Dez sessões imperdíveis no IndieLisboa

As sugestões de Carlos Ramos e Anastasia Lukovnikova

Dez sessões imperdíveis no IndieLisboa

Por ocasião do IndieLisboa, que decorre de 21 de agosto a 6 de setembro, a Agenda Cultural de Lisboa desafiou o diretor e programador Carlos Ramos e a programadora Anastasia Lukovnikova a elegerem, na vasta programação, alguns dos momentos que consideram imperdíveis e prometem deixar marca nesta 18.ª edição do festival.

O IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema acontece este ano, excecionalmente, no verão, ocupando ao longo de 15 dias o Cinema S. Jorge, Culturgest, Cinema Ideal e Cinemateca Portuguesa com a exibição de obras que estão, grande parte delas, fora do circuito comercial de exibição. Esta 18.º edição apresenta nas várias secções inúmeras estreias internacionais e nacionais, uma retrospetiva da cineasta francesa Sarah Maldoror e um programa dedicado ao realizador colombiano Camilo Restrepo.

As sugestões de Carlos Ramos, diretor e programador

The Sparks Brothers, de Edgar Wright, EUA, 2021, 140’

1 setembro, Cinema São Jorge | Sala Manoel de Oliveira

Diz-se que os Sparks são a banda favorita da tua banda favorita. Um segredo bem guardado para alguns, um perfeito desconhecido para outros. A verdade é que são uma das bandas mais criativas e influentes da história da música, ainda hoje, apesar de mais de 50 anos de carreira. Há pouco mais de um mês estreou o novo filme de Leos Carax, Annette, um musical com argumento e música original da banda e para quem se queira iniciar na música da banda nada como ouvir a obra prima Lil’ Beethoven. Os irmãos Ron and Russell Mael reinventam-se de ano para ano, não são catalogáveis e os seus concertos são um cocktail de humor, energia e classe. Este documentário traça finalmente a história da banda num formato nada convencional, como não podia deixar de ser para quem conhece os Sparks e o realizador, Edgar Wright, também ele de culto (Scott Pilgrim vs the World).

Boca do Inferno – Curtas

2 setembro, Jardim da Biblioteca Palácio Galveias
“Flex” de David Strindberg e Josefin Malmen

Aqui está um dos segredos mais bem escondidos do IndieLisboa. A Boca do Inferno é a secção do festival mais selvagem e as curtas desta secção são as mais livres, divertidas e assustadoras. Habitualmente são vistas para lá da meia-noite, durante uma maratona de filmes que acaba por volta das seis da manhã. Com a pandemia, a maratona Boca do Inferno está suspensa, mas pela primeira vez vão poder ser vistas numa sessão ao ar livre. Lutas sangrentas por um prato de comida típica, macacos do nariz que não saem dos dedos, monstros dentro de motores de carros, o fim do mundo, fantasmas que não aceitam o fim de uma relação, culturistas bizarros, o pior palhaço possível para uma festa de anos e um musical de nerds intergalácticos. Um cocktail explosivo para tomar em noite de lua em quarto minguante.

Competição Internacional de Curtas 6

4 setembro, Culturgest | Pequeno Auditório
“Tracing Utopia” de Catarina de Sousa e Nick Tyson

O IndieLisboa é um festival generalista de longas e curtas metragens e orgulha-se de dar a mesma atenção e importância a ambos os formatos nas várias secções do festival. A competição internacional é uma secção composta por primeiras, segundas e terceiras obras. A curta metragem é o formato de experimentação por excelência, permitindo uma liberdade narrativa e estética sem par. O programa 6 da competição é um exemplo da diversidade de formas e narrativas que pontuam o festival. Uma ficção filmada em película sobre o calor e corpos pendurados nas árvores a comer mangas, uma animação melancólica sobre uma amizade tóxica, um filme abstracto criado a partir de vídeos de satisfação instantânea encontrados na internet e um documentário sobre os sonhos e desejos de um grupo de adolescentes queer que vê o mundo com olhos diferentes e esperança no futuro.

Bom Dia Mundo! (+ 6 anos), Anne-Lise Koehler / Éric Serre, França, 2019, 61’

4 setembro, Jardim da Biblioteca Palácio Galveias

Uma das missões primordiais do IndieLisboa passa pela formação de públicos, contribuindo a secção IndieJúnior para a formação estético-cultural de crianças e jovens entre os 4 meses e os 15 anos. Foi também uma das secções mais afectadas pela pandemia. Todo o trabalho com as escolas está praticamente suspenso, no que diz respeito a ver os filmes em sala. Esta edição, tal como a passada, não terá a energia dos milhares de alunos das escolas a correr e a gritar de entusiasmo pelos foyers do cinema e a aplaudir e vocalizar as emoções dentro das salas de cinema. Mas continua a haver espaço para as famílias. Bom dia Mundo! é um delicado e delicioso filme, feito com figuras de papel machê animadas em stop motion e esculturas feitas à mão em cenários meticulosamente pintados. Uma sessão ao ar livre que se traduz num momento familiar mágico.

