12 filmes imperdíveis no LEFFEST

Em antestreia no Lisbon & Sintra Film Festival

12 filmes imperdíveis no LEFFEST

Nesta 15.ª edição do LEFFEST - Lisbon & Sintra Film Festival são exibidas mais de 100 obras cinematográficas, entre elas 11 na secção Em Competição - que conta no júri com Emir Kusturica, J.M. Coetzee, Maria Speth, Ana Luísa Amaral e Dolores Chaplin - e 14, Fora da Competição. A Agenda Cultural de Lisboa destaca 12 obras em antestreia que vão, seguramente, marcar a temporada cinematográfica nos próximos meses.

O LEFFEST está de regresso para a 15.ª edição com um programa ambicioso que apresenta em antestreia muitos dos filmes mais aguardados da temporada e que conta com a presença de vários cineastas, músicos e convidados especiais. Homenagens e retrospetivas fazem também parte da programação, contemplando, entre outras personalidades, Jane Campion, Ryûsuke Hamaguch, Cristi Puiu e Rodrigo Areias. Este ano celebra-se ainda a cultura Rom (da qual fazem parte os povos roma) com um programa especial que inclui música, cinema, literatura e artes plásticas.

Em Competição

A Night of Knowing Nothing, de Payal Kapadia

Primeira longa-metragem, da cineasta indiana Payal Kapadia teve estreia, este ano, no Festival de Cannes, na Quinzena dos Realizadores. O filme, à semelhança das curtas anteriormente desenvolvidas pela realizadora, desvenda questões sociais e políticas que assombram a Índia. Através de memórias, sonhos e ansiedades são reveladas injustiças, preconceitos, tradições e crenças culturais. Uma estudante do Instituto de Cinema e Televisão da Índia, troca cartas com o namorado, que a irá abandonar por exigência da família, uma vez que ela pertence a uma casta inferior; estudantes fazem greve na escola contra a nomeação de um novo diretor, ator de televisão e cinema comercial, militante do partido do governo. Cruzando realidade e ficção esta é também uma obra em defesa de um cinema livre.

Ouistreham, de Emmanuel Carrère

Emmanuel Carrère, escritor francês, regressa à realização depois de um interregno de 16 anos. Carrère faz uma adaptação livre do livro de não ficção da jornalista francesa Florence Aubenas, Le da Quai de Ouistreham (uma crónica social e uma denúncia das condições instáveis e exaustivas do trabalho em empresas de limpeza). Juliette Binoche é a protagonista desta história que segue uma escritora infiltrada no mundo do negócio dos trabalhos de limpeza, com o objetivo de investigar e conhecer a realidade da precariedade laboral na sociedade francesa. O filme venceu no Festival San Sebastián 2021 o Prémio do Público para Melhor Filme Europeu.

Red Rocket, de Sean Baker

Depois do aclamado Florida Project, Sean Baker está de volta com Red Rocket um filme novamente centrado nos que são marginalizados e vivem nas franjas da sociedade americana. Baker conjuga com mestria, humor e drama para caracterizar uma realidade angustiante. A narrativa acompanha uma estrela, em declínio, do cinema porno que regressa à sua cidade natal (Texas City), para pedir à ex-mulher que o acolha em sua casa por uns tempos. Parte do elenco é composto por não atores, no entanto o protagonista, Simon Rex, ator americano mais conhecido por participar em sitcoms de adolescentes e em filmes leves como Scary Movie, apresenta-se aqui num registo muito diferente do habitual, que tem merecido o elogio da crítica.

Unclenching The Fist, de  Kira Kovalenko

A russa Kira Kovalenko conta uma história de sofrimento e trauma. Numa antiga cidade mineira da Ossétia do Norte, a jovem Ada, uma das muitas vítimas do cerco escolar de 2004 em Beslan, levado a cabo por chechenos que exigiam a retirada da Rússia do seu país, é mantida numa redoma sufocante pelo pai. A recuperar do trauma proveniente do ataque, Ada procura escapar ao domínio excessivo da família que ama mas que planeia abandonar. As montanhas que envolvem a cidade e que servem de cenário à narrativa, o corpo marcado e ferido de Ada são a metáfora perfeita de uma nação desolada que, à semelhança da adolescente, precisa de se libertar. O filme venceu no Festival de Cannes o Prémio Un Certain Regard.

Fora da Competição

A Hero, de Agashar Farahid

O realizador iraniano, que já arrecadou dois Óscares na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, apresenta o seu mais recente filme A Hero, vencedor do Grande Prémio do Júri, em Cannes e que é novamente candidato ao Óscar. A história segue Rahim, um homem que foi preso por não conseguir pagar uma dívida. Durante uma saída precária de dois dias Rahim tenta resolver o problema que o colocou na atual situação, mas uma escalada de mal-entendidos e mentiras vai levá-lo a um maior desespero. De regresso ao país de origem, o cineasta volta a recriar um enredo estimulante, onde intriga, moral e crença popular se conjugam e oferecem um retrato do dia-a-dia do Irão contemporâneo.

