Be Kind Rewind II
Be Kind Rewind não é uma exposição. Por um lado porque é um trabalho em continuo, uma rubrica que começámos a formular em 2020 com as duas Not an Island e que se deram origem à primeira edição homónima há três anos. Por outro lado, não é uma exposição na medida em que não quer ser. As ideias por detrás destas exposições tentam todas contrariar o que se deve fazer numa exposição, tentam todas ser faux-pas, no-no’s.
Não há uma ideia de compromisso para com um projecto. Na verdade, permitimo-nos durante a exposição a altera-la livre-mente, e será improvável que uma vista à exposição dentro de duas semanas veja um conjunto inteiramente diferente deste. Isto não significa que esta exposição seja menos importante na programação da galeria, muito pelo contrário. Se não há nela preocupações com o tipo de coisas que normalmente ordenam a programação regular da galeria, há outras que são mesmo de enorme compromisso.
Vemos na Be Kind Rewind uma oportunidade para fazer o que se queria ter feito melhor. Queria que a série que o Cortez produ-ziu para Dusseldorf tivesse o protagonismo que emprestou ao trabalho do Keke e do Pascoinho e que não consegui que tivesse mesmo para o dele. Queria que os trabalhos com o Arteiro desenvolveu para a ARCO tivessem o espaço que não tiveram no stand. Queria que peça do Neiva fosse vista com luz natural. Por aí fora.
Mas interessa-nos sobretudo com as Be Kind Rewind contrariar a velocidade a que as coisas acontecem, que não dão tem-po para contemplar erros, esquecimentos, nem sequer para nos congratularmos com coisas de que nos orgulhamos particu-larmente. E que não dão tempo, sobretudo, para avaliar se o que estamos a fazer continua a ir ao encontro do que quisemos garantir para o projecto, que por ser tão pessoal e tão familiar é indissociável da nossa vida pessoal.
Aproximamo-nos rapidamente do aniversário da primeira década da galeria. Isto de anos de galeria tinha de ser contabilizado como anos de gato, dez anos parece muito pouco. Temos a felicidade de manter como as mesmas as principais premissas do projecto. A mais importante, à qual nos vinculámos com muita força, e com que nos comprometemos a ponto de associar, ainda que disfarçadamente, o nome da galeria à nossa filha, foi a de que nada do que possamos estar a fazer aqui terá um dia significado se não protegermos o que mais nos interessa. No fundo, apenas a felicidade.
Luís Castanheira Loureiro
Terça a sábado, das 14h às 19h
Ficha técnica:
Artistas: na Rebordão, António Olaio, Carlos Arteiro, Filipe Cortez, Gema Rupérez, Keke Vilabelda, Magda Delgado, Miguel Marquês, Pablo Barreiro, Pedro Pascoinho, Pedro Valdez Cardoso e Rui Neiva
Local: