micro-entrevista
Susana Menezes
Um balanço de três anos de LU.CA
O LU.CA – Teatro Luís de Camões está de parabéns. Ao longo dos últimos três anos, o espaço, que apresenta e apoia a criação performativa contemporânea e a sua relação com outras disciplinas artísticas, serviu de palco a muitos espetáculos e fez as delícias dos mais novos e suas famílias. Atravessou uma pandemia e reinventou-se. Ao leme desde a sua abertura, a 1 de junho de 2018, está Susana Menezes, que nos faz agora o balanço desta jornada.
Há três anos abraçou a direção artística do único teatro municipal do país exclusivamente dedicado aos mais jovens. Como está a ser esta experiência?
Está a ser muito gratificante. Gosto do que faço e sempre me diverti a programar, a pesquisar novos enunciados e a procurar respostas nas criações artísticas, em particular dirigidas às crianças e aos jovens. Passar da programação para a direção artística de um teatro trouxe espaço para pensar no teatro como um todo orgânico e articulado entre diferentes objetos de programação, agilizou os processos e as tomadas de decisão e permitiu construir respostas para estes públicos de uma forma mais ágil e em permanente atenção ao aqui e agora, como aliás, pudemos experimentar nos últimos meses. Temos recebido muitas palavras de incentivo vindas de pais, professores e artistas. Por um lado, é satisfatório e deixa-nos a sorrir, por outro, relembra-nos a nossa responsabilidade.
Quais têm sido os maiores desafios com que se tem vindo a deparar?
Abrimos o LU.CA há três anos e, durante o último ano, estivemos a viver um tempo pouco usual. Tínhamos um programa montado para um espaço físico e tivemos de o remontar para um espaço virtual, repensando todo o programa, desenhando-o à medida das características deste novo contexto. Foi um desafio totalmente novo. Curiosamente, foi também esta mudança que nos ajudou a ultrapassar um dos grandes desafios que se colocam a um novo equipamento cultural: darmo-nos a conhecer para além do espetro previsível. Uma programação específica para online fez-nos chegar a pessoas de diferentes faixas etárias, distribuídas de norte a sul do país e ilhas. Foi um público totalmente inesperado e novo que teve contacto com o programa do LU.CA, o que nos levanta novas questões, como o que fazer para manter estas relações. Penso que, num futuro próximo, teremos uma série de novos desafios.
Qual é a sua maior preocupação aquando da escolha dos objetos artísticos a apresentar no Teatro?
A relevância, o valor artístico e o ajuste dos conteúdos ao público alvo do LU.CA. Procuro programar artistas que querem falar com as crianças ou para elas e que fazem pesquisas nesse sentido, favorecendo a construção de experiências novas e, de certa forma, marcantes. Penso que só assim é possível criar uma memória positiva nas crianças e nos jovens, favorável a novos e repetidos encontros com as artes.
Até agora, conseguiu concretizar todas as ideias que tinha para o LU.CA?
Ainda não, mas tenho um bloco de notas a que chamo Ideólogo onde junto as ideias que se vão cruzando comigo. Algumas ainda não se concretizaram, outras transformaram-se e estes tempos mais recentes obrigaram-nos, de certo modo, a mudar de ideias. Além disso, o contexto está sempre a trazer novos inputs e, por isso, quando o contexto muda nada fica como antes.
O que gostaria muito de levar ao palco do LU.CA e ainda não conseguiu?
É uma resposta quase sem fim…. Primeiro, os projetos que ficaram adiados no último ano.
Qual é, para si, o papel que a Cultura tem na formação pessoal dos mais novos?
A Cultura cria o contexto, molda as experiências e influencia o desenvolvimento das crianças. É responsável, em grande parte, pela forma como crescem e evoluem, como interagem com o mundo e se relacionam com o que está à sua volta. Aqui, a relação com as artes é fundamental para garantir um crescimento completo e rico. No entanto, não é possível quantificar com rigor o impacto que as artes e as propostas culturais suscitam na formação individual de cada criança, mas sabemos como é importante a familiarização com a Arte e a Cultura, não só pela sua interpretação e compreensão, mas porque alarga o sentido de liberdade e propõe múltiplos olhares ampliando a sua leitura.