A última temporada de Tiago Rodrigues

Diretor artístico do D. Maria II apresenta programação para os próximos meses

A última temporada de Tiago Rodrigues

Naquela que é a derradeira temporada de Tiago Rodrigues à frente do Teatro Nacional D. Maria II, o dramaturgo e encenador deixa bem vincadas as principais marcas de quase sete anos como diretor artístico. Dos mais notáveis criadores do teatro português e europeu aos nomes mais emergentes, Rodrigues não esquece a missão de divulgação plural dos grandes clássicos, nem os símbolos vivos da memória teatral do país, como Eunice Muñoz que será homenageada a 28 de novembro na Sala Garrett, precisamente 80 anos depois de ali se ter estreado profissionalmente como atriz.

A menos de um ano de assumir a direção artística do Festival d´Avignon, Tiago Rodrigues prepara-se para passar a “pasta” ao também ator, encenador e dramaturgo Pedro Penim, que assumirá, já a partir do próximo ano, a condução dos destinos do Teatro Nacional D. Maria II (TNDM II). Para os próximos meses, Rodrigues preparou uma programação que compreende cerca de três dezenas de produções, muitas delas prometendo ser momentos altos da temporada cultural lisboeta. O arranque da Temporada 2021/2022 acontece já no próximo dia 23, com a estreia mundial de Andy, a primeira incursão do cineasta norte-americano Gus Van Sant no teatro.

Como sublinha Rodrigues, “esta é uma temporada para encapsular as anteriores”, sublinhando e consolidando aquela que tem sido a matriz do TNDM II desde o último trimestre de 2014, quando assumiu funções. Ou seja, um teatro “aberto e plural” que não se limita às paredes do edifício do Rossio e se estende em rede pelo país e o mundo, um teatro que sublinha “o património literário e dramático da humanidade”, embora esteja sempre aberto às “novas palavras”, através das cada vez mais “plurais escritas do teatro contemporâneo.”

A programação gizada para a atual temporada é particularmente representativa de todas essas características. Há Gil Vicente (Pranto de Maria Parda segundo Miguel Fragata), Dante (o capítulo final, ou seja, o Paraíso, do tríptico A Divina Comédia, pelo Teatro O Bando) ou Molière (a assinalar os 400 anos do nascimento do comediógrafo francês, Tónan Quito dirige O Tartufo, no âmbito do projeto Nós). E por falar em clássicos, há também o muito aguardado O Cerejal, de Anton Tchékhov (9 a 19 de dezembro), protagonizado por Isabelle Huppert e dirigido por Tiago Rodrigues, numa grande coprodução entre o TNDM II e vários teatros franceses (com o Odéon-Théâtre de l’Europe, à cabeça).

A peça de grande sucesso de Tiago Rodrigues “Catarina e a beleza de matar fascistas” regressa em 2022. ©Pedro Macedo

Pelo TNDM II vão ainda passar as mais recentes criações de alguns dos mais consagrados criadores e companhias portuguesas – como Joana Craveiro e o Teatro do Vestido (Juventude Inquieta), Miguel Seabra e o Teatro Meridional (Ilhas), Jorge Andrade e a mala voadora (OFF e Cornucópia) ou Nuno Cardoso e o Teatro Nacional de São João (Espectros de Ibsen) – a par de algumas das vozes mais emergentes do teatro português da atualidade – Os Possessos, com uma criação de Catarina Rôlo Sagueiro e Leonor Buescu (Ainda Marianas, a partir das Novas Cartas Portuguesas), a Aurora Negra de Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema (Cosmos) e Sofia Santos Silva, vencedora da quarta edição da Bolsa Amélia Rey Colaço, promovida pelo TNDM II (Another Rose). Destaque ainda para novas criações de Pedro Gil (O Inesquecível Professor), Isabel Abreu (com o projeto online Diários da Peste), Cláudia Lucas Chéu e Albano Jerónimo (Orlando), Hotel Europa (Esta é a minha história de amor) e Marta Carreiras e Romeu Costa (Maráia Quéeri).

No plano internacional, e para além do TNDM II continuar a ser palco de acolhimento de excelência de diversos espetáculos integrados no Alkantara Festival, FIMFA Lx, Festival de Almada ou no novíssimo Feminist Futures Festival (projeto em rede que alia 11 instituições de igual número de países em torno da criação feminista), os grandes destaques vão para a estreia em Portugal do espetáculo Saigão, escrito e encenado por Caroline Guiela Nguyen, e que se tornou, desde a estreia em 2017, um dos maiores sucessos de público e de crítica em França; e para o regresso do coreógrafo congolês Faustin Linyekula com o inédito Lisbon, My Lisbon. Nota ainda para o reagendamento de O Silêncio e o Medo, arrojada peça em torno da cantora norte-americana Nina Simone, assinada por um dos mais promissores autores do atual teatro europeu, o francês David Gelson.

A temporada é ainda marcada por regressos a palco de várias espetáculos que conquistaram o público nos últimos tempos. Marlene Monteiro Freitas volta a apresentar Bacantes – Prelúdio para uma purga e António Fonseca volta à integral de Os Lusíadas. Em junho do próximo ano, e depois de correr o país e alguns dos principais palcos da Europa, Catarina e a beleza de matar fascistas, a aclamada e aplaudida peça de Tiago Rodrigues, sobe ao palco da Sala Garrett para uma curtíssima temporada (6 a 10 de julho de 2022).

Mas, a esse propósito, há uma boa nova, sobretudo para quem acusa as salas de espetáculos das “temporadas relâmpago”: já em janeiro próximo nasce a parceria D. Maria Matos que, unindo o TNDM II ao Teatro Maria Matos (atualmente gerido pela Força de Produção), visa prolongar “a vida dos espetáculos na cidade”. A peça Última Hora, escrita por Rui Cardoso Martins, encenada por Gonçalo Amorim e protagonizado por Maria Rueff e Miguel Guilherme, é a primeira a merecer uma temporada extra.

Toda a programação, incluindo outros espetáculos programados e as mais variadas iniciativas do TNDM II, encontra-se disponível aqui.