Rita Gaspar Vieira
Finisterra 1, 1 e 1

A obra da artista lida com a matéria e a nossa experiência dela. Trata-se, ao mesmo tempo, de desmaterialização – como se uma pele da realidade exterior fosse tudo o que resta do que nos rodeia. De facto, o seu trabalho marca o equilíbrio imponderável entre a persistência da matéria e a mutabilidade e o hibridismo da matéria da arte. […] Rita Gaspar Vieira trabalha com a matéria como informação e intimamente ligada à abstração do nosso mundo virtual. É um trabalho ligado ao pensamento do presente, que mostra como a matéria é um conglomerado que não é fixo e imutável, mas como pode se transformar em tudo e levar a todos os lugares: uma amálgama feita de fragmentos em movimento. Mostra as materialidades como íntimas, espirituais e, ao mesmo tempo, despersonificadas.
Esta exposição, que insere a sua obra no contexto dos Museus Geociências do Instituto Superior Técnico, é paradigmática da sua abordagem. Como transformar a pesada imobilidade da pedra em pura informação, sem corpo, flutuante, adaptável e omnipresente? A artista cria para si uma nova matéria híbrida – o papel manufaturado – que utiliza para captar as marcas dos seus espaços pessoais (chão do seu atelier) e juntamente com elas toda a informação que eles contêm. Introduzindo pó mineral, esta nova substância é aumentada pela aplicação, utilização, deformação e transformação de referências.
No seu trabalho, a matéria empresta temporariamente atributos de outros fragmentos de matéria – num fluxo contínuo entre culturas, pessoas, entre humanos e inorgânicos, entre camadas multi-temporais e multiespaciais. Neste modo essencialmente pós-digital de pensar a matéria, a escala move-se entre o infinito de partículas atómicas que formam o micro/macrocosmos da matéria para uma cartografia que traz realidades plurais.
Marta Jecu (maio 2022)
Segunda a sexta, das 11h às 13h/14h às 17h
Local: Museu Alfredo Bensaúde e Museu Décio Thadeu (Instituto Superior Técnico)
Local: