Adramalech

Autor de origem francófona, suíço de nascimento, a obra do escritor, encenador e pintor Valère Novarina (n.1942) regressa a palcos portugueses no mais recente espetáculo de Renata Portas, artista sediada no Porto, onde dirige o coletivo Público Reservado. O teatro de Novarina começou por ser divulgado em Portugal na década de 90 do século passado, primeiro através de uma adaptação de Manuel Cintra de Le Théâtre des Paroles e depois com a presença do próprio autor nos Encontros ACARTE, em 1997.

Através dos Artistas Unidos, nomeadamente de Jorge Silva Melo que interpretou, por exemplo, Carta aos Atores no âmbito do Festival de Almada, Novarina mereceu nos anos seguintes uma ampla divulgação entre nós, sendo recentemente abordado em várias criações de Renata Portas, que o considera essencial para procurar uma ligação do teatro à filosofia ou, citando a própria, para fazer “um teatro ensaístico que mantenha o lado lúdico e performativo da cena”, na esteira de Heiner Muller ou Peter Handke.

Este Monólogo de Adramalech, tido como um tour de force para o intérprete, conta histórias de guerras, de paixões e de crimes, como se fosse uma profecia para tempos que ai estão. Mas, para Renata Portas, este é também um monólogo plural onde o ator se torna “um corpo habitado não por nervos e sangue” mas, como lembra o autor, “por vozes e línguas.”

[texto de Frederico Bernardino/Agenda Cultural de Lisboa, maio 2022]

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