Ana Rebordão
Dentro

Ana Rebordão cria tableaux vivants consigo própria, tanto à frente como atrás da câmara. Isto revela algo acerca do posicionamento do olhar.
A ligação à história da arte é intencional. O abismo entre a escuridão e a luz e a brutalidade emocional criam, como diria Gilles Deleuze, uma dobra com o Barroco.
Na série Dentro, Rebordão aproxima-se do maior dos phantasmes (Kristeva), a Madonna.
Vemos Rebordão ser ao mesmo tempo abençoada e crucificada. Vemo-la quebrar aquele que será, talvez, de todos os tabus o maior, sexualizando o seu próprio corpo grávido. Vemo-la brincar com um dos atributos da Madonna, o leite. Vemo-la quebrar um outro tabu ao mostrar o poder da mãe sobre a sua criança, que é a própria filha de Rebordão.
O astuto sentido de humor de Rebordão desarma encenações aparatosas ao instruir senhoras a desempenharem tarefas absurdas. Ou ao alimentar a sua criança com uma pistola de plástico, com água.
Vemos uma artista contemporânea a lidar com a maternidade. Ela insiste em ser, ao mesmo tempo, artista e mãe.
Gertrud Sandqvist
Terça a sábado, das 14h às 19h
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