Definitivamente as Bahamas

O casal de sexagenários reformados Tita (Custódia Gallego) e Gui (Marques D’Arede) decide arrendar um quarto a uma jovem estudante estrangeira (Cristina Gayoso Rey). Entre outros assuntos, a jovem torna-se tema das conversas do casal, ajudando a revelar, entre outras coisas, um quotidiano pequeno burguês decadente, o profundo ressentimento contra o mundo e uma profunda pobreza cultural, que ecoa violentamente num discurso pautado pelo racismo, pela xenofobia, pela pretensa superioridade do “local” em relação ao “exterior” e ao estrangeiro.

Com Definitivamente as Bahamas, Ricardo Neves-Neves regressa, mais de uma década depois de ter dirigido Menos Emergências, ao teatro de Martin Crimp. Num “ritmo vertiginoso e fervilhante”, com muito humor negro e ironia, o autor britânico parece através desta peça curta, originalmente destinada à rádio, antecipar em 30 anos o caldo cultural que conduziu ao Brexit. Ao mesmo tempo, aquele reacionarismo de sofá que parece unir até que a morte os separe o casal Tita e Gui, pode muito bem ser o discurso populista que vai dominando os nossos dias. FB

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