Gwendolyn van der Velden

Acontece com frequência, quando caminhamos […] nos museus, de sermos retidos por algum olhar particularmente intenso, direto, que parece sair da tela de um quadro ou de uma escultura para vir ao encontro dos nossos olhos. Olhares estes que saem do tempo e lembram que estes rostos fixos e estáticos que estão à nossa frente, outrora já foram alguém, já tiveram vida. Olhos, narizes, orelhas, lábios, rugas, dentes, cabelos, essencialidade de traços e expressão, uma melancolia que parece envolvê-las no limbo de onde essas caras nos olham. […]

Existem muitas formas de comunicar mas nada tão directo como o olhar. E se este olhar for o de uma pintura, ele transforma-se numa mensagem eterna. Os retratos de Gwendolyn Van Der Velden são rápidos, virtuosos, constituem a essência, uma vida outra, a alma das pessoas retratadas, um vocabulário gestual, onde há sempre alguma coisa para examinar, reavaliar e ver de novo, pela primeira vez.

Como numa clareira de nuvens iridescentes, a artista desmonta processos criativos, tenta entender  a importância do ponto de vista do retratado, as suas variáveis. Dá-lhe contexto, transforma-o num vale sob um céu semi-nublado e descobre como o estudo da natureza fisionómica juntamente com a luz, representa o tecido que une visão e reflexão nas questões identitárias. Os retratos são cada vez mais impalpáveis que até parecem dissolver-se no horizonte. Contam prodígios, contam coisas maravilhosas.

Antónia Gaeta, 2022

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