Tânia Geiroto Marcelino
Às Gaivotas, aos Cães e aos Próximos Animais
Na melhor das hipóteses, os objectos desta exposição são esquivos. Já que o título diz tanto, nomeia tanto, que as minhas esculturas, objectos, desenhos e situações não digam nada, sejam mudas de palavras, que sejam inomináveis.
A falha é, ao mesmo tempo, a meta e o desejo da minha prática: o imponderável, aquilo que se desvia continuamente, que não pode ser exactamente agarrado, é latente.
A aproximação à falha, isto é, a prática que procura essa brecha ínfima entre as coisas e que toma como medida o alcance, só pode produzir objectos incompletos na capacidade de se traduzirem. Da coisa até cá, a transmissão é sempre incompleta. Ou é então aceite como tal, naquela unidade em que se apresenta. Objecto que é aquilo mesmo que mostra em todos os seus lados.
Os objectos intraduzíveis são, por isso, os objectos artísticos produzidos. Se puder mesmo, que a dificuldade não lhes esteja apenas na nomeação, mas também nos limites da sua materialidade.
Qualquer coisa semelhante a nomear, enquanto operação ontológica, diz respeito ao meu trabalho. Nomear é, em primeiro grau, rodear uma coisa, destacá-la da amálgama de tudo e é, depois, atribuir-lhe (entre oferecer e enxertar, entre o afecto e a violência) um significante, um nome. A maior violência é tentar defini-los. É também nessa tentativa de agarrar que é possível abrir outras brechas, produzindo objectos de contacto, de convivência, objectos possíveis, ainda que sejam em trânsito e mutáveis.
Tânia Geiroto Marcelino
Terça a sábado, das 14h às 19h
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