Sofia Maciel
Ex-voto suscepto

O artefacto encerra a sombra do ser: é a materialidade do gesto, a corporeidade do tempo, o silêncio da devoção. Testemunha a espera e a entrega, onde a mão, enquanto matriz do homo faber, converte-se em rito e transmutação. Fragmento e símbolo, abre fissuras entre o visível e o invisível.
As marcas e texturas dão voz a um vocabulário de memória e desejo, entrelaçam o biográfico e o coletivo numa dimensão silenciosa que evoca os gestos, os saberes e os ritos de iniciação das civilizações antigas.
O artefacto deixa de ser simples representação para tornar-se poiesis — gesto vivo, autofágico, que se desdobra em ciclos subtis de destruição e criação. Revela a dimensão narrativa que os objetos subjazem, a imanência da presença que os habita e o apelo ao potencial da crença, tecendo histórias de pertença, transformação, morte e sobrevivência da natureza humana.
A dimensão da graça atravessa a obra como qualidade inaugural – uma presença intangível, oferta silenciosa e siderada. É espaço onde o sagrado se manifesta em potência poética e ritual, revelando a condição do corpo na sua incessante travessia por sentido, sobrevivência e transcendência, no corpo e na presença (in)finita do (arte)facto.
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