Os dias de Rachel Caiano

As sugestões da artista plástica e ilustradora para esta semana

Os dias de Rachel Caiano

De regresso ao LU.CA e em dose dupla, com a exposição Viagens à volta de uma linha e o espetáculo Roda-Viva (a Menina e o Círculo), a artista plástica e ilustradora Rachel Caiano ainda encontra tempo para aproveitar a vida cultural da cidade.

Rachel Caiano invadiu o Teatro LU.CA com muitas linhas. No entrepiso e no piso 2, a artista plástica e ilustradora espalhou o seu traço na exposição Viagens à volta de uma linha, que ali estará até 27 de fevereiro, e em que mistura os desenhos do livro Roda-Viva (a Menina e o Círculo), ilustrado por si e escrito por Sandro William Junqueira, com os desenhos que faz, em tempo real, no espetáculo de Cláudia Nóvoa com o mesmo nome (em cena de 12 a 27 de fevereiro). “Cada linha é uma frase, é um novelo, é uma estrada”, promete Rachel, que vive “entre lápis, pincéis, agulhas, cães, guitarras e tabuadas”. “É uma exposição interativa que será feita, em parte, pelos visitantes”, adianta. No espetáculo, indicado para maiores de 3 anos, além de desenhar ao vivo, é também ela a responsável pelos figurinos. “É bom voltar ao LU.CA, depois de várias apresentações pelo país.” Não será fácil, nestas semanas, encaixar programas culturais na agenda, mas as sugestões que aqui faz são tentadoras – e, sobre algumas, Rachel Caiano confessa-se bastante curiosa e entusiasmada.

Anastácia Carvalho

11 fevereiro, 19h
Biblioteca de Marvila

O projeto Música em Bairros, da associação cultural Soma Cultura, tem organizado concertos gratuitos de músicos do mundo em vários lugares da cidade. Esta semana, a cantora são-tomense Anastácia Carvalho atua na Biblioteca de Marvila, e Rachel Caiano, que já ali viu a ucraniana Litá Folk Band, faz desta uma das suas sugestões. “São concertos de proximidade. Todos os cantores atuam nos vários locais e gosto dessa ideia de levar estas músicas até perto das pessoas. Agrada-me muito a multiculturalidade e conhecer coisas de outros sítios. Ficamos com o mundo aqui perto”, nota. Até abril, as atuações acontecem na Ti – Associação Juvenil Ponte, Quinta Alegre, Biblioteca de Marvila e Orientar. Para o concerto de Anastácia Carvalho podem fazer-se reservas para o email bib.marvila@cm-lisboa.pt.

Veludo Azul, de David Lynch

12 fevereiro, 14h
Cinema Nimas

Talvez não seja o melhor dia e o melhor horário para ir ao cinema, mas Rachel não quis deixar de destacar o ciclo de homenagem a David Lynch, que decorre no Cinema Nimas. “Falo do Blue Velvet, mas recomendo qualquer um dos filmes, claro. O David Lynch é incontornável. Mesmo não sendo o meu realizador favorito, tem uma linguagem muito própria que é necessário conhecer”, aponta. “Admiro a forma como trabalha o subconsciente, gosto da ideia de não ter de se perceber tudo, de não ter as respostas todas, de existir espaço para a dúvida e o questionamento. Ele faz isso muito bem e os seus filmes são objetos abertos, que cada um interpretará à sua maneira. Numa altura em que a tendência é explicar tudo e que as coisas tenham todas princípio, meio e fim, agrada-me este lugar que o Lynch cria.”

© Os Espacialistas

Cella, d’ Os Espacialistas

MAC/CCB

Na praça CCB do Museu de Arte Contemporânea e Centro de Arquitetura, está uma instalação feita de cortiça, criada pel’ Os Espacialistas, um coletivo de investigação teórica e prática das ligações entre Arte e Arquitetura. “Uma espécie de espaço de natureza anatómica, arquitetónica e escultórica”, como se define, onde podemos entrar e que podemos explorar – e que está nomeado para o prémio de Building of the Year, da plataforma Arch Daily. A ilustradora já se aventurou e recomenda. “É muito sensorial, as pessoas podem sentar-se, deitar-se e rebolar! Dá vontade de trepar e de nos encostarmos”, diz, contando que se deitou lá dentro, a olhar para o céu. “Parece uma eira ou um poço, dá para imaginarmos o que quisermos, é um espaço livre que, sendo fechado, nos abre muitas leituras”, acrescenta.

Festival Play

15 a 23 fevereiro
Cinema São Jorge e Cinemateca Júnior

Começa na sexta-feira, 15, a 12.ª edição do Festival Play, com uma seleção cuidada de filmes de animação para os mais novos – dos bebés aos adolescentes de 16 anos. Rachel conta que sempre frequentou o festival e que, mesmo agora que já não tem filhos pequenos, não deixa de ir. “Não preciso de desculpas e vou à mesma”, diz, defendendo que este não tem de ser um programa apenas para crianças. “Não há muitas ocasiões para vermos filmes de animação e tantos tão diferentes uns dos outros. A programação é sempre variada e ali descubro o que se está a fazer em animação pelo mundo. Gosto muito deste festival.”

Lucy and Friends, de Lucy McCormick

14 e 15 fevereiro, 19h30
TBA – Teatro do Bairro Alto

É uma sugestão quase no escuro, esta. “Não conheço a Lucy McCormick, mas estou muito curiosa. Parece-me uma proposta muito interessante, diferente e visceral, e agrada-me essa ideia de puxar as margens para o centro. Pelo que li, tem uma linguagem mais divergente que nem sempre tem muita visibilidade”, diz sobre o trabalho da artista britânica cuja biografia destaca as “interrupções em discotecas, intervenções em cabarets e peças de teatro espetaculares, conjugando interesses no absurdo, no ego e no grotesco”. Neste regresso ao Teatro do Bairro Alto, Lucy promete deixar o público “a precisar de ser abraçado, de chorar um pouco e de tomar logo um duche” depois de ver “o seu mais ambicioso espetáculo de cabaret queer moderadamente conceptual”. “Além disso, no dia 15, há uma conversa moderada pela Maria Sequeira Mendes, por isso, só pode ser bom”, conclui a ilustradora.

Os Cães e os Lobos, de Irène Némirovsky

Relógio d’Água

“Sugiro o livro que estou a ler neste momento. É uma autora que descobri há pouco tempo e já li vários dos seus livros. Comecei pel’ O Baile, que é um conto incrível, li outros e agora vou a meio deste, que dizem que é o melhor dela. Estou a gostar muito”, afirma sobre as obras de Irène Némirovsky, escritora judia que morreu durante a II Guerra Mundial no campo de concentração de Auschwitz. “Os livros passam-se naquela época, anos 30 e 40, e ela escreve sempre de um ponto de vista muito humano. Não sendo autobiográficos, penso que são muito próximos da história dela, da sua relação com a família e com a mãe, em especial”, descreve Rachel, confessando que gosta de explorar a obra dos escritores e não ficar apenas por um dos seus livros. Annie Ernaux foi outras das escritoras que leu recorrentemente nos últimos meses.