‘O muro que nos (re)úne’ no Prq. das Nações

MURO LX_21 dá colorido à freguesia mais oriental de Lisboa

‘O muro que nos (re)úne’ no Prq. das Nações

Sob o mote O Muro que nos (re)úne, a freguesia do Parque das Nações foi a eleita para receber a quarta edição do MURO LX_21, de 3 a 11 de julho. O Festival é uma iniciativa da Galeria de Arte Urbana da Câmara Municipal de Lisboa, iniciada em 2016, que procura celebrar a arte urbana na cidade. Este ano, cerca de 60 artistas nacionais e internacionais dão colorido à iniciativa, e nós fomos conhecer sete deles.

Os pilares da Ponte Vasco da Gama, campos de basquetebol, empenas de prédios, atravessamentos pedonais e muros de comboio vão receber intervenções de diversos artistas, alguns em estreia em Portugal, outros consagrados. Durante nove dias, é possível assistir a workshops ou visitar, a pé e de bicicleta, os novos trabalhos que prometem dar ainda mais vida àquela zona da capital. E, porque todas as intervenções de arte urbana têm um autor, damos a conhecer a cara de quem dá corpo e forma a esta arte.

©Francisco Levita/CML-ACL

Odeith

(Portugal)
www.odeith.com

Conhecido mundialmente pelo efeito tridimensional que dá às suas composições artísticas através do recurso à ilusão de ótica, Odeith marca presença dupla neste festival. Na Gare do Oriente, apresenta a exposição Obliquity, onde, pela primeira vez, se vão poder ver algumas peças anamórficas como as que costuma fazer em espaços abandonados e que normalmente só são vistas na internet ou nas redes sociais. Só quem consegue encontrar uma fábrica abandonada onde eu tenha pintado é que consegue ver a obra ao vivo, diz. A exposição tem um bocadinho de tudo: insetos, carros, umas caveirinhas de animais…. Haverá sinalização no chão, onde as pessoas terão de se situar para conseguirem ver a tridimensionalidade da peça. Convém que levem telemóvel, porque a maior parte dos efeitos só são vistos com uma câmara, acrescenta.

Para além desta mostra, Odeith também vai intervencionar um pilar da Ponte Vasco da Gama. A palavra Lisboa será ali pintada com um estilo tridimensional, sem chocar muito, simulando a presença de umas letras de pedra na ponte”, conclui.

Thiago Mazza

(Brasil)
www.thiagomazza.com.br

A minha especialidade é pintar plantas, esclarece Thiago Mazza, considerado um grande expoente do muralismo contemporâneo brasileiro e conhecido no cenário da arte urbana contemporânea pelo seu domínio na representação da fauna e da flora.

Atualmente, o seu tema de estudo são as plantas tropicais mas, para a sua intervenção no Passeio do Báltico, a primeira em Portugal, optou por trabalhar a partir das plantas daqui. A minha composição para este festival vai ser um pouco diferente, já que costumo trabalhar plantas com uma estrutura exuberante e folhagem densa. Mas aqui vou ampliar muito as flores que apanhei já em Portugal, como a papoila e a alcachofra selvagem, e vou mostrar que elas são muito mais que uns pontinhos roxos, amarelos ou vermelhos que passam despercebidos no campo. A minha intenção é que as pessoas valorizem a flora nativa e que vejam como são bonitas as flores que crescem espontaneamente num campo, num lote vago ou até num quintal abandonado”, explica o artista brasileiro.

©Francisco Levita/CML-ACL

Tomáš Junker aka PAUSEr

(República Checa)
www.instagram.com/pausrr

PAUSEr é um dos quatro nomes que formam o grupo Visegrado, coletivo de artistas da Polónia, República Checa, Hungria e Eslováquia que nasceu por ocasião do 30.º aniversário do grupo Visegrado (V4) e no âmbito da presidência polaca do V4 (julho de 2020 – junho de 2021).

Convidados para o festival através das embaixadas de cada um dos países, PAUSEr (República Checa), Fat Heat (Hungria), RCLS (dupla da Eslováquia) e Mikołaj Rejs (Polónia), unem-se para criar um mural na Avenida de Pádua. O conceito inicial era compor uma peça sob o tema da sustentabilidade e ecologia. uma vez que cada artista tem o seu próprio estilo, e por isso era difícil fazer uma peça única, decidimos fazer composições separadas e uni-las através do background e da fusão das cores e do tema, avança o artista checo. Na minha obra em específico, tento juntar o velho e o novo, o presente e o futuro, combinando temáticas tradicionais de Portugal e da República Checa, conclui.

©Francisco Levita/CML-ACL

Jacqueline de Montaigne

(Portugal)
www.jacquelinedemontaigne.com

Pintora e muralista, Jacqueline de Montaigne é uma autodidata que só em 2018 decidiu enveredar pela carreira artística a tempo inteiro. Recorrendo à arte figurativa dramática, infundida na natureza, a sua obra encontra-se representada tanto em coleções internacionais privadas como públicas e na proeminente cena da arte urbana em Portugal.

A sua intervenção artística no muro da linha do comboio no Passeio do Báltico é um lembrete de que a nossa própria existência é condicionada pela nossa capacidade coletiva de proteger a fauna e a flora e encontrar um equilíbrio para coexistir com e dentro do nosso mundo natural. O meu mural mostra duas figuras espelhadas frente a frente – uma humana, a outra composta pela fauna e flora local (magnólia, verdilhão e arctia vilica). A figura humana tem a fauna e a flora correspondentes tatuadas no seu corpo como uma ode à natureza. As duas figuras são ligadas por um círculo de cobre criado a partir de uma folha de cobre real, que simboliza a continuidade, acrescenta a artista anglo-portuguesa.

©Francisco Levita/CML-ACL

Los Pepes

(Portugal)
www.instagram.com/lospepesstudio

Los Pepes Studio é uma dupla de artistas composta por Meggie Prata e Francisco Leal que realizam a sua intervenção no Casal dos Machados. Ligados às artes plásticas e ao design, têm vindo a desenvolver um corpo de trabalho geométrico, cheio de padrões e com alguns elementos antropomórficos.

Para o espaço da Rua Padre Joaquim Alves Correia, e sob o tema da multiculturalidade, propõem-se representar todas as pessoas, independentemente da sua raça ou da sua história de vida. Focando-se no crescimento pessoal, recorrem às plantas, seres que precisam de cuidados como todos nós. Também representamos muita geometria, que é a nossa linguagem, e porque gostamos de associar os sentimentos à lógica. No centro da composição podem encontrar-se smiles, que acabam por ser uma representação de pessoas sem raça, sem nenhuma cultura associada, sem religião. Representar determinada cultura é sempre redutor, por isso optámos por representar toda a gente. E a partir desses smiles do centro, a composição cresce para fora, mostrando que não somos todos iguais e que cada um cresce e evolui de formas diferentes, concluem.

©Francisco Levita/CML-ACL

Juan José Surace

(Argentina)
www.instagram.com/juanjosurace

O consagrado artista argentino Juan José Surace foi um dos vencedores do open call artista Muro Lx_21 e estreia-se agora em Portugal com a intervenção String Quartet, uma obra que fala de integração através da cultura, nomeadamente da música. Este lugar de encontro, diálogo e compreensão entre culturas mostra cinco animais de cinco continentes diferentes a tocarem um instrumento tradicional de cada região, revela. A ideia do mural, que tomará conta de uma empena de um edifício no Casal dos Machados, é mostrar que a música requer uma coordenação que fomenta o diálogo e o entendimento entre culturas. O meu desenho, por ser realista, aborda a questão da possível união e integração através da arte que, lamentavelmente, parece ser o único ponto de entendimento entre os povos, conclui.

A viver em Barcelona desde 1998, Juan José Surace começou a dedicar-se às intervenções em espaço público e ao muralismo em 2017. Os seus murais podem ser vistos em Espanha, Argentina, Itália, EUA, França e, a partir de agora, em Portugal.

©Francisco Levita/CML-ACL

André Silva aka Trafic

(Portugal)
www.andretrafic.com

Um dos pilares da Ponte Vasco da Gama está a cargo de André Trafic, artista urbano português cuja linguagem emerge, atualmente, entre murais, azulejos e esculturas. Para a sua composição, inspirou-se no conceito de flow, que marca muito a cultura urbana. Desde o flow de um rapper a rimar, de um b-boy ou b-girl a dançar, até ao flow de umas letras em graffiti, existem movimentos e ritmos que nos criam ressonâncias e provocam sentimentos maiores que nós e que são tão pessoais e únicos que se tornam difíceis de explicar. Tentei então interpretar estes movimentos e sentimentos abstratos para formar uma imagem que transmita um sentimento crescente de união, cumplicidade e respeito como forma de homenagem a toda esta cultura urbana vibrante, diversa e audaz, afirma.

Cada trabalho de André Trafic – que desde pequeno seguiu as pisadas do seu pai, ceramista, descobrindo anos mais tarde o poder de expressão artística do graffiti – é inspirado nas dinâmicas da existência humana, quer em relações interpessoais, quer na nossa relação com a natureza e com o espaço que nos rodeia.