Noble

"Cantar em inglês é uma proteção para dizer tudo o que me vai na alma"

Noble

Conhecido como Noble, Pedro Fidalgo prepara-se para apresentar o seu segundo disco, Secrets. Este mês, o jovem artista dá o seu primeiro concerto na capital, tendo espetáculo marcado para o Teatro Tivoli BBVA a 25 de junho. Consigo em palco, estarão as cinco finalistas do desafio lançado em parceria com a RFM, que consistia em descobrir novos talentos. O novo disco de Noble contém dez faixas, cinco das quais são duetos com as vozes vencedoras do #RFMNobleDuetos.

Tens uma voz muito poderosa. Sempre tiveste noção disso?

Na verdade, só comecei a cantar quando tinha quase 16 anos. A minha avó ofereceu-me uma guitarra quando eu tinha 14. Entretanto comecei a aprender e ia tocando com amigos. O canto só apareceu mais tarde porque era – e sou – muito tímido. Só mais tarde comecei a explorar essa vertente. Achava que até tinha algum jeito, mas não tinha a confirmação porque nunca tinha mostrado a ninguém o que era capaz de fazer. Mas quando comecei a cantar nunca mais me calei [risos].

Não era, portanto, um sonho de criança…

Nunca foi uma coisa que me passasse pela cabeça. O meu pai está ligado à área da construção civil e das energias renováveis e eu sempre me imaginei a trabalhar com ele, a dar continuidade ao negócio de família… Durante muitos anos, o meu objetivo era ser engenheiro civil. Claramente, não foi esse o meu caminho, mas estou muito feliz por isso. A música apareceu mais tarde, mas quando surgiu foi em força e não tive mais dúvidas. Sempre gostei de música, toda a minha família é muito musical, mas não pensava nela dessa forma.

Perdeu-se um engenheiro, mas ganhou-se um cantor de muito sucesso… Como reagiu o teu pai?

O meu pai ficou muito feliz por eu ter optado pela música. Foi a pessoa que mais me incentivou a seguir este caminho. Tem uma voz fantástica, canta muito bem, sempre foi muito ligado à música. No fundo, sinto que ele se revê em mim. Agarrou o meu sonho como se fosse dele e nunca duvidou do que o filho poderia vir a fazer.

Como chegaste a este nome artístico?

O meu nome é Pedro Fidalgo. Nasci em Amarante há 25 anos. As pessoas que fazem parte do meu núcleo mais próximo tratam-me por Fidalgo. Apesar de cantar em inglês, queria ter um nome que fosse pessoal, que tivesse alguma história. Noble acabou por ser a tradução mais próxima do meu nome.

O que te inspira?

São principalmente coisas que vivo. Gosto muito de escrever na primeira pessoa, acho que escrever sobre algo que vivi facilita muito o trabalho. Tenho sempre muito mais substância para falar ou aprofundar determinados assuntos. Mas também escrevo sobre coisas que leio, notícias que ouço. A inspiração pode surgir nos momentos mais inusitados e das coisas mais simples.

Essa exposição não te incomoda?

Não penso muito nisso, sobretudo pelo facto de cantar em inglês. A língua serve como escudo, é uma proteção para conseguir dizer tudo aquilo que quero e que me vai na alma, sem pensar que estou a expor-me completamente. O inglês ajuda-me muito nesse aspeto. Se quisesse dizer o que digo nas minhas músicas mas em português, nunca conseguiria ter o mesmo resultado. Ia sentir-me muito mais exposto. Nunca teria conseguido escrever uma canção como Honey em português. Não ia conseguir chegar a casa depois de uma consulta e escrever “se eu partir amanhã não chores, porque o teu amor vai ser a minha salvação”. Nunca na vida o conseguiria fazer, não ia conseguir entregar isso às pessoas. Claro que a arte tem de ser genuína e sincera e sinto que é isso que tenho feito. Tenho-me mantido fiel a mim mesmo.

Essa canção, Honey, fala de um momento complicado que atravessaste a nível de saúde. Imagino que tenhas uma relação muito ambígua com ela…

Tenho um amor extremo por esta canção. O facto de a cantar significa que está tudo bem e que superei os problemas que me apareceram no caminho. No início foi um bocadinho difícil, mais até para a minha família e para a minha namorada, que eram as pessoas mais envolvidas em todo o processo. Não é fácil ouvir esta letra, mas depois de tudo passar e de ter ficado bem – felizmente tenho uma saúde de ferro – esta canção tornou-se um hino de superação. Para quem ouve, tem todo o significado que as pessoas lhe quiserem dar, porque essa é a parte mais bonita, é a da interpretação que cada um lhe dá. Para mim, estar em palco e poder cantar esta canção e ver as pessoas a cantarem também, é sinónimo de superação.

“Durante a pandemia não conseguia compor nem pensar em escrever música, sentava-me ao piano e não saía rigorosamente nada”

Ficaste muito surpreendido a forma como o público te acolheu?

Fiquei. Esperamos sempre que o nosso trabalho tenha sucesso, ninguém começa um projeto a pensar que não vai correr bem. Mas aconteceu tudo tão rápido que tive dificuldade em processar. Foi muito interessante porque escrevi Honey, produzimos a música e ela era para sair em abril. Entretanto, o meu manager entrou no estúdio e disse-me que a canção ia ter de sair dali a duas semanas porque ia ser o genérico de uma telenovela da TVI. Fiquei incrédulo e sem palavras para aquela notícia. Percebi que o meu sonho estava a tornar-se realidade e comecei a preparar-me para entregar a música às pessoas. A novela foi uma rampa de lançamento muito grande e ajudou-me a chegar a muito mais público. Para mim, essa é a parte mais importante, a música vive da partilha. Sinto que consegui juntar muitas histórias diferentes à volta da minha história. Essa foi a parte mais bonita desse processo todo. Há pessoas que me dizem que a Honey marcou uma fase da vida delas ou algum momento especial e isso não tem preço. A parte mais gratificante é saber que as pessoas se ligam àquilo que nós fazemos e que se identificam com as nossas palavras.

