famílias
Uma outra forma de ver
Espetáculo para crianças usa a dança e o teatro como motor de inclusão

Será que são só os olhos que veem? Ou também é possível ver-se com as mãos? E com os cotovelos, as costas, as pernas, os pés… e até com o coração? É isso que Joana Gomes e Maria Inês Costa querem mostrar com o espetáculo Uma Outra Forma, que, a 10 de maio, é apresentado em Alvalade, nos Coruchéus – Um Teatro em Cada Bairro.
Desenhado para famílias e crianças, esta produção da CiM – Companhia de Dança pretende descomplicar e desconstruir a cegueira. “A ideia que esteve na base da criação de Uma Outra Forma foi precisamente mostrar que é possível falar sobre deficiência visual de uma forma leve e prática. Como tal, todo o espetáculo foi construído a partir de perguntas que me foram feitas por crianças em vários momentos da minha vida”, afirma Joana Gomes, criadora e intérprete.
“Além de dar às crianças um lugar para fazer questões, o objetivo de Uma Outra Forma é fazê-las perceber que a cegueira e o braille não são ‘bichos-de-sete-cabeças’; que, de uma forma artística e lúdica, é possível abordar vários temas que, de início, podem parecer pesados e densos”, acrescenta.
O ponto de partida para este espetáculo foi, aliás, a história de vida de Louis Braille, criador do sistema de escrita e leitura tátil para pessoas cegas ou de baixa visão. Assim, numa viagem cheia de dança, fascínio, movimento, letras e palavras, Joana e Maria Inês Costa, cocriadora e intérprete, homenageiam o seu importante contributo para a vida das pessoas com deficiência visual, ao mesmo tempo que ensinam que, mesmo não conseguindo ver nada, é possível ver-se tudo. Basta, para isso, fazê-lo de uma outra forma.
“Tu não vês mesmo nada, Joana?!”
O espetáculo, que conta com dramaturgia de Rosinda Costa, nasceu de um desafio lançado pela Quinta Alegre – Um Teatro em Cada Bairro, com o objetivo de promover o trabalho de artistas com deficiência, numa altura em que Joana “andava com a ideia de criar um projeto sobre a deficiência visual dedicado aos mais novos”.
“Nas vezes em que trabalhei em contexto de sala de aula, percebi que havia muitas dúvidas, que as crianças têm sempre muitas perguntas e que, muitas vezes, não têm um lugar onde possam colocá-las”, diz a criadora, sublinhando que “havendo ausência desse espaço, não ficam devidamente esclarecidas e desenvolvem a impressão de que a cegueira é um tabu”.
No final do espetáculo, que acontece a 10 de maio, às 14 horas, há espaço para interação com o público e as crianças podem também experimentar o braille e esclarecer as suas dúvidas, “sem filtros e sem tabus”.
A entrada é gratuita, mediante reserva de bilhetes para umteatroemcadabairro.corucheus@cm-lisboa.pt.