Os dez livros de Natal

Uma seleção à medida da magia da quadra

Os dez livros de Natal

“Terias imaginado maior esse menino? // O que é a grandeza? Através de toda a medida / pela qual Ele passa, se traça o seu vertical destino.” Três belíssimos versos do poema Natal, de Rainer Maria Rilke, inspiram a seleção de uma dezena de livros que têm a Natividade, a vida de Cristo ou o espírito de Natal como tema.

Para além do citado Rilke, nesta seleção podemos encontrar Guy de Maupassant, David Mourão-Ferreira, José Saramago, Sophia de Mello Breyner Andresen, Alexandre Nobre Pais, Charles Dickens, Truman Capote, um conjunto de histórias escolhidas por Vasco Graça Moura e a arte da pintora Paula Rego.

Rainer Maria Rilke

A Vida de Maria

Publicado em 1913, Vida de Maria constitui um ciclo completo sobre a figura da Virgem Maria. A sequência dos poemas segue uma cronologia que acompanha os seus momentos mais significativos, orientada pelas representações plásticas de dois manuais da arte do leste europeu: o Manual de Pintura do monge pintor Dionísio do Monte Athos e o Paterikon do Mosteiro da Caverna de Kiev, sobre a pintura de ícones. A Bíblia e a Legenda aurea de Jacobus de Voragine constituem as fontes principais do texto. Tal como nas Elegias de Duíno, Rilke opera uma síntese poética do seu diálogo com formas de arte tanto ocidentais, como orientais. Portugália Editora

Guy de Maupassant

Dois Contos

Os contos Uma Consoada e Noite de Natal, de autoria de um dos maiores expoentes do género, Guy de Maupassant, pertencem ao volume Intitulado Mademoiselle Fifi, publicado em 1882. O primeiro apresenta um tema manifestamente macabro e o segundo surge repleto de humor. Deliciosas pequenas narrativas, bem representativas do espírito do autor, tal como José Saramago, tradutor e prefaciador destes contos, o definiu: ”truculento, capaz de escárnio, destruidor de conformações sociais e morais.” Relógio D’Água

Paula Rego

Ciclo da Vida da Virgem Maria – Capela do Palácio de Belém

O sagrado e o profano

Paula Rego foi convidada, em 2002, a criar um ciclo de oito quadros alusivo à vida da Virgem Maria destinado a ocupar a antiga capela de Nossa Senhora de Belém, na residência oficial do Presidente da Republica. A pintora opera, com este surpreendente conjunto, uma extraordinária síntese entre o sagrado e o profano, entre o bíblico ou o mítico e o quotidiano. Esta magnífica publicação ajuda-nos a entender melhor o verdadeiro significado deste notável ciclo de pinturas: um diálogo complexo e inspirado entre o património cultural de que somos herdeiros e as vivências de Paula Rego enquanto mulher e artista. Museu da Presidência da Republica

David Mourão-Ferreira

Cancioneiro de Natal

Iniciado em 1960, e que o autor considerava uma “obra “aberta” ou “em suspenso”, Cancioneiro de Natal foi finamente concluído com um poema de 1995, Som de Natal. Nesta coletânea de poemas, escritos entre 1960 e 1986, David Mourão-Ferreira evoca as memórias de infância, a figura inspiradora de Jesus e o mistério do nascimento, propõe uma ideia de despojamento e partilha e constata, com ironia, como o mundo dos homens se afastou do espírito do Natal. Perspetiva, por fim, um tempo sem tempo que se eterniza depois da morte: “Um tempo em que o Nada retome a cor do Infinito.” Assírio & Alvim

Sophia de Mello Breyner Andresen

Noite de Natal

Joana não tem irmãos e brinca sozinha. Um dia, conhece Manuel, “todo vestido de remendos”, e convida-o a visitar o seu magnífico jardim. Na noite de Natal, lembra-se do amigo, pobre e sem presentes. Guiada por uma estrela, atravessa a floresta e leva-lhe o que recebeu. Celebrado conto infantil sobre o tema da amizade e da partilha e sobre o verdeiro significado do Natal, foi sucessivamente ilustrado por Maria Keil, José Escada, Júlio Resende, e Jorge Nesbit. Porto Editora

José Saramago

O Evangelho Segundo Jesus Cristo

 Poucos livros fraturaram tanto a sociedade portuguesa como O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991). Os sectores católicos consideraram-no blasfemo; a Associação Portuguesa de Escritores atribui-lhe o Grande Premio de Romance e Novela. O governo, num ato de censura, riscou o livro da lista de candidatos ao Prémio Literário Europeu. Zangado, o escritor partiu para Lanzarote. Em 1998, recebeu o Prémio Nobel de Literatura. Polémicas passadas, o romance permanece como um dos melhores do autor e, das suas páginas, ressalta um Cristo da mais profunda humanidade. Porto Editora

Charles Dickens

Um Cântico de Natal

William Thackeray comentou (com um ponta de inveja?) que os livros de Charles Dickens eram escritos para um público de adultos com mentalidade de crianças. Dickens agradeceu a observação e declarou: “Precisamente. Escrevo para a espécie humana”. Nenhuma das obras do autor parece corresponder melhor a esta premissa do que Um Cântico de Natal. A história do Sr. Scrooge, um homem avarento que abomina a época natalícia, transformado pela vista de três espíritos, tornou-se um dos maiores clássicos de Natal, amado por sucessivas gerações de leitores de todas as idades. Clube do Autor

Truman Capote

Um Natal

Profundamente diferente do estilo objetivo e documental de A Sangue Frio, a mais famosa narrativa de Truman Capote, o conto Um Natal é um texto poético, intimista e de cariz autobiográfico. Um rapazinho, filho de pais divorciados, entregue aos cuidados de uma velha prima numa pequena cidade do Alabama, evoca a experiência de um Natal que se viu obrigado a passar com o pai, que mal conhece, em Nova Orleães. Uma comovente narrativa sobre um desencontro afectivo e o fim das ilusões de infância. ASA

Alexandre Nobre Pais

O Presépio em Portugal

O historiador Alexandre Nobre Pais, Mestre em Presépios Portugueses de Barro do Século XVIII, reúne, num belíssimo álbum profusamente ilustrado, alguns dos mais importantes presépios nacionais, incluindo de diferentes coleções particulares. Os Presépios de Barro reúnem duas das principais áreas artísticas de interesse do autor: a escultura e a faiança. Neste documento raro da bibliografia portuguesa fique a conhecer algumas representações inesperadas nestes tradicionais conjuntos de arte sacra como a Guerra de Tróia, cenas de caçadas, jogos de cartas ou uma fila de cegos. Caleidoscópio

Vasco Graça Moura e outros

Gloria in Excelsis – As Mais Belas Histórias Portuguesas de Natal

Vasco Graça Moura escreveu num poema evocativo do Natal: “na mais pobre semente a intensa dança / de tempo adulto e tempo de criança”. Neste volume seleciona mais de 40 histórias natalícias de autoria dos grandes clássicos portugueses dos séculos XIX e XX. Textos de Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, José Régio, Vitorino Nemésio, Miguel Torga, Alves Redol, Sophia de Mello Breyner, Jorge de Sena, José Saramago, Natália Nunes, Maria Ondina Braga, Isabel da Nóbrega e José Eduardo Agualusa, entre muitos outros. Quetzal