As Bruxas de Salém

Em 1692, num pequeno lugarejo a norte de Boston, no Massachussetts dos cristãos puritanos, desencadeia-se um processo onde mais de duas dezenas de pessoas, sobretudo mulheres, são executadas por pretensa prática de bruxaria, e mais de uma centena presa por suspeitas de cumplicidade.

Mais de dois séculos depois, este célebre caso de fanatismo religioso inspirou Arthur Miller na famosa peça The Crucible, intitulada em português As Bruxas de Salém. Escrita em 1953, em plena época de “caça às bruxas”, levada a cabo pelo senador republicano Joseph MacCarthy em nome do combate ao comunismo nos Estados Unidos da América, a peça é uma alegoria sobre esse tempo de paranoia coletiva. Para citar o próprio Miller, a peça “foi um ato de desespero” escrito por alguém, também ele, acossado, “motivado pela paralisia que se tinha instalado entre muitos liberais que, apesar do seu desconforto ante as violações dos direitos civis por parte dos inquisidores, tinham receio (…) de serem tomados por comunistas encobertos”.

Clássico incontornável do teatro moderno, As Bruxas de Salém é revisitado por Nuno Cardoso, que o considera um texto essencial “sobre a nossa suscetibilidade ao medo e ao rumor”, sobretudo “hoje na sociedade de praças públicas digitais, em que é mais fácil acusar do que, em silêncio, nos confrontarmos com a pegada da nossa responsabilidade.” [texto: Frederico Bernardino/Agenda Cultural de Lisboa]

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