Vieirarpad, de João Mário Grilo, Portugal, 2020, 90’

5 setembro, Culturgest | Grande Auditório

Vieirarpad marca o regresso de João Mário Grilo ao IndieLisboa. Depois de filmes sobre os arquitectos Raul Lino e Gonçalo Ribeiro Telles é a vez de um documentário sobre Maria Helena Vieira da Silva e Árpád Szenes que arquitectaram também eles uma bela história de amor. O filme promove um olhar sobre a escrita íntima dos artistas plásticos, através de uma documentação exaustiva da vida do casal no período retratado. A relação é feita de enorme sensibilidade, protecção mútua e de respeito pelo espaço e imaginário do outro. O filme tem um olhar clínico e seguro. Que existissem mais histórias de amor assim.

As sugestões de Anastasia Lukovnikova, programadora

Shiva Baby, de Emma Seligman, EUA, 2020, 77’

2 setembro, Culturgest | Grande Auditório

Uma das sete mulheres realizadoras que integram a Competição Internacional do IndieLisboa deste ano, Emma Seligman diz que o seu filme, uma comédia, evidencia “como ser uma jovem mulher é um filme de terror”. A protagonista de Shiva Baby está, de facto, horrorizada, presa numa claustrofóbica cerimónia fúnebre entre os metediços membros da família, a ex-namorada, o sugar daddy, a mulher dele e o bebé deles. Ansiedade no lugar de uma faca cortante, pausas constrangedoras no lugar de poças de sangue, e talvez um abraço e um donut para acalmar as lágrimas depois da última luta, neste terror que é a existência diária de uma mulher que revemos nas nossas vidas, mas com sentido de humor.

The Inheritance, de Ephraim Asili, EUA, 2020, 101’

2 setembro, Cinema São Jorge | sala 3
3 setembro, Culturgest | Pequeno Auditório

Na sua primeira longa-metragem, que se junta à Competição Internacional do IndieLisboa, Ephraim Asili recria as próprias experiências vividas numa comuna marxista. The Inheritance retrata o dia-a-dia de um colectivo negro na Filadélfia em toda a sua glória de recitais de poesia Afro-Americana e seminários sobre línguas sudanesas, mas também nas suas quedas e lutas mesquinhas da vida comunal. Asili faz uma mistura improvável entre performance, palestra, trabalho de arquivo, catálogo e narrativa ficcional para trazer para o primeiro plano a riqueza da experiência negra e oferecer esperança no possível (diferente) futuro.

A Cidade dos Abismos, de Priscyla Bettim / Renato Coelho, Brasil, 2021, 84’

2 de Setembro, Cinema São Jorge | Sala 3

É uma noite quente de Natal na cidade de São Paulo e duas amigas, mulheres-trans e prostitutas, celebram num bar, mas a festa não durará muito tempo. Em breve, sangue será derramado, a festa tornar-se-á num film noir e começará uma luta por um final mais feliz, neste mundo onírico demarcado pelos grãos da película. Priscyla Bettim e Renato Coelho fazem desta primeira longa-metragem, A Cidade dos Abismos, um cocktail molotov dos momentos mais expressivos do cinema Brasileiro – do surrealismo de Peixoto, às cores saturadas de pornochanchadas, passando pela acção política do ambicioso Cinema Novo. O IndieLisboa providencia o espaço para a estreia mundial do filme na competição da secção Silvestre.

Sambizanga, de Sarah Maldoror, Angola / França, 1973, 102’

1 e 8  setembro, Cinemateca Portuguesa | Sala Félix Ribeiro

Uma peça fundamental na obra da pioneira do cinema africano Sarah Maldoror, Sambizanga, que retrata o início da Guerra Angolana pela Independência, desviando a câmara do campo de batalha para iluminar a resistência invisível daqueles deixados para trás: mulheres, crianças e idosos. Com esta primeira longa-metragem, Maldoror estabelece o enquadramento para a sua futura oeuvre, onde nunca pára de questionar o mundo pós-colonial, e que torna, no processo, uma ode à negritude como modo de vida, aliada às suas políticas e arte. O IndieLisboa leva 46 obras de e sobre Maldoror até aos espectadores Portugueses, muitos destes nunca antes mostrados em Portugal, numa retrospectiva co-programada com a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema.

The Color of Pomegranates, de Sergei Parajanov, União Soviética, 1969, 78’

5 setembro, Cinema Ideal

Uma oportunidade rara de aproveitar a cópia recentemente restaurada da assombrosa obra-prima de Sergei Parajanov, The Color of Pomegranates é uma viagem inesquecível pela cultura e folclore da Arménia. O filme que retrata a vida do trovador do séc. XVIII Sayat-Nova através de uma série de tableaux vivant, que transplantam a poesia para a narrativa visual de forma única. O filme integra um programa no festival composto por quatro outros filmes que trabalham com géneros literários na sua base: um conto (2001: A Space Odyssey), uma peça de teatro (Enrico IV), um romance (Fahrenheit 451), uma novela (Morte a Venezia), num programa realizado em parceria com o festival literário Lisboa 5L.

Programação integral aqui