Coruchéus tem a funcionar 50 espaços de trabalho de artistas das áreas da pintura, cerâmica, artes visuais e cinema. “Gosto muito daquele lugar, alguns amigos têm lá ateliês e costumo ir quando há inaugurações e apresentações”, conta Sérgio Condeço. “Agrada-me o ar informal e a envolvência, com o jardim.”

Histórias Cantadas, 19 de julho

“Como repensar o teatro à luz do algoritmo? Como criar espaço para o humano dentro de estruturas tecnológicas digitais?” Foi sobre estas duas questões que Jorge Jácome refletiu quando recebeu o convite do Teatro Nacional D. Maria II e da sua parceira de inovação, a empresa de consultoria tecnológica NTT DATA, para fazer uma nova criação. O filme mostra-se agora, de 9 a 27 de julho, no lounge do Teatro Variedades, com entrada gratuita. Cosmic Sans pode ser lido como “um diálogo, ou talvez uma tensão, entre dois mundos: um, ligado ao digital, que pensa em produtividade, inovação e futuro; outro, enraizado na memória ancestral do gesto, do corpo presente, da palavra dita”, explica o cineasta.

O título, um jogo de palavras com uma das fontes lançadas pela Microsoft, inclui também “a ideia de estar ‘sem cosmos’ – deslocado, sem orientação, à deriva”, revela Jorge Jácome. E esclarece: “O nome evoca, simultaneamente, a vastidão do universo (cosmic) e uma ausência ou recusa de sentido (sans). A referência à tipografia Comic Sans não é apenas uma provocação visual: é um convite a repensar o que consideramos ‘sério’, ‘belo’ ou ‘aceitável’ na linguagem e na forma como comunicamos.” Na tela, um homem em Bangkok assiste ao pôr do sol sobre a cidade – mas contar mais do que isto seria tirar o prazer da descoberta de Cosmic Sans. “Numa era dominada por dispositivos, quis apropriar-me dos gestos, dos dedos — como quem tenta lembrar que o corpo ainda está aqui. Que há algo de háptico, de tátil, que não só resiste ao ecrã como também o habita”, afirma o realizador.

Sobre as quatro sugestões culturais que nos deixa para esta semana, diz ainda: “São propostas que acho que ninguém deve perder, mas mais do que isso, são obras de pessoas que estão a explorar muitos dos temas e dimensões que também atravessam Cosmic Sans. São, para mim, ecos e extensões de questões que me têm ocupado: o tempo, o corpo, a linguagem e a forma como inventamos maneiras de existir juntos”.

Audição, de Teatro Praga

16 a 20 julho
Sala Estúdio Valentim de Barros, Jardins do Bombarda

Estreia-se no próximo dia 16, o espetáculo que celebra os 30 anos do Teatro Praga, Audição. Para Jorge Jácome, “a Praga é a companhia de teatro mais estimulante em Portugal – irreverentes, inteligentes, capazes de rir de tudo (incluindo deles próprios) enquanto reinventam o palco como espaço crítico e sensorial”. E continua: “Não é por acaso que convidei o André e. Teodósio, um dos membros, para escrever comigo o texto deste Cosmic Sans”. Sobre Audição, que se apresenta na Sala Estúdio Valentim de Barros, outrora o armazém onde a companhia ensaiou durante anos, o realizador considera ser “uma oportunidade para testemunhar como a Praga continua, três décadas depois, a desafiar as linguagens cénicas e o pensamento dominante sobre o que é teatro hoje”.

Ou.kupa

Até 13 julho
Teatro do Bairro Alto e Casa Independente

Bailarina, coreógrafa, performer, Piny faz a curadoria do festival Ou.kupa, que celebra as culturas de dança urbanas – do street ao clubbing e ballroom. Jorge Jácome recomenda esta segunda edição, que começou a 29 de junho e se estende até ao final desta semana. “No TBA há novas criações, uma exposição, sessões de treino com DJ sets e conversas, além do Ball Conto Preto na Casa Independente, dedicado à cultura ballroom”, destaca nesta programação que passou também pelo Jardim de Verão da Gulbenkian. “É um festival-celebração que expande o entendimento da festa e do que significa dançar em comunidade. Uma afirmação de linguagens e de modos de existir.”

Pizza Space-Time, de João Marçal

Até 6 setembro
Galeria Zé dos Bois

À exposição de João Marçal na ZDB, com curadoria de Natxo Checa e patente desde final de fevereiro, o realizador não poupa elogios: “Gosto muito da pintura do João porque consegue, com aparente simplicidade, criar pinturas que abrem janelas para outras dimensões. Vale a pena visitar esta exposição para ver como a pintura pode ser divertida, rigorosa e profundamente misteriosa ao mesmo tempo.”

A Campa de Marx, de Isadora Neves Marques

Não Edições

O novo livro de poesia de Isadora Neves Marques, lançado no final de abril, é a última sugestão de Jorge Jácome. “Conhecida pelo seu trabalho híbrido entre arte, cinema, literatura e pensamento crítico, Isadora escreve de forma clara e sensível sobre temas complexos como o desejo e o sexo, as relações interpessoais, o tempo e a perda. Este livro traz uma dessas reflexões que nos inquietam, abrindo espaço para repensar como vivemos, com quem nos relacionamos e o que resta de nós depois de cada encontro ou despedida.”

A Livraria Lisboa Cultura, que agora abre portas no coração da Baixa Pombalina, lado a lado com os emblemáticos Tabacaria Mónaco e Café Nicola,  tem como objetivo sublinhar “a importância que o livro tem na política cultural da cidade”. Desenvolvido em colaboração pela Direção Municipal de Cultura da Câmara Municipal de Lisboa e a Lisboa Cultura/EGEAC, este projeto municipal procurará ser uma “âncora para o conhecimento e descoberta da cidade e amplificação do perfil de Lisboa”.

Contando com um catálogo com mais de 1500 títulos de edição ou coedição municipal, a oferta aborda temáticas muito variadas, tendo sempre Lisboa como mote. Aos títulos com chancela municipal somam-se outros, de variados editores, sempre com foco na cidade.

Para além dos livros, mas sempre com eles como ponto de partida, a nova Livraria Lisboa Cultura vai disponibilizar regularmente um programa de conversas, apresentações e outras atividades que visem a promoção cultural da cidade. Para o dia de inauguração está planeada uma conversa a propósito do catálogo da livraria (a partir das 18 horas) e, antes, um passeio guiado intitulado Rossio Literário, onde serão sublinhadas as referências literárias daquela que é uma das praças mais nobres da cidade (pelas 16 horas).

A Livraria Lisboa Cultura está aberta ao público, de segunda a sábado, entre as 10 e as 19 horas.

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