Um século de SAM

“Não ria. O humor é um assunto muito sério” patente no Museu Bordalo Pinheiro.

Um século de SAM

Samuel Azavey Torres de Carvalho, mais conhecido por SAM, completaria este ano um século de vida. Artista multifacetado, destacou-se na área do cartoon, das artes plásticas e da escultura. Agora, a Sala da Paródia do Museu Bordalo Pinheiro dedica-lhe uma exposição composta maioritariamente por cartoons, colagens e desenhos originais, e integra ainda algumas esculturas e quatro Filmezinhos do Sam, interpretados por Mário Viegas e Vítor Norte.

A ideia desta exposição, produzida em parceria com a família do artista, “é homenagear SAM (1924-1993), um autor que foi muito importante e muito conhecido nas décadas de 1970, 80 e inícios dos anos 90, mas que, depois, foi completamente esquecido, até pela internet, que é uma coisa muito estranha hoje em dia”, revela Tiago Guerreiro, comissário da mostra.

Dividida em duas partes – a primeira fica patente até dia 24 de março e a segunda de 26 de março a 19 de maio – a exposição permite apreciar o humor que transborda da obra de SAM, humor esse muitas vezes subtil, outras absurdo, muitas vezes social e outras até existencial.

Na primeira parte, a mostra reúne cerca de 40 cartoons reimpressos, feitos entre 1973 e 1992, e publicados em diferentes periódicos ou álbuns, que abordam temas como o pré e o pós-25 de Abril, problemas sociais, jogos de palavras e personagens marcantes da sua obra, bem como algumas estatuetas com representações de Margueritte e do Guarda Ricardo, personagem que nasce em 1971 no Notícias da Amadora. Ali, também se podem ver quatro Filmezinhos do Sam, uma série de pequenos filmes concebidos pelo artista que passaram em horário nobre no Canal 1 da RTP no final da década de 80.

“Na segunda parte da exposição, vão substituir-se todos os prints e livros por cerca de 40 desenhos originais, e estes Filmezinhos por outros filmes – alguns deles inéditos -, que integram a coleção particular do artista, e que, neste momento, pertence à família do SAM”, avança Tiago Guerreiro.

Mas, o humor e sátira de SAM não se ficaram pelos cartoons e desenhos. Eles também encontraram expressão nas artes plásticas, através da criação de objetos absurdos, tais como funis, cadeiras, torneiras ou enxadas que se metamorfoseiam e ganham novos significados.

Recorde-se que, pensando nas décadas cinzentas do Estado Novo, o historiador José-Augusto França considerou que SAM introduziu “uma dimensão nova na arte portuguesa [nos anos 70]: o Humor”. Já o realizador António-Pedro Vasconcelos disse outrora que, falar de humor nos anos 70 do século XX, “era falar de Herman, de Miguel Esteves Cardoso e de SAM”.

Falecido em 1993, o artista deixou um legado de seis mil cartoons (uma vasta coleção já que publicava quase semanalmente em jornais como o Expresso, Diário de Notícias, A Capital, Público e Jornal Novo), um milhar de objetos artísticos e dezenas de livros.