Filipe Karlsson

"O fascínio pela música dos anos 70/80 está muito relacionado com a minha infância"

Filipe Karlsson

O look retro não deixa margem para dúvidas: os anos 70/80 são a grande fonte de inspiração do músico Filipe Karlsson. Esta nostalgia está bem vincada no ADN da sua música, mas também se reflete nos seus gostos pessoais. É membro dos Zanibar Aliens, mas em 2020 decidiu lançar-se numa carreira a solo. Karlsson aposta em canções em português, numa disco pop contagiante e cheia de boas vibrações. Durante a pandemia, lançou os EPs Teorias do Bem Estar e Modéstia à Parte, bem como alguns singles. A 3 de junho, atua no Cineteatro Capitólio para apresentar Mãos Atadas.

A sua música parece viajar diretamente dos anos 70/80 do século passado para os dias de hoje. De onde vem esse gosto pela sonoridade dessa época?

Sinto que fui muito influenciado pela música que os meus pais ouviam em casa. Há vídeos meus com três, quatro anos a dançar ao som dos Dire Straits. Na verdade, este fascínio pela música dos anos 70/80 está muito relacionado com a minha infância.

Para além da sonoridade, também a estética – da roupa, aos acessórios e aos videoclipes – é inspirada nessa época. Faz parte de um personagem ou é mesmo assim?

Sou mesmo assim. Talvez isso se note mais nos concertos, porque tenho o cuidado de pensar em tudo ao pormenor para dar uma experiência especial ao público, mas normalmente sou assim. Claro que não me visto de forma tão excêntrica todos os dias, no dia-a-dia ando de forma mais descontraída.

É membro dos Zanibar Aliens. De que forma se deu esse salto para um projeto a solo?

Antes da quarentena, os Zanibar fizeram uma tournée europeia. Foi nessa altura que percebi que faltava qualquer coisa na minha vida. Sempre fui guitarrista, nunca tinha experimentado cantar sozinho, embora cantasse também na banda. Percebi que podia haver espaço para ter o meu projeto a solo em português, que era algo que tinha muita curiosidade em experimentar.

Que tipo de reação tem tido do público?

Tem sido fantástico. Nunca tinha experienciado ver as pessoas a cantarem as minhas letras e a agradecerem-me por fazer música. Incentivam-me para continuar. Não me posso queixar, o apoio do público tem sido maravilhoso. São os meus queridos fãs [risos].

Na banda canta em inglês, mas no seu projeto a solo optou por cantar em português. O que é mais desafiante para si?

As pessoas têm tendência para achar que cantar e compor em português é mais difícil, mas eu acho que é igual, dá o mesmo trabalho. Acho que existe essa perceção porque há muito mais consumo de música anglo-saxónica. Claro que temos uma grande cultura musical em Portugal, mas em termos de dimensão e de consumo, a nível mundial, não há comparação. Temos muito a ideia de que há coisas que em português soam mais “foleiras”. Eu dizer ‘amo-te’ em português parece mais intenso, em inglês tem outra leveza.

Quais são as suas maiores referências musicais?

Ouço um pouco de tudo. Gosto de consumir todo o tipo de música, não consigo eleger um disco preferido. Adoro a cultura musical dos anos 80, mas também gosto de coisas mais atuais. O meu Spotify é uma grande mistura de géneros musicais.

“Este EP reflete a experiência da pandemia, mas ao mesmo tempo é uma lufada de ar fresco, uma pop dos anos 80 mas moderna”

As suas músicas são leves, com letras simples. Em que se inspira?

Na minha vida. Naquilo que quero ser e no que quero partilhar com as pessoas. Apesar de ser novo já vivi muita coisa, acho que tenho muito para dizer. Há algumas coisas na minha vida que posso partilhar com os outros. Depois as pessoas avaliarão se se identificam com isso ou não. Mas também depende muito da canção, do que ela pede. Se pede uma letra mais séria eu correspondo, se pede algo mais descontraído eu tento dar isso. Passa muito pelo que a melodia pede e pelo que estou a sentir na altura.

Disse, numa entrevista, que gostava de “roçar o foleiro”. Não é difícil saber onde é a fronteira?

Estava a referir-me ao meu visual [risos]. Nos anos 80, esse visual não era considerado “foleiro”, era normal, era assim que as pessoas se vestiam. Na verdade, não o considero assim, parece-me até bastante cool [risos]. Mas não estou muito preocupado com o que as pessoas pensam sobre o que visto, não tenho medo de ser quem sou.

Em 2020, lançou dois EPs: Teorias do Bem Estar e Modéstia à Parte, para além de alguns singles. A pandemia não afetou o seu processo criativo…

Houve momentos em que me questionei quando é que a pandemia iria acabar, quando é que eu poderia voltar a pisar um palco novamente, mas, entretanto, as coisas começaram a abrir, começaram a fazer-se concertos com menos lotação… Foi nessa altura que dei os primeiros concertos a solo. Nesse sentido, foram fantásticos e foi uma ótima experiência. Claro que a pandemia foi um período terrível, até por todos os concertos que tivemos de cancelar, mas consegui ter tempo para me dedicar à minha música, lançar os EPs e escrever este novo trabalho, Mãos Atadas.

Mãos Atadas é o seu terceiro EP. Como define este trabalho?

Fala sobre essa experiência da pandemia, de nos sentirmos impotentes perante as circunstâncias. Reflete aquilo que eu sentia na altura, mas ao mesmo tempo é uma lufada de ar fresco, uma pop dos anos 80 mas moderna, uma evolução dos dois EPs anteriores.

Depois de ter lançado três EPs e alguns singles impõe-se perguntar: para quando o primeiro álbum?

Na realidade, este EP podia ter sido um disco, se eu tivesse juntado mais duas ou três músicas. Há uma vontade minha de não o fazer, não quero estar a meter músicas onde elas não fazem sentido. Quando estou a pensar num novo trabalho faço 20 músicas, por exemplo, e há cinco que passam e que se transformam num EP. Prefiro trabalhar assim a estar a forçar um álbum com várias músicas que sei que não encaixam ali. Mas nunca planeio nada, está tudo em aberto. Quem sabe será o próximo projeto a sair?