O poder dos gestos e do pensamento

“Materiais, Movimentos e Arquitetura no Bangladesh” patente no MAC/CCB

O poder dos gestos e do pensamento

O Bangladesh, país onde habitam mais de 150 milhões de pessoas, enfrenta múltiplas dificuldades ambientais e sociais. Na exposição Materiais, Movimentos e Arquitetura no Bangladesh, a arquiteta Marina Tabassum demonstra o poder dos gestos e de pensamento de uma construção inteligente, em resposta às precárias condições de vida de comunidades carenciadas confrontadas com a subida do nível do mar.

Situado na região onde os rios Ganges e Brahmaputra desaguam na Baía de Bengala, no sul da Ásia, o Bangladesh é marcado por uma vegetação exuberante e muitos canais. A maior parte do país é composta por planícies baixas, fertilizada pelas enchentes dos muitos rios e cursos de água que as cruzam. Mas os rios, durante a época das cheias, causam também uma grande destruição nas zonas mais ruralizadas.

Este é, aliás, um dos maiores problemas que o país enfrenta e, por isso, Marina Tabassum, num trabalho que responde aos problemas sociais das comunidades e aos desafios do clima tirando partido dos recursos e saberes locais, concebeu, juntamente com a sua equipa, um sistema de construção modular e portátil de baixo custo. “Muitas pessoas perdem as suas casas devido às chuvas ou perdem os abrigos improvisados em incêndios”, diz a arquiteta e pedagoga bengali.

Em Materiais, Movimentos e Arquitetura no Bangladesh, Tabassum apresenta algumas das suas obras contruídas desde 1995. Entre elas, destacam-se respostas a problemas urgentes, como as condições de vida dos 1,2 milhões de refugiados rohingya ou as transformações impostas pela subida do nível do mar, como um modelo em tamanho real de uma das casas que concebeu, totalmente feita em bambu, e que torna as habitações arejadas, seguras e acessíveis.

A trabalhar em Daca, capital do Bangladesh, Tabassum, que tem procurado estabelecer uma prática arquitetónica simultaneamente contemporânea e enraizada no lugar, desenvolve ideias que vão desde o modo de utilizar recursos até às estratégias de envolvimento das comunidades. No seu trabalho, reconhecido internacionalmente, a arquiteta tira partido das características dos materiais e explora a luz para qualificar as dimensões físicas do espaço. Além disso, e segundo o curador André Tavares, uma das suas principais mais-valias é a capacidade de “realizar grandes transformações por meio de pequenas intervenções”.

A exposição, que conta também com a curadoria de Vera Simone Bader , reúne instalações, vídeos, fotografias e objetos do dia-a-dia destas populações, e pretende, ainda, trazer boas notícias do Bangladesh, partilhando na Europa a animada cena intelectual alimentada pelo caudal dos rios daquele país.

Materiais, Movimentos e Arquitetura no Bangladesh pode ser visitada até 22 de setembro.