Os livros de junho

Cinco sugestões de leitura

Os livros de junho

Da poesia à ficção científica, passando por uma nova coleção resultante de uma parceria entre o Plano Nacional das Artes e a Imprensa Nacional, a uma autobiografia e um bestseller, conheça as nossas sugestões de leitura para este mês.

Paul Verlaine
Festas Galantes

Originalmente publicado em 1869, Festas Galantes é agora dado à estampa com as belíssimas ilustrações de Georges Barbier criadas para a edição de 1928. Neste delicioso conjunto de poemas, Paul Verlaine explora, sob a aparência de frivolidade, o tema da sedução num ambiente de festa e mascarada que evoca a graciosidade e malícia da pintura setecentista de Wateau, Fragonard ou Lancret. Contudo, Stefan Zweig distingue nestas paisagens galantes “um doloroso pressentimento”, salientando: “Sob as máscaras e a pantomima, o rosto do poeta, dolorosamente perdido, contempla o espelho negro da realidade…”. No poema Art Poétique da recolha Jadis et Naguère, Verlaine escreve: “Música acima de qualquer coisa / (…) Porque nós queremos sempre as Cambiantes”. De facto, o ritmo dos seus versos e os jogos de sonoridades tornam-no no poeta francês mais musicado. Se dúvidas houvesse, bastaria ouvir o magnífico duplo CD do grande contratenor Philippe Jaroussky, Green, inteiramente dedicado à obra daquele que foi consagrado, em 1894, Príncipe dos Poetas e que inspirou compositores como Chabrier, Debussy, Fauré, Hahn, Honegger, Massenet, Saint-Saëns, Varése ou ainda Charles Trenet, Georges Brassens e Léo Ferré. [Luís Almeida d’Eça] Guerra & Paz

Isaac Asimov
Eu, Robô

No ano de 2060, a humanidade já não tem memória de um mundo sem robôs. “Tempos houve em que o ser humano enfrentava o universo sozinho sem um amigo. Agora tem criaturas para o ajudar, criaturas mais fortes do que ele, mais fiéis, mais úteis, e absolutamente dedicadas a ele.” Eu, Robô não é propriamente um romance, mas um conjunto de histórias, uma série de memória esparsas da robopsicóloga Susan Calvin sobre experiências focadas em diversos incidentes com robôs. O seu autor, Isaac Asimov (1920-1992), russo emigrado nos Estados Unidos, foi um dos nomes cimeiros da literatura de ficção científica do século XX, dotado de profundos conhecimentos científicos, de singular capacidade de antecipação e notável engenho narrativo. A obra defende que os robôs são “uma linhagem mais limpa, melhor do que a nossa”. E avança uma ideia provocadora que merece ampla reflexão, a de que sob o reino das máquinas “não pode haver qualquer conflito sério na Terra, em que um grupo ou outro consiga obter mais poder do que tem em nome daquilo que pensa que é melhor para si, independentemente de não o ser para a humanidade como um todo”. [Luís Almeida d’Eça] Relógio D’ Água

Joshua Ruah
Um judeu de Lisboa

António Valdemar, que prefacia a autobiografia Joshua Ruah. Um judeu de Lisboa, define-a como “uma descida às raízes”. Nascido em 1940, filho do reconhecido cirurgião Moisés Ruah e neto do famoso fotógrafo Joshua Benoliel, Joshua Ruah partilha neste livro as suas memórias judaicas, desde a infância até à idade atual, sem esquecer a juventude, o percurso como estudante e médico, o casamento, a ida para a guerra ou os tempos em que presidiu à Comunidade Israelita de Lisboa, o que lhe proporcionou encontros com figuras históricas como o Papa João Paulo II ou Yasser Arafat. Numa escrita sincera e despretensiosa, Ruah abre-nos a porta da sua vida, partilhando episódios como quando o avô fotografou o desembarque de D. Carlos e da família real, mas perdeu o momento do regicídio; a construção da Sinagoga de Lisboa; o 25 de Abril de 1974; a recuperação da comunidade de Belmonte; ou de quando viu pela primeira vez Álvaro Cunhal, de quem foi médico durante 14 anos. Antes d’ O fim, o médico ainda nos brinda com algumas fotos de família e revela que tem na calha um projeto para um livro sobre a história da Feira da Ladra. [Sara Simões] Caminho

Matt Haig
A biblioteca da meia-noite

Depois de renunciar a uma promissora carreira como nadadora olímpica, de ter abandonado o grupo musical de que fazia parte, de ter cancelado o casamento, de não ter conseguido cuidar do gato, Nora Seed é confrontada com a dura realidade: trabalha há 12 anos numa loja de música, sofre de depressão e não tem planos para o futuro. Com medo da vida e invadida por uma tristeza absoluta, decide morrer. É então que chega à Biblioteca da Meia-Noite onde encontra livros que são portais para todas as vidas que podia ter vivido e onde poderá decidir como quer viver. Mas, antes de poder escolher qualquer um destes livros, há um que tem obrigatoriamente de consultar: o Livro dos Arrependimentos. Com a ajuda da sua antiga bibliotecária, a Sr.ª Elm, Nora vai abrindo livros e experimentando várias vidas, até que, perante a morte, a vida lhe parece mais atraente. Sem corresponderem às expectativas, as vidas sucedem-se umas às outras, até que Nora se apercebe que “o verdadeiro problema não são as vidas que nos arrependemos de não ter vivido. É o arrependimento em si.” Viver é a única forma de aprender. [Sara Simões] Topseller

Alain Bergala
A Hipótese Cinema – Pequeno tratado sobre a transmissão do cinema dentro e fora da escola

Como escolher os filmes a mostrar aos alunos? Como expor as crianças a este encontro? O que nos oferece o DVD? Deve falar-se do cinema e da televisão? A educação em cinema passará obrigatoriamente pela passagem ao ato de realização na sala de aula? Como seria uma análise de filmes que visasse uma iniciação à criação? Em A Hipótese Cinema: Pequeno tratado sobre a transmissão do cinema dentro e fora da escola, Alain Bergala responde muito concretamente, com paixão e algum sentido de polémica, a toda uma série de questões que são colocadas àqueles que hoje se encontram na posição de passeurs. A questão preliminar e central da obra consiste em saber como ensinar o cinema enquanto arte em ambiente escolar, tendo em conta que a arte é e deve permanecer, precisamente, uma semente de mudança profunda na instituição. Este livro é, assim, uma tomada de posição, de intervenção, escrita ao sabor do momento, no calor da batalha, mas também um texto de reflexão, sustentado numa experiência de mais de 20 anos e em propostas concretas para uma iniciação ao cinema. [Ana Rita Vaz] Imprensa Nacional