Muitas pessoas ficam surpreendidas quando descobrem que és português…

Tenho que fazer um agradecimento à professora Maria do Rosário Barros, minha professora de inglês. Quando escrevi as primeiras letras ia a casa dela mostrar-lhas, para ver se estava tudo bem, se as formas gramaticais estavam bem escritas. Sempre foi muito recetiva, ajudou-me muito nesse aspeto. Quando as pessoas me dizem que ficam surpreendidas por eu ser português, há uma sensação agridoce. Por um lado, é muito bom porque as pessoas comparam-me a artistas incríveis de que eu próprio sou fã, como o John Legend, o Ed Sheraan, o James Arthur… Por outro lado, deixa-me um bocadinho triste porque, em Portugal, há muita gente a fazer muita coisa boa. Senti mais isso agora quando criei este desafio com a RFM para pôr novos talentos a cantar no meu disco. Tivemos mais de 400 participantes. Sentado, a ouvir aquelas vozes, percebi que há muita gente, especialmente nesta nova geração, que tem muito talento e muita coisa para dizer, por vezes não têm é oportunidade. Eu, felizmente, tive oportunidade, tive pessoas que acreditaram em mim e que me ajudaram a levar as minhas palavras até ao público. Mas claro que fico muito agradecido quando o público reconhece o meu inglês. Nunca escondi que o meu sonho era ter uma carreira internacional. Sempre que elogiam o meu inglês sinto-me mais perto de atingir esse objetivo.

Quem são as tuas maiores referências musicais?

O Bruce Springsteen é a minha maior referência, principalmente a nível de espetáculo. Acho que ele é um performer incrível, e toda a gente que pisa um palco devia assistir a concertos dele, porque tem muito para ensinar. Estamos a falar de uma bagagem de quase 50 anos de carreira. A banda da minha vida foi e será sempre The Doors, mas também ouço coisas mais recentes, como o Harry Styles (que eu sinto que é o David Bowie desta geração, e digo-o sem medo). Gosto muito da Dua Lipa, para mim é das melhores vozes da atualidade, tem uma voz que se reconhece em qualquer lado. Também ouço muito Guns n’Roses, Aerosmith ou Coldplay. Outro artista de que gosto muito é o James Blunt. É muito divertido, consegue brincar com a sua própria carreira. O que ouço vai variando muito consoante o estado de espírito.

Como surgiu a ideia de lançar este desafio em conjunto com a RFM?

A ideia surgiu durante a pandemia, depois daquela fase inicial onde não existia mais nada a não ser angústia. Não conseguia compor nem pensar em escrever música, sentava-me ao piano e não saía rigorosamente nada. Estávamos a atravessar um momento de incerteza muito grande e isso refletia-se em todos os aspetos. No campo criativo refletiu-se muito. A dada altura comecei a pensar em qual poderia ser o meu contributo para um setor que estava a sofrer tanto como o da cultura. Sempre tive a sorte de ter muita gente a acreditar em mim, que me apoiou, e este desafio pretendia proporcionar isso a outras pessoas que têm muito talento mas que não tinham a forma ou os meios de mostrarem aquilo que conseguem fazer. Juntei-me à RFM, esses criadores de sonhos que têm apoiado a minha carreira desde o início, foi uma parceria que para eles também fez todo o sentido. Criámos o desafio no Tiktok e no Instagram Reels para ser mais fácil para as pessoas acederem, até porque estavam presas em casa. Nesse aspeto, as redes sociais ajudaram muito, era a forma mais fácil de se ligarem aos artistas. Tivemos mais de 400 participantes no Tiktok, e mais de 4 milhões de visualizações só no #RFMNobleduetos. O mais difícil foi reduzir esses 400 participantes a dez, e consequentemente, a 5. Essa parte já foi mais divertida porque, depois de chegar à lista dos 10 finalistas, fomos todos para estúdio e ai conheci os vencedores pessoalmente. Cantámos as músicas, colocámos um vídeo no site da RFM, e a escolha dos vencedores ficou totalmente nas mãos do público. Resultou em cinco duetos que fazem parte do meu novo disco. São cinco talentos nacionais. Algumas delas nunca tinham entrado num estúdio, foi muito giro ver a forma como elas pegaram nas minhas canções e lhes deram o seu toque pessoal. Gravámos videoclipes para todas as canções. Entretanto já fiz alguns concertos em que consegui ter algumas destas vozes, mas a primeira vez que nos vamos juntar todos em palco vai ser no dia 25 de junho, no Teatro Tivoli BBVA. São duas estreias: é a primeira vez que vou atuar em Lisboa – e estou mesmo muito feliz por isso – e vai ser a primeira vez que vou ter as cinco vencedoras comigo em palco. Vai ser uma noite muito emotiva e especial.

Já estás a trabalhar num próximo disco ou ainda é cedo?

Não tenho saído do estúdio, tenho trabalhado bastante em material novo. Estou muito entusiasmado com o que tenho estado a fazer mas, para já, nestes concertos vou concentrar-me no Secrets, até porque saiu há muito pouco tempo e ainda o quero levar a muita gente. Já que o primeiro disco não teve a sorte de ver os palcos por causa da pandemia, quero tocar este novo disco ao máximo. Claro que isso não impede que, entretanto, lance canções novas, É sempre uma possibilidade.