Benedetta, de Paul Verhoeven

Com uma obra que atravessa várias gerações e géneros, Paul Verhoeven é uma figura incontornável do cinema atual. No seu mais recente trabalho adapta para cinema o livro Immodest Acts: The Life of a Lesbian Nun in Renaissance Italy, da historiadora americana Judith C. Brown. Bendetta é uma reconstrução da história da abadessa italiana do século XVII Benedetta Carlini, que teve visões de cristo e que viveu um caso real de homossexualidade no contexto de alta hierarquia monástica. No filme, onde o erotismo é um elemento marcante, é apresentado um retrato da vida religiosa renascentista, das intrigas e políticas da igreja, permitindo uma reflexão sobre a relação entre fé e sexualidade.

Correu Tudo Bem, de François Ozon

Depois de Graças a Deus (2018), onde abordava o abuso sexual de menores por parte de membros da Igreja Católica, François Ozon regressa a temas controversos. Em Correu Tudo Bem o realizador centra-se na morte assistida. André, de 85 anos, sofre um acidente vascular cerebral e a sua filha Emmanuèle corre para junto dele. Na cama de hospital, doente e com metade do corpo paralisado, André pede à filha que o ajude a pôr fim à vida. O filme conta com excelentes interpretações de André Dussolier e de Sophie Marceau, naquela que é a primeira colaboração da atriz com o realizador.

Crónicas de França, do Liberty, Kansas Evening Sun, de Wes Anderson

A mais recente obra de Wes Anderson, filme de abertura do LEFFEST, presta homenagem aos editores e jornalistas destemidos de revistas literárias similares a uma The New Yorker, que davam aos seus colaboradores uma liberdade que nos dias que correm está longe de acontecer. A história, uma paródia nostálgica, ambientada numa cidade fictícia francesa no século XX, apresenta-se como uma espécie de antologia de curtas-metragens assente nas reportagens dos escritores da revista. Anderson usa, mais uma vez, o humor de forma subtil e irónica. Visualmente o filme segue o estilo único e criativo do realizador, onde a conjugação da cor e adereços resulta em quadros meticulosos, elegantes e divertidos. O filme conta ainda com um elenco de luxo que inclui Timothée Chalamet, Elizabeth Moss, Bill Murray, Christoph Waltz, Tilda Swinton, Edward Norton e Benicio del Toro.

Mães Paralelas, de Pedro Almodóvar

O premiado realizador espanhol Pedro Almodóvar volta a trabalhar com Penélope Cruz, neste drama que tem a maternidade como figura central. Segundo o cineasta esta é a personagem mais difícil e dolorosa que Penélope Cruz já interpretou e o resultado é esplendido. A grande revelação do filme é a jovem Milena Smit, com quem Cruz contracena. O filme conta a história de duas mães que se encontram no hospital para o nascimento dos filhos. As duas são solteiras e para ambas a gravidez foi um acidente. Janis, uma mulher mais velha, está contente e não se arrepende, mas Ana, uma adolescente, está assustada e infeliz. Nos corredores do hospital cresce a amizade entre ambas, algo que acaba por evoluir e complicar-se, alterando para sempre o curso das suas vidas.

The Lost Daughter, de Maggie Gyllenhaal

A atriz e produtora Maggie Gyllenhaal adapta ao cinema o romance homónimo, de Elena Ferrante, naquela que é a sua estreia na realização. A história segue Leda, uma solitária professora de Inglês, que decide passar férias numa vila costeira no sul de Itália. O seu sossego acaba quando surge uma família de desconhecidos, que a faz reavivar as memórias traumáticas de escolhas que fez enquanto mãe. O filme estreou no Festival de Veneza onde foi bem recebido pela crítica, acabando por ganhar o prémio Osella de Ouro para o Melhor Argumento. Olivia Colman é a protagonista deste drama que conta também com Dakota Johnson e Peter Sarsgaard no elenco.

The Card Counter: O Jogador, de Paul Schrader

Um dos filmes mais antecipados do ano, marca também o regresso do argumentista e realizador veterano: Paul Schrader. Em The Card Counter, Oscar Issac interpreta um ex-militar com um passado misterioso que, depois de ter estado preso, conta cartas (uma estratégia de jogo ilícita) para ganhar a vida. Quando se cruza com um jovem com quem partilha um inimigo, resolve ajudá-lo numa tentativa de redimir o passado. Neste thriller de vingança e redenção, Schrader volta às questões da culpa e expiação sempre tão presentes na sua obra.

Pathos Ethos Logos, de Joaquim Pinto e Nuno Leonel

Com um total de 641 minutos, a trilogia Pathos Ethos Logos, de Joaquim Pinto e Nuno Leonel, está dividida em três capítulos: Pathos que decorre em 2028, centrado em Ângela; Ethos, em 2017, que se foca em Rafaela; e Logos, cuja ação decorre em 2037, em ambientes apocalípticos, mas que recua depois a outro tempo, à vida de Fabiana e Cláudio. A história segue assim três mulheres de diferentes gerações e origens que se cruzam, trazendo experiências e acontecimentos da vida real para o âmago de cada personagem. A dupla inspirou-se e cruzou textos de Víbia Perpétua, Vittoria Colonna, Simone Weil, Sófocles, Da Vinci, Camões, Padre António Vieira e Pessoa. Sobre Pathos Ethos Logos disse Luís Miguel Cintra: “É o mais camaleónico dos filmes. E, no entanto, tem a sua intensíssima arrumação. Concluo exaltado: isto sim, este é já um cinema novo.”

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